O mercado imobiliário está cheio de promessas




No papel, a permuta de terrenos parece um jogo de soma positiva. O terrenista troca um ativo ilíquido por unidades imobiliárias valorizadas, recebendo imóveis construídos no próprio empreendimento que será erguido sobre o terreno que ele cedeu. Em muitos casos, a quantidade de unidades recebidas pode representar um valor total até cinco vezes maior que o do terreno original. 

A incorporadora, por sua vez, reduz o custo de aquisição do terreno e viabiliza o projeto sem precisar de desembolso imediato. Todo mundo ganha. Pelo menos, essa é a história que costuma ser vendida em apresentações para investidores.

A realidade, porém, é mais complexa. O grande risco da permuta não está na escolha do terreno, mas na falta de leitura do risco real da operação. O terrenista entrega um ativo sólido e, em troca, recebe uma promessa de unidades futuras. Mas promessas, no mercado imobiliário, não garantem retorno – e podem evaporar se a incorporadora enfrentar dificuldades financeiras ou se o projeto não sair do papel. 

O erro mais comum acontece já na precificação da permuta. Incorporadoras costumam apresentar números que parecem vantajosos, mas que nem sempre refletem a realidade do mercado. Muitas vezes, o preço de venda das unidades é inflado artificialmente para justificar uma participação menor do terrenista no Valor Geral de Vendas (VGV) do empreendimento.

Por exemplo, suponha que um apartamento do futuro empreendimento seja anunciado por R$ 2 milhões na tabela de vendas, mas o custo real de construção para a incorporadora seja de apenas R$ 1,2 milhão. Se o terrenista aceita essa valorização artificial como referência, ele acaba recebendo menos unidades do que deveria na permuta. O investidor experiente não se guia pelo preço de tabela, mas sim pela margem da incorporadora – é nela que está o verdadeiro jogo da negociação. 

Outro risco muitas vezes ignorado é a capacidade financeira da incorporadora. O projeto pode ser excelente, e o mercado, promissor, mas se a empresa não tiver fôlego para bancar a construção sem depender exclusivamente das vendas, o risco de atraso ou paralisação da obra é real.

E o que acontece com o terrenista nesse cenário? Ele fica travado. Já entregou o terreno, mas as unidades que receberia em troca simplesmente ainda não existem. Sem obra, sem apartamento, sem liquidez. Por isso, antes de fechar um contrato de permuta, é essencial avaliar o histórico da incorporadora, seu nível de endividamento e sua capacidade de tocar o projeto mesmo em momentos de baixa no mercado. Um canteiro de obras parado significa que a permuta pode se transformar em um passivo por tempo indeterminado.

A maioria dos terrenistas entra na permuta pensando no potencial de valorização, mas poucos avaliam como será a venda das unidades que vão receber. Afinal, quem estará vendendo esses imóveis quando forem entregues? Se a incorporadora ainda tiver estoque, ela ditará o preço do mercado e terá muito mais flexibilidade para oferecer condições agressivas, como descontos, parcelamentos diretos e incentivos que um investidor individual não consegue competir. Isso significa que o terrenista pode acabar segurando imóveis por anos, esperando a valorização natural do mercado para conseguir vendê-los com lucro.

Os investidores mais experientes sabem que o segredo está no timing: vender antes de a incorporadora liquidar seu estoque ou segurar até que o mercado esteja mais favorável. Quem entra achando que pode revender imediatamente descobre tarde demais que está competindo contra a própria incorporadora. 

O lucro real da permuta não está apenas na valorização das unidades recebidas, mas na estruturação inteligente do acordo e na antecipação dos riscos. A diferença entre um negócio brilhante e um prejuízo milionário raramente está no terreno em si, mas nos detalhes da negociação.

Enquanto investidores comuns entram nesse mercado olhando apenas para o potencial de valorização, os profissionais se fazem uma única pergunta antes de fechar um negócio: "Onde eu posso perder dinheiro aqui?". Quem responde essa pergunta corretamente nunca sai perdendo.



Fonte: Vitor Crestani - CEO da Cota Real.