Com a recente proposta de Donald Trump de aumentar em 50% as tarifas sobre produtos brasileiros, empresários e investidores começam a repensar rotas estratégicas de exportação e presença internacional. Para o Senior Partner da Grand Hill Fábio Siebert, o momento exige cautela e rápida tomada de decisão na gestão e reposicionamento.
“Essa possível taxação precisa ser tratada com pragmatismo. Em vez de entrarmos em pânico, devemos ampliar o radar e entender que o mundo oferece alternativas sólidas para superar essas barreiras. A Costa Rica é uma delas”, afirma Siebert.
O país centro-americano, segundo o executivo, pode funcionar como uma ponte para o acesso a mercados com os quais o Brasil perderia competitividade, inclusive neste caso dos EUA. “A Costa Rica possui acordos de livre comércio com países que representam dois terços do PIB mundial. Além disso, suas Zonas Francas oferecem benefícios fiscais atrativos, com estrutura moderna e estabilidade institucional”, destaca.
Siebert explica que a mudança de estratégia não significa abandonar os EUA, mas ampliar horizontes. “Muitas empresas brasileiras podem se beneficiar com uma presença híbrida, mantendo suas operações locais e instalando braços produtivos ou comerciais em países estratégicos. É uma forma de garantir acesso a mercados-chave mesmo diante de novos entraves comerciais.”
Mas além de buscar novos caminhos internacionais, é preciso agir com celeridade nas decisões internas. Para o Senior Partner da Grand Hill, Marcello Lauer, as empresas devem adotar imediatamente um plano de ação para mitigar riscos e evitar surpresas negativas. “É importante que as empresas adotem, o mais rápido possível, um plano de trabalho para analisar os impactos da alteração tarifária. Isso não pode ser deixado para depois”, alerta.
Lauer recomenda um diagnóstico completo das relações comerciais da empresa. “É fundamental analisar todos os contratos, pedidos e acordos existentes e avaliar quais seriam os impactos caso a taxação seja, de fato, implementada. Só com esse mapeamento será possível tomar decisões embasadas”, explica.
Outro ponto crítico é a construção de um mapa de riscos que permita entender o grau de exposição da empresa e sua vulnerabilidade frente à concorrência. “É preciso verificar se existe a possibilidade de a empresa ser substituída em determinados mercados e quais os reflexos disso em toda a cadeia de fornecimento”, aponta.
Na visão do especialista, a teoria da imprevisão também deve ser considerada como ferramenta jurídica preventiva. “Em alguns casos, a alteração de tarifas pode configurar um evento imprevisto e extraordinário, o que justifica a revisão de contratos sob esse argumento. Essa análise deve ser feita caso a caso, com apoio jurídico qualificado”, observa Lauer.
Além disso, ele destaca a importância de avaliar os reflexos da mudança no fluxo de caixa e na perspectiva de continuidade operacional. “É um momento delicado, que exige atenção redobrada à saúde financeira da empresa. Negociar preventivamente com credores e fornecedores estratégicos pode ser decisivo para atravessar esse cenário com mais segurança”, recomenda.
Na avaliação de Siebert, o desafio está lançado, mas também é uma oportunidade para que as empresas brasileiras repensem seus modelos de atuação com mais inteligência e agilidade. “É nas crises que surgem os caminhos menos óbvios. Cabe às lideranças enxergar além do problema imediato, elaborar os estudos e agir com estratégia, buscando alternativas que garantam competitividade e sustentabilidade no médio e longo prazo”, finaliza.
Fontes: Fábio Siebert e Marcello Lauer, da Grand Hill.