Mercado de FIDCs ganha força com estruturação financeira




O mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) alcança uma carteira próxima de R$ 800 bilhões - dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) - e passa a ocupar papel estratégico na gestão de capital de empresas que buscam reduzir a dependência de crédito bancário. Com estruturas próprias e tecnologia embarcada, essas companhias utilizam o instrumento para financiar clientes e fornecedores, ganhando eficiência operacional, aumentando margens e otimizando o uso de capital próprio.

Com menor dependência da tomada de crédito em bancos por parte dos seus clientes e fornecedores, empresas ampliam sua capacidade de operação, passando a rentabilizar os próprios recursos ou dos sócios em níveis superiores aos praticados em produtos tradicionais de renda fixa. 

A inserção desses agentes no ecossistema financeiro da companhia também permite maior precisão na análise de crédito. Comportamento histórico e relacionamento comercial passam a compor critérios de avaliação, resultando em taxas inferiores às observadas em operações convencionais.

Esses temas foram discutidos no evento promovido pela Vertrau, que ocorreu em julho, no Espaço Conecta, da Fundação Fritz Müller, em Blumenau (SC). A iniciativa reuniu executivos do varejo, atacado, franquias e mercado financeiro para debater como estruturas financeiras personalizadas e o uso de tecnologia têm redesenhado as estratégias de financiamento e capitalização nas empresas. 

“Acreditamos que, com tecnologia e inteligência de estruturação, empresas podem assumir o controle sobre o capital que movimenta sua cadeia, virando a chave de tomadoras para provedoras de crédito”, afirmou Israel Malheiros, head de operações da Vertrau.

Felipe Dezotti, vice-presidente de Operações e Tecnologia da Finaxis, destacou durante a sua participação no evento que os FIDCs são os principais instrumentos utilizados na estruturação de capital. Segundo ele, o fundo viabiliza o funding de operações de forma customizada. “Empresas estruturadas podem operar crédito dentro do seu ecossistema com governança, segurança e retorno financeiro superior”, afirmou.

Humberto Costa, diretor de Produtos da B3, abordou a importância do registro de recebíveis como mecanismo de segurança e garantia de unicidade nas operações. “A transparência e rastreabilidade dos recebíveis se tornam pontos fundamentais para a escalabilidade do uso de instrumentos como FIDCs e para a consolidação do mercado de crédito estruturado no Brasil”, observou.

Suzana Alves, diretora da BMP, também apoiadora do encontro, tratou da possibilidade de bancarização via estruturas próprias de funding. Segundo ela, a empresa que detém capital estruturado pode oferecer aos seus clientes produtos como crédito direto ao consumidor (CDC), antecipação do FGTS e empréstimos pessoais. “Isso amplia o portfólio e posiciona a empresa como uma provedora de soluções financeiras, sem a intermediação bancária tradicional”, afirmou.

O evento também destacou o avanço do Embedded Finance, conceito que integra soluções financeiras diretamente em plataformas não financeiras, como marketplaces, aplicativos de delivery e sistemas ERP. Nesse modelo, o controle de risco e a liberação de crédito são operados com base na antecipação de recebíveis e no uso de garantias digitais, promovendo agilidade e controle de ponta a ponta na cadeia B2B.

Israel Malheiros destacou a missão da Vertrau em agilizar o processo de forma a atuar com tecnologia aplicada à estruturação financeira, oferecendo plataformas digitais para automação de garantias, decisões de crédito, compliance e operação de fundos estruturados. O evento reforçou o papel da tecnologia como vetor para transformar capital próprio e dados históricos em alavanca de crescimento e competitividade.


Fonte: Ricardo Maia Barbosa