Tarifas americanas: seu negócio está preparado?




O aumento das tarifas americanas não é apenas uma manchete distante. Pode ser o fator que redefine a competitividade de empresas brasileiras em diversos setores. Os Estados Unidos são um dos principais destinos das exportações nacionais, e qualquer mudança em sua política comercial gera ondas que chegam até aqui. Se sua empresa opera em setores como agroindústria, siderurgia ou aviação, é hora de entender os riscos e se antecipar.

O agro, por exemplo, sempre foi um dos pilares da economia brasileira, mas agora enfrenta um cenário mais hostil. Produtos como café, carne bovina, suco de laranja e açúcar estão sujeitos a tarifas elevadas, encarecendo a entrada no mercado americano. Isso não apenas reduz margens como pode deslocar o Brasil em favor de concorrentes com acordos mais favoráveis com os EUA. A soja e o etanol, que já dependem de preços internacionais voláteis, podem ter sua rentabilidade ainda mais pressionada.

A siderurgia também está no centro da tempestade. O aço brasileiro, que enfrenta barreiras protecionistas, pode ver sua demanda encolher ainda mais. Isso não afeta apenas as grandes produtoras, mas toda a cadeia que depende delas, desde fornecedores de minério até indústrias que utilizam o aço como insumo. Falar em risco de desindustrialização não é exagero, e empresas do setor precisam buscar alternativas, seja diversificando mercados ou investindo em eficiência para compensar os custos adicionais.

A Embraer e as companhias aéreas comerciais já sentiram o impacto. Ações da fabricante de aviões caíram após o anúncio das novas tarifas, refletindo a preocupação do mercado. Para essas empresas, os custos operacionais em dólar continuam os mesmos, mas a receita pode diminuir se as barreiras comerciais reduzirem suas vendas ou aumentarem a concorrência em outros mercados.

Nem todos os setores, porém, enfrentam o mesmo nível de exposição. Empresas de papel e celulose, por exemplo, têm caixa mais robusto e menor dependência de dívidas em dólar, o que as torna mais resilientes. O setor financeiro, por sua vez, pode até se beneficiar de um ambiente de juros altos, reforçando receitas em renda fixa e seguros.

Há ainda quem possa ganhar com esse cenário. Empresas que dependem de insumos importados, como as dos setores farmacêutico e de tecnologia, podem se beneficiar se o real se valorizar em resposta aos juros brasileiros. Um dólar mais barato reduz custos de produção, aliviando a pressão sobre as margens.

O que fazer diante disso? Empresas exportadoras precisam priorizar estratégias de hedge cambial e revisar suas estruturas de dívida para evitar surpresas com a volatilidade do câmbio. Já as que dependem de importações devem monitorar de perto as flutuações do dólar para aproveitar oportunidades. O mais importante, porém, é não subestimar o impacto dessas mudanças. O comércio global está se reconfigurando, e empresas que não se adaptarem podem ficar para trás.

A incerteza não deve paralisar, mas servir como alerta. Reavaliar mercados, buscar eficiência operacional e diversificar fontes de receita são medidas que podem fazer a diferença. Afinal, em um ambiente de negócios cada vez mais imprevisível, a melhor estratégia é estar preparado para qualquer cenário.




Fonte: Julio Amorim é CEO da Great Group, especialista em planejamento e autor do livro "Escolha Vencer: Criando o Hábito de Conquistar Sonhos e Objetivos”.