Nos últimos anos, o Brasil viu mais de um milhão de empresas encerrarem suas atividades, segundo dados do IBGE. Um número que impressiona e que vai além das microempresas. Há negócios médios, com bons produtos, equipes dedicadas e mercado consistente, que mesmo assim não conseguem manter as portas abertas.
É fácil culpar o ambiente externo como crises econômicas, juros altos, carga tributária, mas quem está dentro, no dia a dia da operação, sabe que os maiores riscos muitas vezes estão dentro da própria empresa. E o principal deles é ignorar o lucro como parte da estratégia.
Depois de mais de 15 anos trabalhando na reestruturação de empresas, percebi um padrão claro. Muitas tratam o lucro como algo que “acontece”, uma espécie de bônus no fim do mês e não como um resultado que precisa ser planejado. Quando isso acontece, mesmo quem fatura bem pode terminar no vermelho.
Não é exagero. Um estudo do Sebrae com a FGV mostrou que 82% das empresas que quebram não fazem controle de fluxo de caixa. Mais da metade não sabe calcular o próprio lucro com precisão. E isso acontece em negócios de todos os tamanhos.
Lucro não é uma consequência inevitável de vender bem. Ele exige gestão. Requer acompanhamento de dados, decisões bem fundamentadas, metas realistas e disciplina para manter o que foi planejado. E isso não é exclusividade de grandes corporações, é uma necessidade básica para qualquer empresa que queira crescer de forma saudável.
Quando o lucro é deixado em segundo plano, a operação entra em modo de sobrevivência. A empresa gira, mas não avança. Vira refém de decisões urgentes, de oportunidades mal avaliadas, de pressões externas. E fica vulnerável demais.
Construir uma cultura de lucro não é sobre planilhas complexas ou fórmulas mágicas. É sobre ter clareza de onde a empresa está, para onde está indo e como vai chegar lá com segurança. É isso que transforma o lucro em algo previsível e não em sorte.
Fonte: Kélen Abreu - especialista em gestão financeira e reestruturação de empresas.
