Agronegócio está no caminho da recuperação




O agronegócio enfrentou alguns desafios significativos em 2024, resultando na redução de 3,2% no Produto Interno Bruto da agropecuária, em comparação ao ano anterior.

O impacto foi resultado, principalmente, da queda dos preços da soja no mercado internacional e de produtividade do setor em função da ocorrência de eventos climáticos adversos, trazendo uma série de dificuldades financeiras explicadas, em sua grande maioria, pela explosão de pedidos de recuperação judicial de empresas.

Foram 1.272 pedidos em 2024, correspondendo a um aumento de 138% em relação a 2023, segundo dados da Serasa Experian. Um aumento expressivo! Porém, se compararmos a quantidade de pedidos de recuperação com a quantidade aproximada de mais de 1,4 milhão de produtores que tomam crédito rural, esse número pode ser até considerado ameno.

O momento conturbado também impactou na performance de pagamento das empresas e produtores rurais. Algumas indústrias de insumos e distribuidoras chegaram a registrar de 8% a 12% de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) em sua base de clientes, um percentual atípico ao compararmos com anos anteriores.

Um relatório de acompanhamento do crédito rural produzido pelos Sistemas FAESP e Senar em março de 2025 apontou um aumento crescente da inadimplência especialmente a partir do segundo semestre do ano passado, tendência que tem se mantido no início de 2025.

O mesmo fenômeno tem sido observado no pagamento dos créditos securitizados contidos nas carteiras dos FIDCs Agro e CRAs emitidos, geridos e cobrados pela Opea, empresa que tem o maior market share do mercado de securitização. Ao longo de 2024, houve a cobrança de aproximadamente 29 mil créditos (um portfólio composto por modalidades como CDCA, CPR-F, NP, NPR, CPR-Barter, duplicatas, entre outras), em um montante de R$3 bilhões. No final de 2024, havia um total de créditos em aberto de 5,2%, percentual bem maior que nos anos anteriores (1,0% em 2023 e 0,7% em 2022). O percentual se torna inferior se considerarmos os créditos vencidos e não pagos, mas renegociados para pagamento futuro. Ainda assim, trata-se de um aumento significativo.

A crescente utilização de instrumentos de mercado de capitais como alternativa de captação de recursos para o agronegócio pode ser observada pela evolução da matriz de financiamento das atividades do setor, como mostra o gráfico abaixo:

                                       

Essa mudança de matriz está diretamente relacionada aos esforços que vem sendo desenvolvidos para a criação de um ecossistema confiável, capaz de se tornar uma via perene de atração de novos recursos para o setor. Entretanto, o agronegócio opera em ciclos. Ao longo da última década, pudemos vivenciar um longo ciclo positivo, sem grandes impactos negativos no setor de grãos, principalmente soja, até que inundações no sul do país, secas, aumento do preço dos insumos e a ruptura no mercado internacional de fertilizantes em função da guerra entre Rússia e Ucrânia, encerram esse referido ciclo positivo.

Mas não há o que se falar em “terra arrasada”, mas sim em como sair de uma situação desafiadora como esta. Cada segmento segue com suas adversidades cíclicas, porém, acrescido dos problemas trazidos do ano anterior em função das questões aqui apontadas. Produtores seguem necessitando de prazos mais longos para diminuírem a alavancagem financeira e, ao mesmo tempo, não comprometerem sua capacidade de investimento para a próxima safra. Nesse sentido, recorrem à venda de ativos, constituição de FIAGROs, operações de “sale and leaseback” e renegociação de suas obrigações junto aos fabricantes e distribuidoras de insumos.

Os distribuidores, por sua vez, dependem de financiamentos dos fabricantes ou do mercado de capitais, já que não possuem acesso direto ao crédito rural. O aumento da inadimplência devido às dificuldades enfrentadas pelos produtores afetou diretamente o capital de giro das distribuidoras, levando a um crescimento nos pedidos de recuperação judicial e, consequentemente, a redução do apetite dos investidores para novas emissões voltadas para o agro.

Olhando para o futuro, é esperado que o setor se recupere a partir deste ano, impulsionado pelo aumento da produção, que deverá atingir níveis recordes em algumas regiões, além de uma melhora nos preços de soja e milho. O cenário ainda é complicado por conta da persistência de juros elevados e do alto endividamento de alguns produtores, o que pode dificultar a captação de novos recursos via mercado de capitais e, consequentemente, prolongar o processo de recuperação.

Mas apesar desse cenário desafiador, estruturas como CRAs pulverizados, FIDCs e FIAGROs DC com mecanismos de subordinação adequados, gatilhos de avaliação de continuidade, seguro de crédito, entre outras, continuam proporcionando proteção aos investidores nas operações securitizadas, mitigando o impacto da inadimplência. Mesmo após um ano crítico como 2024, essas estruturas têm ajudado a manter a estabilidade das operações e oferecem uma boa perspectiva para o segmento em 2025. Fé no agro!




Fonte: Renato de Souza Barros Frascino - head de agronegócios da Opea, hub de soluções de crédito estruturado