Erros estratégicos que levam empresas promissoras a colapsarem




A imagem de uma empresa crescendo rápido, abrindo novas unidades em várias cidades, ganhando manchetes e atraindo investidores costuma ser vista como sinônimo de sucesso. No entanto, por trás de histórias aparentemente vitoriosas, muitas vezes se escondem estruturas frágeis, processos ineficientes e uma expansão feita sem a maturidade necessária. O resultado é que negócios promissores, que poderiam prosperar com o tempo, acabam colapsando por tentarem crescer antes da hora certa.

Um estudo publicado pelo Portal do Franchising indica que o índice de insucesso no setor de franquias é consideravelmente baixo em relação a outros negócios, com uma taxa de “falha” de cerca de 3% para franquias, comparado a 23% para pequenas empresas com até dois anos de operação. O desejo de expansão rápida costuma ser visto como um sinal de sucesso. Mais lojas, mais presença no mercado, mais visibilidade. No entanto, para muitas empresas, esse movimento acelerado se torna o início do declínio. A urgência em ocupar novos territórios frequentemente atropela etapas essenciais da consolidação de um negócio, da padronização de processos ao preparo das lideranças locais.

“Existe uma diferença enorme entre enxergar uma oportunidade e estar preparado para aproveitá-la. O que vejo com frequência é a empresa tentando ganhar escala sem ter resolvido o básico, que já transformou operações locais em redes de alto desempenho, observo que a expansão precisa ser consequência de uma estrutura sólida, e não um passo forçado pela vaidade ou pela ansiedade em parecer grande.

O erro começa quando o empresário se move pela emoção. Tem gestor que quer abrir a décima loja sem ter acertado a operação da segunda. É como construir um segundo andar sem fundação. Em vez de alavancar, o crescimento vira um fardo, a maturidade de um negócio deve vir antes da multiplicação. Sem um modelo testado, validado e replicável, escalar significa apenas aumentar o risco.

Esse risco, inclusive, se manifesta de várias formas. Com múltiplas unidades ativas, qualquer instabilidade do mercado como uma crise econômica, uma nova regulação ou uma oscilação na demanda, pode provocar um efeito dominó. Os custos fixos aumentam, a margem de manobra reduz e, em muitos casos, a reputação da marca é a primeira a sofrer. Em uma expansão sem preparo, até um problema pequeno se torna uma ameaça sistêmica. O que parecia sucesso se transforma em vulnerabilidade.

Outro impacto menos visível, mas igualmente grave, ocorre na cultura interna. À medida que a empresa cresce sem um processo de integração claro, a identidade construída no início vai se dissipando. A marca que nasceu com propósito, cuidado e atendimento de excelência, vira uma operação fria, com foco apenas em números. E o cliente sente isso. A consequência direta é a perda de vínculo com o consumidor, queda no engajamento das equipes e enfraquecimento da proposta de valor.

Por outro lado, redes que escolhem crescer de forma estratégica e controlada tendem a construir trajetórias mais duradouras. O segredo, segundo o especialista, está em garantir que o modelo de negócio funcione perfeitamente em menor escala antes de ser replicado. Antes de abrir cinco unidades, abra uma que funcione com excelência. Depois, veja se consegue repetir isso com a mesma qualidade. Crescimento saudável é aquele que não compromete a essência da marca.

Esse tipo de expansão exige disciplina, leitura precisa de dados, controle dos indicadores-chave e uma liderança preparada para adaptar processos sem perder eficiência. Não se trata de frear o crescimento, mas de respeitar o tempo necessário para que ele seja sustentável. Cada mercado tem suas particularidades. Só cresce bem quem conhece profundamente o próprio modelo e tem clareza sobre os limites e as potencialidades da operação.

No fim das contas, o sucesso não está na quantidade de lojas ou na velocidade com que se ganha mercado. O verdadeiro indicador de uma rede madura é sua capacidade de manter a qualidade, a cultura e os resultados à medida que avança. Crescer é desejável, mas permanecer relevante, rentável e alinhado ao propósito da marca é o que garante longevidade.




Fonte: João Ferrari - especialista em gestão e expansão de negócios.