Você já ouviu falar em “aplicativos espiões” ou spywares? Pois saiba que eles são um dos sinais mais preocupantes da era digital. Estes programas têm como principal função monitorar a atividade de um dispositivo sem o conhecimento ou consentimento do proprietário, e engana-se quem pensa que isso acontece apenas em filmes de espionagem! Atualmente, esses aplicativos estão mais acessíveis e sofisticados, sendo amplamente utilizados em sistemas Android ou iOS.
Os apps espiões podem ser instalados de diferentes formas. Em dispositivos Android, a instalação pode ser facilitada por uma brecha nas permissões do sistema, enquanto no iOS, apesar do sistema ser mais restrito, casos de jailbreak (desbloqueio do sistema) tornam a ameaça real. Em ambos os casos, basta um momento da pessoa mal intencionada com acesso ao aparelho (física ou remotamente) para que o aplicativo seja instalado sem levantar suspeitas.
Uma das técnicas comumente praticadas envolve golpes de engenharia social, como o envio de links maliciosos por e-mail, SMS ou aplicativos de mensagem. Esses links redirecionam a vítima para páginas falsas que instalam o software em segundo plano. Uma vez dentro do dispositivo, esses apps conseguem acessar mensagens, chamadas, arquivos de mídia, senhas e até o microfone e a câmera, transformando o smartphone em uma verdadeira ferramenta de espionagem.
Os riscos para a privacidade de pessoas e organizações são alarmantes. Em ambientes corporativos, por exemplo, a presença de um app espião pode significar o comprometimento de dados estratégicos, contratos, conversas sigilosas e informações financeiras. Na vida pessoal, os impactos vão desde a violação da intimidade até o assédio digital, passando por chantagens e outros tipos de abuso. Muitos desses aplicativos armazenam as informações coletadas em servidores de terceiros, tornando os dados ainda mais vulneráveis a ataques e vazamentos.
Como se defender?
Infelizmente, a desinstalação nem sempre é simples. Muitos desses aplicativos são projetados para operar em modo invisível, sem ícone identificável na tela inicial ou nas configurações do aparelho. Em alguns casos, alteram nomes e permissões para parecerem parte do sistema. Para desinstalar, o ideal é iniciar uma verificação completa com um antivírus confiável, reiniciar o dispositivo no modo de segurança (disponível em aparelhos Android) e verificar aplicativos desconhecidos nas configurações. Em casos mais graves, a restauração do sistema para as configurações de fábrica pode ser a única alternativa eficaz.
Identificar a presença de um aplicativo espião requer atenção aos sinais sutis. Um dos indícios mais frequentes é a queda repentina na duração da bateria, pois o app espião consome energia ao funcionar em segundo plano. Outro alerta é o aumento no consumo de dados móveis, mesmo quando o uso do aparelho parece normal. Dispositivos que esquentam com frequência, apresentam travamentos inesperados ou ativam a câmera ou o microfone sozinhos também merecem investigação. Além disso, notificações estranhas, mudanças nas permissões de apps e dificuldade para desligar o telefone são indícios adicionais de comprometimento.
Em um mundo em que a tecnologia avança em velocidade recorde e a vigilância digital se torna cada vez mais sofisticada, cuidados simples como manter o sistema operacional atualizado, usar autenticação de dois fatores, não clicar em links suspeitos e configurar senhas seguras podem fazer a diferença. Enquanto especialista em cibersegurança, a minha maior dica é redobrar a atenção ao fazer a instalação de aplicativos gratuitos, verificando se eles possuem um certificado digital. Muitas vezes, o acesso remoto ao aparelho celular é concedido por meio do download de joguinhos aparentemente inofensivos, mas que podem esconder grandes riscos.
Para checar se o aplicativo conta com o certificado, é necessário utilizar ferramentas de validação ou explorar as configurações do próprio dispositivo. No entanto, o processo para realizar essa verificação pode mudar conforme o sistema operacional do aparelho e o modo como o certificado foi incorporado ao app. Vale ressaltar que alguns aplicativos podem ter funcionalidades próprias para exibir e verificar os certificados digitais. Nesse caso, é preciso consultar a seção de ajuda do app. Outro ponto importante é observar a cadeia de confiança, ou seja, se o certificado foi emitido por uma Autoridade Certificadora confiável, como a GlobalSign por exemplo.
Em um celular Android, a primeira etapa é conferir se ele foi instalado por uma loja oficial de apps. Para isso, vá até as configurações do dispositivo, acesse a lista de aplicativos instalados, selecione o app em questão e toque na opção “Detalhes do app na loja”, se estiver disponível. Isso vai abrir a página da loja, onde você pode ir até a seção “Sobre este app” e confirmar se há a informação de que o app é legítimo e possui uma assinatura válida.
Para uma verificação mais aprofundada da assinatura digital, você pode baixar um aplicativo gratuito como o App Manager (disponível em lojas alternativas como o F-Droid). Com ele, basta localizar o app que deseja checar e acessar as informações de assinatura, onde será exibido o hash SHA-256, que representa a identidade digital do desenvolvedor. Esse código pode ser comparado com dados disponíveis no site oficial do app ou repositórios públicos.
Em se tratando de empresas, políticas de segurança da informação devem incluir protocolos específicos para análise frequente de dispositivos móveis e capacitação de funcionários sobre o tema. Muitas vezes o perigo chega pelas vias mais simples e vulneráveis, como as caixas de entrada de e-mails. Ferramentas como o S/MIME (Secure/Multipurpose Internet Mail Extensions) podem ser grandes aliadas, uma vez que permitem a assinatura digital e a criptografia de mensagens, sinalizando o destinatário e o remetente, caso o conteúdo tenha sido adulterado entre o envio e o recebimento.
O fato é que vivemos uma era em que nossos dispositivos concentram praticamente toda a nossa vida – pessoal, profissional, emocional e financeira. Proteger essas informações não é apenas uma questão técnica, mas um compromisso com a nossa liberdade e segurança. Conhecer os riscos dos aplicativos espiões é o primeiro passo para enfrentá-los com responsabilidade e consciência.
Fonte: Luiza Dias - diretora Presidente da GlobalSign Brasil