Profissionalização no segmento Pet não é apenas uma exigência de mercado




O perfil das famílias brasileiras está mudando rapidamente, e isso vem transformando a forma como consumimos. Se antes o lar era marcado por famílias numerosas, hoje vemos um movimento de redução no número de pessoas por domicílio. Dados do IBGE mostram uma queda de 3,6 na média no início dos anos 2000 para 2,8 em 2022. Ao mesmo tempo, cresce o espaço ocupado pelos animais de estimação. Segundo a Abinpet e o Instituto Pet Brasil, já são cerca de 160 milhões de pets no país, com média de 2,2 por residência. Essa mudança não é apenas numérica, pois reflete uma reorganização emocional e social dentro dos lares brasileiros. O pet preenche lacunas de afeto, companhia e propósito que antes eram supridas pela convivência familiar tradicional.

Não se trata apenas de volume, mas de mudança de comportamento. Os gastos médios com pets saltaram de R$ 8,31 em 2002-2003 para R$ 20,42 em 2017-2018, de acordo com o IBGE. Em lares com animais, esse valor chega a R$ 67,47 por mês, alcançando R$ 85,55 em casais sem filhos. Isso revela uma tendência clara de reposicionamento de prioridades no orçamento doméstico. O pet deixou de ser visto como um “custo” e passou a ocupar o lugar de membro da família. É o tutor que viaja e procura hospedagem especializada, que busca planos de saúde para garantir longevidade ao animal, que investe em itens de higiene, bem-estar e até certificação de raças. Em outras palavras, o consumo pet hoje é movido por vínculo emocional e senso de responsabilidade, não por impulso ou status.

Esse cenário abre oportunidades, mas também impõe desafios. Muitos acreditam no movimento do consumidor pet apenas por preço. Essa visão, além de ultrapassada, é perigosa. De acordo com a Abinpet, ração e saúde, que antes representavam 96,2% das despesas, hoje respondem por 70,5%. O espaço restante é ocupado por serviços e produtos premium, evidenciando que a demanda está cada vez mais diversificada. Isso demonstra que o mercado está migrando de uma lógica transacional para uma lógica relacional, na qual o cliente busca marcas que compartilhem seus valores e entendam seu vínculo com o animal. O tutor atual valoriza vínculo, experiência e qualidade. Sendo assim, um pet shop não pode se limitar a vender ração mais barata, ele precisa entregar conveniência e cuidado em cada ponto de contato. Quem vende confiança para além dos produtos, e sabe disso, sai na frente.

Há quem argumente que essa tendência pode ser restrita às grandes cidades ou às classes de maior renda. É verdade que a personalização é mais visível nesses segmentos, mas os números nacionais mostram que a transformação é mais ampla. O faturamento do setor pet atingiu R$ 74,4 bilhões em 2024, segundo o Instituto Pet Brasil, e a projeção é de R$ 77,9 bilhões em 2025. As exportações também cresceram, passando de US$ 320,5 milhões em 2020 para US$ 502,7 milhões em 2024. Esses dados revelam que a valorização do pet como parte central da família está se espalhando pelo país inteiro. Ou seja, o fenômeno não é elitista, mas cultural. O pet tornou-se um símbolo de afeto e estabilidade emocional em tempos de incerteza, atravessando classes sociais e regiões.

O alerta é claro, pois o mercado não perdoa amadorismo. Pet shops que entenderem essa mudança e se prepararem para oferecer experiências de qualidade vão prosperar. Os que insistirem em estratégias baseadas apenas em preço correm o risco de desaparecer em meio à profissionalização crescente do setor. A profissionalização, nesse contexto, não é apenas uma exigência de mercado, mas um reflexo da maturidade dos próprios consumidores. Investir em capacitação de equipes, ampliar o mix de serviços e usar dados para compreender melhor os clientes já deixou de ser diferencial e virou questão de sobrevivência.

Portanto, o novo perfil familiar brasileiro está redesenhando o mercado pet. Menos filhos e mais animais transformaram a forma de consumir, trazendo oportunidades para quem se adapta e riscos para quem ignora a mudança. O futuro do varejo pet não será definido por preço, mas por quem entende que cada atendimento reforça um laço afetivo. Marcas que cuidam desses vínculos conquistam confiança e fidelidade. Laços bem cuidados não têm concorrência. Com isso, cada interação se torna estratégica, e cada serviço, uma forma de demonstrar cuidado. O mercado recompensa quem entende o valor emocional do vínculo entre tutor e pet.



Fonte: Ricardo de Oliveira - especialista em negócios pet e fundador da Fórmula Pet Shop, empresa referência em capacitação e consultoria estratégica para pet shops em todo o Brasil.