Investir em ETFs no exterior se tornou uma das formas mais inteligentes de diversificar a carteira e proteger o patrimônio contra a instabilidade econômica brasileira. No entanto, muitos investidores cometem erros silenciosos nesse processo, que, embora pareçam pequenos, comprometem de forma significativa a rentabilidade no longo prazo.
Entender esses deslizes é fundamental para quem deseja construir riqueza de forma sólida.O investidor brasileiro ainda está em processo de amadurecimento quando se trata de investimentos internacionais. O problema é que muita gente replica no exterior os mesmos erros cometidos aqui dentro. E isso acaba travando o crescimento do patrimônio.
Um dos erros mais comuns é acreditar que é preciso ter muito dinheiro para começar. Essa visão, segundo Otávio, já está ultrapassada. Hoje, com cerca de R$ 500 por mês, já é possível montar uma carteira global. Se a pessoa mantiver a constância por 30 anos, considerando uma rentabilidade real de 4% ao ano, pode chegar a um patrimônio superior a R$ 300 mil. O grande diferencial está na disciplina e no tempo, não no valor inicial. Ainda assim, muitos preferem esperar “ter mais” para começar, o que, na prática, apenas adia os resultados.
Outro ponto que trava a evolução dos investimentos é a mudança constante de estratégia a cada nova notícia. Esse comportamento reativo, que Otávio chama de “investidor camaleão”, é um dos principais responsáveis por resultados abaixo do esperado.
Dados da consultoria Dalbar mostram que o investidor médio nos Estados Unidos tem um retorno inferior ao próprio mercado, justamente por agir por impulso. No Brasil, vemos o mesmo padrão. Quem tenta adivinhar o próximo movimento da economia acaba tomando decisões equivocadas.
A busca obsessiva por ETFs com taxas de administração mais baixas também pode ser um problema, especialmente quando o investidor decide migrar de um fundo para outro apenas por conta dessa diferença.
Quando você vende um ETF com lucro, precisa pagar imposto. Esse imposto reduz seu capital reinvestido e, muitas vezes, anula qualquer vantagem que a nova taxa ofereceria. O foco não deve ser só no custo, mas na eficiência da carteira como um todo.
Além disso, muitos brasileiros acabam seguindo modismos e comprando ETFs de setores em alta, como inteligência artificial, ESG ou criptomoedas. A estratégia, segundo Otávio, pode parecer atraente no curto prazo, mas é arriscada. Na maioria das vezes, quando esses ETFs chegam ao investidor pessoa física, os grandes players já capturaram boa parte dos ganhos. O que sobra é um risco elevado com pouco potencial de retorno. É melhor focar em fundos amplos, com histórico sólido e fundamentos consistentes.
A falsa sensação de diversificação também preocupa. Ter vários ETFs na carteira não significa, necessariamente, estar bem diversificado. É comum ver investidores com fundos diferentes que, na prática, concentram os mesmos ativos. Um exemplo clássico é a combinação de IVV, que replica o S&P 500, com o VT, que representa o mercado global. Quem faz isso está, na verdade, se expondo ainda mais aos Estados Unidos. É preciso avaliar a composição dos fundos e entender os pesos regionais e setoriais.
Por fim, dois aspectos técnicos que costumam passar despercebidos pelos iniciantes são a variação cambial e o tipo de ETF quanto à distribuição de proventos. Os que possuem proteção cambial, por exemplo, eliminam os efeitos da oscilação do dólar. Muita gente opta por esses produtos sem perceber que, no Brasil, o dólar funciona como uma proteção natural. Ao eliminar essa variável, o investidor perde justamente a defesa contra o risco local.
Já os ETFs de acumulação, muito comuns na Europa, reinvestem automaticamente os dividendos, o que pode ser vantajoso do ponto de vista fiscal. Eles evitam o pagamento de impostos frequentes sobre dividendos, aumentando o efeito dos juros compostos no longo prazo.
Fonte: Otávio Paranhos - consultor especializado em investimentos Otávio Paranhos.