O Brasil celebra, nesta quarta-feira (13), o Dia do Economista. A data chega em um cenário de crescimento econômico moderado, juros elevados e desafios estruturais, que reforçam a importância desses profissionais na formulação de políticas públicas, no planejamento corporativo e na análise de investimentos. Mais do que interpretar números, o economista atua na construção de soluções que conciliem desenvolvimento, estabilidade e justiça social.
Com a taxa Selic em 15% ao ano, inflação acumulada de 5,23% e previsão de expansão do PIB de apenas 1,4% em 2025, a atuação técnica ganha relevância diante das desigualdades crescentes. Atualmente, cerca de 3 mil pessoas concentram quase US$ 15 trilhões em patrimônio no mundo. Esse grupo obtém retornos anuais de 7% a 9%, enquanto a produção efetiva de bens e serviços cresce apenas 2,5% no longo prazo. Esse desequilíbrio evidencia um modelo econômico em que acumular riqueza independe de gerar emprego ou produto, ampliando a pobreza na mesma proporção em que cresce a concentração de renda.
Combater esse quadro exige reconhecer que políticas de transferência de renda e inclusão social não são despesas, mas investimentos. O Bolsa Família, por exemplo, reduziu em 85% a insegurança alimentar severa, retirando 24 milhões de brasileiros dessa condição. O Prouni já beneficiou 3,4 milhões de estudantes em duas décadas, com destaque para mulheres e homens negros, promovendo mobilidade social e reparação histórica. Esses casos mostram que o crescimento com equidade é viável quando a formulação de políticas públicas integra a dimensão social como elemento central.
Mas a justiça social vai além da renda. Ela também envolve o direito à moradia, à terra e a um meio ambiente equilibrado. Tragédias climáticas e ambientais deslocam comunidades, destroem modos de vida e comprometem recursos essenciais como água e biodiversidade. O economista do século XXI precisa articular o modelo produtivo com a preservação ambiental, garantindo que o desenvolvimento não ocorra à custa da degradação dos recursos naturais nem da dignidade das populações afetadas.
Nesse contexto, o Projeto de Lei 3.178/2024, que propõe a atualização da Lei nº 1.411, ganha importância estratégica. A proposta busca modernizar o arcabouço legal da profissão, reforçando a segurança jurídica e ampliando os instrumentos de atuação dos economistas. O texto visa esclarecer competências, assegurar responsabilização técnica e valorizar o trabalho realizado em benefício da sociedade. Preserva, ainda, o espaço de atuação de outras categorias, respeitando os limites legais e evitando a sobreposição indevida de funções.
Se aprovado, o projeto trará maior transparência e fortalecerá a atuação dos economistas em setores estratégicos. No serviço público, suas atribuições passariam a ser reconhecidas como atividades típicas de Estado, garantindo independência funcional e maior autonomia técnica para atuar no Banco Central, ministérios, agências reguladoras, think tanks e organismos multilaterais. Trata-se de uma evolução coerente com o histórico da profissão, que, desde a década de 1930, contribui para o planejamento e a formulação de políticas econômicas fundamentais ao país.
Celebrar o Dia do Economista é, portanto, mais do que prestar homenagem: é reafirmar seu papel como agente de transformação, capaz de unir rigor técnico, visão estratégica e compromisso social. Em um Brasil que enfrenta juros altos, baixo crescimento e desafios ambientais e distributivos, a economia precisa ser compreendida não apenas como ciência de números, mas como instrumento essencial para um desenvolvimento inclusivo, sustentável e comprometido com a justiça social.
Fonte: Tania Cristina Teixeira - presidenta do Conselho Federal de Economia (Cofecon). Graduada em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, com doutorado em Economia Aplicada pela Universidade de Valencia (Espanha). Possui vasta trajetória docente na PUC Minas, onde é Coordenadora de Extensão.