O fenômeno dos “nem-nem”, jovens que não estudam nem trabalham




Em cada esquina, jovens desistem antes mesmo de tentar. Não por falta de vontade, mas por falta de suporte. Sem família estruturada, sem mentores, sem referências, muitos passam a enxergar estudo e trabalho como sonhos distantes.

O fenômeno dos “nem-nem” — jovens que não estudam nem trabalham — segue em patamar alarmante. Não se trata apenas de autorresponsabilidade: o Estado vira as costas, as políticas públicas não chegam a quem precisa e as oportunidades se resumem ao discurso, não à prática. Sem alternativas, muitos apostam em promessas fáceis na internet, caem em esquemas ou acabam reféns da informalidade. O resultado é previsível: pouca mobilidade social, muita frustração e caminhos perigosos abertos.

Quando alguém vence, logo vira exemplo. O velho “se fulano conseguiu, você também pode”. Mas quem conhece a realidade sabe que o milagre da exceção não pode ser regra. Para cada jovem que consegue uma chance, milhares ficam para trás, sem acesso a cursos gratuitos, mentorias ou processos verdadeiramente inclusivos.

A mudança depende de ação coletiva. Empresas que abrem portas para estágios e programas de aprendizagem reais, acolhendo a inexperiência, ajudam a romper o ciclo. Políticas públicas que priorizam educação técnica, saúde mental e inclusão produtiva fazem diferença para quem atravessa a cidade em transporte precário atrás do primeiro emprego. É papel da sociedade valorizar e divulgar iniciativas que mostrem ao jovem que ele pode ser protagonista, não exceção.

Não acredito em soluções milagrosas. O básico, bem feito, já mudaria muita coisa: menos burocracia, mais incentivo ao primeiro emprego, acesso à informação e redes de apoio que apontem caminhos. Política não é cadeira nem cargo; é cuidar de gente. É criar condições para que cada um construa o próprio futuro sem depender de sorte.

E você, leitor, o que está disposto a fazer para que menos jovens sejam apenas estatísticas e mais deles tenham, de fato, um futuro? O Brasil é dos jovens, e o trabalho precisa estar dentro desse contexto, com espaço para quem acredita que, com apoio, ninguém precisa ser mais um na estatística da frustração. Quando o apoio acontece, o futuro vai bem.


Fonte: Marcos Clementino - jornalista, empresário, investidor-anjo e autor do livro “O Tubarão da Berrini”