O mercado de capitais vive um momento de transformação acelerada, principalmente no Brasil que vem adotando uma postura pró-mercado e ampliando o acesso aos investidores ao mesmo tempo em que facilita a emissão de novas formas de investimento por meio das instruções 88 e 135 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A popularização do crowdfunding de investimentos, regulamentado pela CVM, foi um passo importante ao permitir que pequenas e médias empresas captem recursos diretamente com investidores. No entanto, essa regulação cobre apenas a oferta pública, deixando de lado uma parte essencial desse processo: a estruturação dos ativos tokenizados que representam esses investimentos.
O ponto fundamental que se impõe é: quem está cuidando da base jurídica, financeira e tecnológica desses ativos? Se o crowdfunding abriu uma porta, a realidade é que o futuro dos investimentos está diretamente ligado à qualidade e solidez da tokenização. A regulação trouxe segurança ao investidor quanto à forma da captação, mas ainda não resolve a questão de como estruturar corretamente os ativos digitais que estão por trás dessas operações.
A necessidade de estruturar os ativos:
Enquanto muitos enxergam o crowdfunding como o “futuro” do acesso ao capital, ele representa apenas um pequeno passo diante de uma revolução muito maior. O futuro está nos ativos tokenizados, que permitem desde a digitalização de instrumentos tradicionais até a criação de novas formas de participação em negócios.
A complexidade dessa transformação está em garantir que cada token não seja apenas um pedaço de código, mas um instrumento jurídico, econômico e financeiro sólido. Um Equity Token, por exemplo, precisa refletir direitos acionários com clareza: dividendos, voto em assembleias, participação em ganhos de capital. Já um Token de Crédito de Energia deve estar vinculado a contratos de desempenho real, de modo a garantir retorno financeiro transparente.
Desse modo, empresas inovadoras no setor já contam com uma biblioteca jurídica de estruturas de tokens, o que evidencia que a preparação para o futuro exige muito mais do que plataformas de oferta.
Essa organização permite padronizar formatos complexos como o Token de SCP, que possibilita aportes sigilosos em empreendimentos, o Token de CCB, que digitaliza títulos de dívida tradicionais mantendo as mesmas garantias legais, além de instrumentos do agronegócio como o Token de CRA ou o Token de CPR, que levam para a blockchain títulos já consolidados nesse setor. Outro exemplo é o Token de Direito de Uso, capaz de transformar imóveis ou equipamentos em contratos digitais automatizados por smart contracts. Cada uma dessas estruturas demanda conhecimento regulatório, contábil e tecnológico para ser válida e confiável. Sem isso, os tokens não passam de meras representações frágeis, incapazes de sustentar o crescimento esperado.
O futuro ainda nem chegou:
O entusiasmo com o crowdfunding esconde um detalhe importante: o futuro dos investimentos tokenizados ainda não começou de fato. Ele só virá quando a estruturação dos ativos estiver no centro da discussão. Isso significa desenvolver padrões robustos de emissão, registro, compliance e governança.
Em outras palavras, se o crowdfunding regula a vitrine, a estruturação dos tokens organiza a loja inteira. Sem esse segundo passo, qualquer avanço será limitado. Mas com ele, abre-se a possibilidade de democratizar de fato o acesso a investimentos, trazendo liquidez, rastreabilidade, segurança jurídica e padronização para ativos de todos os setores da economia.
Assim, a pergunta deixa de ser apenas “quem pode ofertar tokens?” e passa a ser “quem está garantindo que esses tokens sejam realmente ativos estruturados e confiáveis?”.
O futuro dos mercados de capitais está em jogo, e quem estiver preparado para responder a essa pergunta será protagonista da revolução que está apenas começando.

