Cientistas da UFSCar colaboram com tratado global




Delegações de quase 180 países estão na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, na Suíça, participando de negociações para assinatura de um tratado global para combate à poluição plástica, previstas para seguir até o final desta semana. Cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) também estão envolvidos na empreitada. Walter Waldman, docente no Departamento de Física, Química e Matemática (DFQM-So), e Sahudy Montenegro González, do Departamento de Computação (DComp-So), ambos no Campus Sorocaba, enviaram suas contribuições à delegação brasileira nesta que é a segunda parte da quinta sessão do Comitê Intergovernamental de Negociação sobre Plásticos (INC 5.2), voltado à construção de um instrumento jurídico internacional para regular toda a atual cadeia de produção plástica.

Os pesquisadores da UFSCar elencaram algumas demandas do Brasil e, a partir disso, produziram documento com levantamento das substâncias químicas comumente presentes nos plásticos e já regulamentadas no País, a partir de normativas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e portarias do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). O levantamento foi organizado em um banco de dados inédito, que cruzou as informações nacionais com aquelas existentes em um banco internacional (PlastChem), com detalhamento das propriedades e características dessas substâncias (toxicidade, tipo de polímero em que é utilizada, regulação em organismos multilaterais e países ao redor do mundo, dentre outras).

Com isso, o objetivo é ter uma lista de fácil acesso a informações sobre essas substâncias para que, caso as discussões em Genebra se encaminhem para forte restrição ou, até mesmo, o banimento, o Brasil tenha condições de verificar de forma rápida se e como as proposições afetarão o País, podendo então concordar, discordar ou solicitar modificações que, além de combater a poluição plástica, atendam também aos interesses nacionais. Para auxiliar nessa ação coordenada, um grupo composto por cientistas de todo o Brasil está mobilizado online e conectado em tempo real aos membros da delegação na Suíça.

- Principais discussões:

Walter Waldman é membro indicado pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ) na Comissão Nacional de Segurança Química (Conasq), responsável pelo grupo de trabalho temporário que apoiou as discussões do tratado e auxiliou a delegação brasileira nas pautas a serem levadas ao evento em Genebra. Ele salienta que, dentre os 26 artigos em discussão na reunião, há alguns de interesse geral, como o artigo 7, que trata especificamente da emissão de plásticos e microplásticos e de sua dispersão no ambiente. Já outros são de particular interesse para os países do Sul Global, como aquele que trata do financiamento às alternativas que precisarão ser criadas para a indústria. O Brasil é um dos protagonistas nas discussões sobre esse tema.

Outros artigos de relevância incluem medidas para eliminar ou reduzir plásticos de uso único; fazer a gestão, mapear e remover plásticos em áreas contaminadas; apoiar comunidades afetadas pela poluição plástica e transferir tecnologia entre países. Um dos temas fundamentais, segundo o pesquisador da UFSCar, é o da transparência química, que engloba a necessidade de que a composição dos materiais plásticos que circulam nos mercados globais seja conhecida.

Waldman defende ser fundamental que o consumidor possa decidir se quer ou não comprar um material plástico que possui em sua composição uma determinada substância. A informação sobre a composição dos plásticos, complementa o pesquisador, também fomenta ações mais conscientes que podem impulsionar alternativas sustentáveis de bioeconomia.




Fonte: Instituto da Cultura Científica - Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).