Tarifaço e o desafio de repensar o Brasil




A palavra “harmonia” tem origem no grego harmos, que significa “juntar”. Na música, harmonia representa a combinação agradável e ordenada de sons diferentes, muitas vezes contrastantes, que se complementam em uma relação dinâmica. Esse conceito pode inspirar a reflexão sobre o Brasil atual, um país diverso, cheio de desafios, mas com potencial para encontrar seu equilíbrio. 

O recente “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros acendeu um sinal vermelho na economia nacional, evidenciando mais uma vez que polaridades e divergências entre opiniões e ações oficiais nos afastam do que realmente importa: o desenvolvimento do Brasil.

Durante décadas, sinais amarelos já alertavam para a necessidade de mudança, mas continuamos ignorando esses alertas, mantendo uma economia fortemente dependente de insumos externos e buscando soluções e validações fora de nossas fronteiras. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil importa cerca de 60% dos insumos industriais utilizados na produção nacional, especialmente em setores estratégicos como tecnologia e bens de capital. Essa dependência torna a economia vulnerável a choques externos, como variações cambiais e barreiras comerciais impostas por outros países.

Não há como negar que o modelo econômico que conhecemos mudou significativamente. O novo modelo necessário ainda é desconhecido e isso provoca medo, incerteza e desconforto. O momento atual é marcado por um cenário caótico, onde as certezas se dissolvem e a desordem parece prevalecer. No entanto, reagir sem uma estratégia clara, apenas para contra-atacar, só alimenta a disputa e o descompasso. Essa postura contraria a mensagem inscrita em nossa bandeira nacional: “Ordem e Progresso”, pois a desordem impede o avanço.

Um exemplo emblemático dessa transformação pode ser observado na Coreia do Sul. Nas décadas de 1960 e 1970, o país enfrentava grande dependência externa e desafios econômicos severos. No entanto, apostou em um modelo próprio de desenvolvimento baseado em inovação, educação e fortalecimento da indústria nacional, tornando-se hoje uma das maiores potências tecnológicas do mundo. Essa trajetória demonstra que é possível transformar adversidades em oportunidades, criando um caminho singular alinhado com as próprias raízes e potencialidades.

A natureza ensina que, após um incêndio, a floresta queimada dá lugar a um novo ciclo de vida, mais verde e vigoroso. As raízes permanecem firmes, sustentando a regeneração, mesmo que a superfície mude. Assim também o Brasil precisa aceitar que o modelo antigo não existe mais, mas suas raízes e essência continuam intactas. Essa transformação exige paciência, coragem e união para que um futuro mais justo e sustentável possa florescer. Reconhecer essa conexão com nossas raízes é fundamental para construir um país renovado e próspero.

É fundamental acreditar na capacidade de repensar o país que desejamos construir. O momento exige união para cocriar um modelo próprio, colaborativo, regenerativo, justo e viável. Essa tarefa demanda coragem, ou melhor, “cor-agem”: agir com o coração. Ao aceitar a incerteza como parte do processo e agir coletivamente, será possível abrir caminhos únicos para o Brasil, alinhados à sabedoria das suas raízes.

Finalmente, este é o momento para acender o sinal verde para a verdadeira harmonia, para a ordem e o progresso. A transformação da crise em oportunidade permitirá que o Brasil construa um futuro onde seja referência no mundo, não copiando modelos externos, mas criando o seu próprio, em equilíbrio com sua riqueza natural e social, trazendo prosperidade e alegria para todos.



Fonte: Paula Mazzola - psicopedagoga, escritora e comunicadora com mais de 22 anos de atuação em filantropia e causas socioambientais. Fundadora da ASTERA, rede catalisadora de soluções baseadas na natureza (SbNs). Membro do Conselho Deliberativo da SAVE Brasil e da Comissão Agro da Board Academy. Atua nacional e internacionalmente como facilitadora em formações de liderança ecossistêmica, ESG e ODS.