Em um mercado cada vez mais sensível a oscilações macroeconômicas, entender o prêmio de risco deixou de ser um detalhe técnico para se tornar um diferencial competitivo na gestão de patrimônio. A lógica parece simples, quanto maior o risco, maior deve ser o retorno exigido, mas, na prática, o prêmio de risco não é uma constante, ele muda conforme o humor dos mercados, a direção da política monetária e a narrativa dominante entre investidores.
O cenário atual é um exemplo claro disso. Com a taxa Selic em 15% ao ano, o patamar dos juros básicos redefine o cálculo de retorno exigido para qualquer ativo. Em um ambiente de juros tão elevados, o investidor naturalmente exige prêmios muito maiores para justificar a alocação em ativos de risco. Afinal, há uma alternativa conservadora extremamente rentável e sem exposição a volatilidade. O custo de oportunidade se torna mais agressivo, e qualquer risco adicional precisa ser compensado de forma significativa.
Durante períodos de juros baixos e abundância de liquidez, o apetite ao risco cresce de forma quase automática. A sensação de que "não há alternativa" ao risco impulsiona valuations, comprime prêmios e empurra investidores para ativos mais voláteis, muitas vezes sem o devido cuidado com fundamentos. O otimismo coletivo disfarça riscos mal precificados e reduz a margem de erro. É nesse ambiente que o prêmio de risco tende a ser mais mal remunerado, onde os investidores pagam caro por ativos cuja relação risco-retorno está distorcida pelo excesso de capital.
Por outro lado, ciclos de aperto monetário, contração econômica ou incerteza fiscal elevam a aversão ao risco. Os mesmos ativos antes desejados passam a ser negociados com descontos expressivos, não necessariamente por deterioração estrutural, mas pela mudança na percepção de risco e no custo de capital. Nessas fases, o prêmio de risco se expande, criando oportunidades raras para quem mantém a disciplina e a liquidez necessárias para atuar de forma contracíclica.
Um retrato claro desse movimento está no comportamento recente dos fundos de investimento. Em junho, segundo a Anbima, os fundos registraram captação líquida positiva de R$ 13,6 bilhões, mas no acumulado do ano seguem com captação líquida negativa de R$ 37,8 bilhões. As maiores aplicações foram concentradas em classes mais defensivas e estruturadas, como os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), que captaram R$ 22,5 bilhões, seguidos pelos fundos de Renda Fixa, com R$ 9,5 bilhões, e os ETFs, com R$ 859,1 milhões. Por outro lado, as classes Multimercados, Previdência, Ações, FIP e Cambial permaneceram com captações líquidas negativas, evidenciando o movimento de fuga dos ativos mais expostos ao risco.
A leitura de ciclo torna-se, assim, essencial. O investidor sofisticado não busca apenas retorno, mas retorno ajustado ao risco. E essa avaliação não pode ser estática. Em ambientes de normalização econômica, com inflação sob controle, juros estáveis e crescimento moderado, o cenário favorece alocações mais diversificadas, com duration equilibrada e atenção à qualidade dos emissores. O prêmio de risco, nesse caso, tende a convergir para níveis mais "justos", exigindo seleção criteriosa e gestão ativa para manter a atratividade da carteira.
Em todos os cenários, a sofisticação não está em evitar o risco, mas em assumir apenas aqueles que são bem pagos. Saber distinguir entre o risco necessário e o risco excessivo é uma habilidade que separa o investidor disciplinado do oportunista momentâneo. O verdadeiro prêmio de risco não se manifesta quando os mercados estão eufóricos, mas quando poucos têm coragem de alocar capital em ativos subvalorizados, com base em fundamentos e visão de longo prazo. Mais do que nunca, a remuneração pelo risco depende da capacidade de atravessar os ciclos com lucidez. O mercado premia não quem evita o risco, mas quem sabe quando, quanto e por quê aceitá-lo.