A construção civil é um dos motores da economia brasileira




Com a Selic batendo em 15% ao ano, muitos setores da economia pisam no freio. O crédito encarece, o consumo desacelera e a confiança cai. Mas há um setor que, mesmo diante das tempestades, continua de pé: o mercado imobiliário.

Apesar do custo elevado do dinheiro e do aperto nos orçamentos familiares, a construção civil no Brasil segue resistindo. E em alguns segmentos, ela cresce. Afinal, o país ainda tem um déficit habitacional próximo de 7 milhões de moradias e uma demanda latente que não se dissipa mesmo em tempos duros.

- A construção civil como base da economia:

A construção civil é um dos motores da economia brasileira. Responde por cerca de 6% do PIB e emprega, direta e indiretamente, milhões de trabalhadores.

Seu impacto é transversal: movimenta indústrias de cimento, aço, cerâmica, logística, arquitetura, design e serviços financeiros. É por isso que os governos costumam olhar com atenção para o setor em momentos de instabilidade, visto que investir em habitação e infraestrutura é uma forma de aquecer o cenário econômico como um todo.

Além disso, a área é estratégica por atender a uma demanda fundamental da sociedade: moradia. Com a população urbana crescente, o Brasil segue precisando construir (e rápido).

- Os efeitos dos juros altos no setor:

Todavia, o cenário atual é desafiador. A taxa Selic pressiona tanto os consumidores quanto as empresas. No financiamento habitacional, significa encarecimento das parcelas, maior exigência de entrada e menos acesso ao crédito.

Hoje, no Sistema Financeiro da Habitação, as taxas estão na faixa de TR + 10,99% a 11,49% ao ano, enquanto no Sistema Financeiro Imobiliário, elas chegam a TR + 12% a.a. Isso afasta as famílias da classe média que estão na fronteira da capacidade de pagamento.

Com isso, a base de compradores encolhe, as vendas desaceleram e as incorporadoras são forçadas a oferecer condições promocionais para manter o ritmo. E não para por aí: os custos também subiram. A mão de obra acumula alta de quase 10% nos últimos 12 meses, e os materiais de construção já ultrapassaram 6% de inflação até março de 2025.

Os juros altos aumentam o custo de capital para as empresas. Linhas de crédito para obras, aquisição de terrenos e capital de giro ficam mais caras, dificultando a vida de construtoras regionais ou de pequeno porte, que dependem de bancos comerciais.

Mas diante disso, por que o imóvel continua sendo um ativo desejado?

Mesmo com todas as dificuldades, o brasileiro continua buscando o imóvel como forma de investimento e segurança. E isso tem explicações culturais e econômicas.

O “tijolo” carrega um valor simbólico no Brasil. É herança, é patrimônio, é segurança para o futuro. Em momentos de volatilidade na bolsa ou de incerteza com a renda fixa, muitos preferem investir em algo tangível, que pode ser usado, alugado, deixado como legado.

Ainda, o imóvel é visto como proteção contra a inflação. Mesmo que a rentabilidade aparente seja menor no curto prazo, ele preserva valor ao longo dos anos, sobretudo em regiões urbanas com alta demanda.

Investir em imóveis é uma ideia que pode até ser controversa, mas nunca ultrapassada, especialmente para quem busca segurança patrimonial em um cenário de incerteza econômica.

- Como as empresas estão reagindo e inovando:

Diante do cenário macro desafiador, as construtoras estão se reinventando. Algumas das principais estratégias adotadas priorizam produtos econômicos, com unidades menores, mais acessíveis e adaptadas ao perfil do MCMV.

Junto disso, temos a automação e o crédito digital, com o uso de tecnologias para agilizar a análise de crédito, personalizar ofertas e reduzir custo de venda, e a gestão de custos, a partir da renegociação com fornecedores e novos modelos de obra.

E claro, ganha atenção a exploração da Faixa 4 do MCMV, que permite financiamentos de imóveis de até R$ 500 mil por até 35 anos, com taxa de 10,5% ao ano fixos, abaixo das linhas tradicionais do mercado.

Os números recentes ajudam a explicar essa resiliência. Segundo dados atualizados do FGTS (base maio/2025), os volumes de financiamento seguem crescendo no país, mesmo com o crédito mais caro.

O setor espera movimentar R$ 126,27 bilhões em imóveis novos ao longo do ano, o que representa um aumento de 29,68% em valor na comparação com 2024. Em termos de unidades, corresponde a 479.699 moradias financiadas, um avanço de 10,88%.

Quando somamos imóveis novos e usados, o total projetado chega a R$ 143,63 bilhões, crescimento de 18,35%, distribuídos em 606.172 unidades financiadas (+2,72%). Os dados reforçam que, mesmo com juros altos, o crédito habitacional segue aquecido, sustentado em peso pelos programas com apoio do FGTS.

- O setor que constrói futuro:

Mesmo com os juros altos, o mercado imobiliário brasileiro segue relevante. A demanda estrutural por moradia, somada ao apoio de políticas públicas e à capacidade de adaptação das empresas, mantém o setor vivo.

Construtoras que investem em eficiência, tecnologia e entendem o seu público continuam vendendo. E para muitas famílias, especialmente da Faixa 4 do MCMV, ainda é possível financiar com condições acessíveis e realizar o sonho da casa própria.

Afinal, juros sobem e descem, mas o déficit habitacional, a necessidade de moradia e o desejo de segurança patrimonial permanecem. Enquanto houver chão, haverá construção. E enquanto houver sonho, haverá imóvel para realizá-lo.


Fonte: Eduarda Tolentino - CEO da BRZ Empreendimentos, incorporadora com foco no segmento imobiliário econômico.