Por que o dólar disparou nos últimos dias?





Nos últimos dias, o dólar ultrapassou a marca histórica de R$ 6,00, despertando apreensão em diferentes setores da economia brasileira. A alta repentina da moeda americana afeta diretamente o custo de vida da população, encarecendo desde combustíveis até produtos eletrônicos, além de impactar empresas que dependem de insumos importados.

O dólar é muito mais do que uma moeda internacional: ele funciona como um termômetro da economia global e local. Quando sua cotação dispara, não se trata apenas de números no mercado financeiro, mas de consequências práticas que chegam até o bolso do consumidor.

Eventos globais e decisões domésticas estão moldando o câmbio atual:

- Cenário Internacional e Política Monetária dos EUA

Recentemente, o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, iniciou um ciclo de cortes na taxa de juros. Em setembro de 2024, o Fed reduziu os juros em 0,50 ponto percentual, para a faixa de 4,75% a 5% ao ano. Em novembro, houve um novo corte de 0,25 ponto percentual, situando os juros entre 4,5% e 4,75% ao ano.

Essas reduções visam estimular a economia americana, mas, paradoxalmente, podem fortalecer o dólar frente a outras moedas. Embora cortes nos juros geralmente enfraqueçam a moeda local, no caso dos EUA, a percepção de uma economia mais robusta atrai investidores, aumentando a demanda pelo dólar.

- Incertezas econômicas globais:

Tensões geopolíticas e preocupações com o crescimento econômico global têm levado investidores a buscar segurança no dólar, considerado um porto seguro. Em momentos de instabilidade, há uma migração de capitais para ativos mais seguros, como o dólar, elevando sua cotação.

- Fatores Domésticos Agravam a Situação:

No Brasil, questões internas também contribuem para a desvalorização do real. A instabilidade política e dúvidas sobre a sustentabilidade fiscal aumentam a percepção de risco. Investidores ficam receosos com a falta de clareza nas políticas econômicas, o que resulta na fuga de capitais e pressão sobre o câmbio.

O recente pacote de cortes de gastos anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que visa economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, gerou reações mistas no mercado. Embora o Governo tente demonstrar uma intenção de ajuste fiscal, há ceticismo quanto à efetividade das medidas propostas.

- Impactos no cotidiano dos brasileiros:

A alta do dólar afeta diretamente o bolso dos brasileiros. Produtos importados, como eletrônicos e medicamentos, ficam mais caros. Além disso, o aumento do dólar influencia o preço dos combustíveis, já que o petróleo é cotado na moeda americana. Até mesmo alimentos podem sofrer reajustes, especialmente aqueles com componentes importados ou vinculados ao mercado externo.

- Possíveis soluções:

Para conter a escalada do dólar, é fundamental que o Brasil adote medidas que aumentem a confiança dos investidores. Estabilidade política e compromisso com o ajuste fiscal são essenciais para atrair investimentos e reduzir a volatilidade cambial.

Além disso, uma coordenação eficaz entre o Banco Central e o governo é crucial. Políticas monetárias e fiscais alinhadas podem ajudar a equilibrar o câmbio e controlar a inflação.

Compreender os fatores que influenciam a cotação do dólar é essencial para que consumidores e empresas se preparem e adotem estratégias adequadas em tempos de volatilidade cambial.



Fonte: André Charone - contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA).