Apesar de representarem uma das maiores forças de trabalho do país, os jovens brasileiros ainda têm baixa adesão à contribuição previdenciária. A ideia de que aposentadoria é um assunto distante ou irrelevante tem afastado do INSS muitos profissionais em início de carreira, gerando consequências preocupantes para o futuro, tanto individual quanto coletivo.
A ausência de cultura previdenciária entre os jovens é um dos principais desafios enfrentados pelo sistema. Muitos só passam a se preocupar com a contribuição ao INSS quando precisam de benefícios como auxílio-doença, licença-maternidade ou aposentadoria. Então descobrem que não têm direito por falta de contribuições regulares.
Com o envelhecimento populacional e os desafios da previdência pública, especialistas reforçam a importância de os jovens pensarem desde cedo na sua longevidade financeira. Dados do IBGE mostram que os idosos, atualmente 16% da população brasileira, podem chegar a 28% até 2046.
Com a expectativa de vida aumentando, cresce também a pressão sobre o sistema previdenciário, que já enfrenta déficit histórico. Segundo o Ministério da Previdência Social, entre janeiro e setembro de 2024, o rombo do INSS chegou a R$ 265,8 bilhões, superando em R$ 16,9 bilhões o mesmo período do ano anterior.
Além disso, 92% dos aposentados brasileiros dependem exclusivamente do INSS, cujo benefício médio é de apenas R$ 1.891,33, valor insuficiente para manter a qualidade de vida. Da mesma forma, apenas 3% utilizam previdência privada e 2% recorrem à ajuda de familiares, segundo a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
A dependência quase total do INSS evidencia a falta de preparação financeira e de alternativas viáveis para a população mais velha. E é aí que a contribuição precoce e o planejamento previdenciário fazem toda a diferença..
Outro fator que agrava esse cenário é o descompasso entre a realidade do mercado de trabalho e a estrutura previdenciária atual. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, quase 50% dos jovens entre 20 e 24 anos estão fora do mercado de trabalho formal. Entre os que trabalham, muitos estão em empregos informais, intermitentes ou por conta própria, o que reduz drasticamente a contribuição ao INSS e compromete a proteção social desses jovens no curto e longo prazo.
A FGV também aponta que os jovens enfrentam níveis mais altos de rotatividade e instabilidade profissional, com impactos diretos no acúmulo de tempo de contribuição. Ou seja, mesmo aqueles que entram no mercado formal, frequentemente alternam períodos sem registro, o que prejudica a formação de uma base previdenciária sólida.
Segundo dados da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), mais de 18 milhões de brasileiros têm planos de previdência privada e ativos que somam R$ 2,4 trilhões.
As consequências da não contribuição previdenciária desde cedo são sérias e podem comprometer diretamente a segurança financeira no futuro. A primeira delas é o afastamento da aposentadoria, já que a ausência de contribuições regulares dificulta o cumprimento do tempo mínimo exigido para acesso ao benefício. Além disso, há falta de proteção em momentos de emergência: trabalhadores informais ou que não contribuem perdem o direito a auxílios fundamentais, como o auxílio-doença e a pensão por morte para seus dependentes.
Por fim, a insegurança financeira na velhice se torna um risco concreto, sem uma previdência pública sólida nem planejamento complementar, muitas pessoas chegam à terceira idade sem renda suficiente para manter uma vida digna e independente.
Fonte: Yasmim Dantas - advogada e especialista em Direito Previdenciário do Brisola Advocacia Associados.