Investidores precisam apostar em alocação estratégica




O segundo semestre de 2025 começou com um cenário macroeconômico desafiador e, ao mesmo tempo, repleto de oportunidades para quem souber diversificar com inteligência. Com PIB em recuperação moderada, Selic ainda elevada e inflação resistente, especialistas alertam que o momento exige uma revisão criteriosa do portfólio, com foco em previsibilidade, liquidez e valorização real.

O semestre exige reposicionamento e visão estratégica: “O investidor que diversificar com equilíbrio e buscar ativos com lastro real terá mais chances de superar a inflação, preservar capital e capturar oportunidades estruturais que surgem justamente em cenários desafiadores”, destaca Arthur Farache, CEO da Hurst Capital, maior plataforma de ativos alternativos da América Latina. Ele alerta que o cenário não é para apostas cegas ou para seguir modismos de mercado. “A palavra de ordem é estratégia: alocar com base em fundamentos, buscar rentabilidade acima da inflação e mitigar riscos locais com diversificação”.

Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, o cenário pede uma alocação mais seletiva, com foco em qualidade, proteção e geração de caixa.”Em um segundo semestre que começa marcado por um ambiente mais desafiador para os mercados, com inflação global ainda resistente, juros altos por mais tempo e crescentes tensões geopolíticas como o impacto das tarifas comerciais dos EUA sobre países do BRICS”, diz.

O ambiente de juros altos ainda favorece produtos como Tesouro IPCA+, CDBs de bancos médios e debêntures incentivadas, especialmente para investidores conservadores ou que priorizam previsibilidade. Para o CEO da gestora de patrimônio Hike Capital, Jonas Carvalho, as debêntures incentivadas, especialmente aquelas indexadas ao CDI, com hedge e emitidas por empresas com rating entre A e AAA devem apresentar performance destacada no segundo semestre.

A proximidade da mudança na tributação (prevista para 2026) tem gerado uma demanda recorde por esses papéis. Apenas em junho, foram R$ 37 bilhões movimentados no mercado secundário (o maior volume mensal já registrado), as emissões acumuladas ultrapassaram 132 bilhões em 2024, duas vezes o recorde anterior. “Um dos principais atrativos está na equivalência tributária: um ativo isento que rende 100% do CDI oferece uma rentabilidade líquida similar a um título tributado com retorno bruto de CDI + 2,6%, um diferencial expressivo no cenário atual e ainda depois de 2 anos (alíquota de 15%)”, explica Carvalho.

Ainda na renda fixa e seguindo a linha de produtos isentos de come-cotas e com excelente relação risco-retorno, os FIC FIDCs pulverizados têm ganhado ainda mais relevância em 2025. Com retornos líquidos na faixa de CDI + 2,5% a CDI + 3,3% e baixa oscilação, esses fundos se consolidam como alternativa eficiente à renda fixa tradicional. “Deve-se olhar para fundos que demonstrem consistência, resiliência e eficiência de risco. A carteira deve ser pulverizada, com forte controle de inadimplência e proteção robusta via subordinação”, observa Carvalho.

Lima concorda: “o mercado de crédito privado estruturado, em especial via FIDCs e CRIs de boa qualidade, deve ganhar protagonismo, oferecendo retornos superiores à renda fixa tradicional, com riscos bem calibrados quando selecionados criteriosamente”.

- Diversificar é vital:

Independente do perfil do investidor, a renda fixa permanece como a espinha dorsal do portfólio, mas sozinha não é suficiente para proteger o poder de compra a longo prazo. Segundo Farache, ativos alternativos, como precatórios, royalties musicais, ativos judiciais e investimentos estruturados em dólar, podem ampliar os ganhos. “Esses produtos oferecem rentabilidade real, previsibilidade de fluxo e menor correlação com a volatilidade dos mercados tradicionais”, afirma.

Entre os destaques estão os precatórios de pequeno valor (RPVs), com prazos mais curtos e riscos jurídicos mitigados, além de royalties de obras consolidadas, que geram pagamentos mensais e previsíveis, mesmo em cenários de baixo crescimento.

Fundos de CRI indexados à inflação, FIIs logísticos e híbridos seguem atrativos para geração de renda mensal e diversificação setorial.

Na Bolsa, a dica é privilegiar companhias com estrutura de capital mais leve, trajetória clara de desalavancagem e forte geração de caixa em relação ao valor de mercado. “Este perfil tende a ser recompensado no atual cenário de juros elevados, maior seletividade e compressão de múltiplos”, afirma o CEO da Hike Capital.

Na visão de Lima, o investidor deve priorizar setores defensivos e empresas com fluxo de caixa previsível, baixo endividamento e histórico consistente de dividendos. 

“Energia elétrica, saneamento, bancos e seguradoras devem seguir entregando resiliência. Contudo, vale lembrar que a volatilidade esperada nas commodities e no câmbio também pode abrir oportunidades táticas em exportadoras, desde que acompanhadas de proteção”, recomenda.

Já os investimentos internacionais, via BDRs, ETFs globais e fundos cambiais, também são recomendados, tanto como forma de proteção cambial quanto de acesso a economias mais estáveis.

Para o investidor conservador, a combinação ideal envolve até 70% em renda fixa, 20% em ativos alternativos e pequenas fatias em FIIs e ativos internacionais. Já os perfis moderado e arrojado devem aumentar a exposição à Bolsa, ativos alternativos e operações em dólar com aportes progressivos e foco em longo prazo. 

Segundo Farache, a composição não é rígida, mas serve como base para repensar o portfólio e foi construída com base nas recomendações de instituições como JP Morgan, BlackRock e Morgan Stanley, que reforçam a importância de diversificar entre classes tradicionais e novas oportunidades. 

“Nesse contexto, os ativos alternativos deixam de ser uma exceção e passam a ocupar um papel estratégico, contribuindo com potencial de retorno e redução de volatilidade nas carteiras”, explica Arthur Farache.


Fonte: Ana Borges