A cultura de governança facilita a transição em empresas familiares




A transição em empresas familiares é um processo desafiador. Ela envolve passar não apenas a propriedade, mas também a gestão da organização de uma geração para a próxima. O processo engloba aspectos diversos do negócio e também questões emocionais ligadas a dinâmicas familiares específicas.

Em função de tudo isso, a cultura de governança desempenha um papel essencial e facilitador nos processos de transição, minimizando riscos ao estabelecer base sólida para continuidade das atividades, tomada de decisões e resolução de possíveis conflitos.

Com o intuito de evitar ambiguidades, a governança define de forma clara e transparente papéis e responsabilidades. Ela permite o desenvolvimento de uma estratégia formal de sucessão, garantindo que o sucessor seja preparado adequadamente. Isso envolve a criação de processos de avaliação e desenvolvimento para futuros líderes, como treinamentos de sucessores e mentoria entre integrantes de diferentes gerações.

Processos formais de comunicação e resolução de disputas são definidos, evitando que questões emocionais ganhem peso indevido e comprometam a estabilidade da empresa. Pode-se criar, por exemplo, um conselho de família, com marcação de reuniões periódicas para discutir questões sensíveis e alinhar os interesses de todos os envolvidos; e buscar mediação externa, para que haja maior imparcialidade na administração de conflitos.

Muitas vezes, a cultura de governança encoraja a clara separação entre a propriedade da empresa e sua gestão, o que é particularmente importante dentro das empresas familiares, onde muitas vezes o controle acionário permanece com a família e a gestão é confiada a membros externos qualificados. A criação de um conselho de administração composto por familiares e profissionais externos pode permitir maior supervisão estratégica, colaborando com melhores práticas administrativas.

Um dos grandes desafios dentro de um processo de transição é a manutenção da identidade, dos propósitos, da integridade e dos valores que tornaram a organização bem sucedida ao longo dos anos. A governança ajuda a institucionalizar e formalizar esses valores, fazendo com que eles sejam parte da cultura corporativa. Assim, é mantido o espírito do fundador, adaptado às novas realidades do mercado onde a empresa atua.

Mais do que uma medida pontual, a cultura de governança promove visão de longo prazo e adoção de práticas rigorosas de gestão de riscos, com vistas na estabilidade. Ela também envolve um bom planejamento tributário, minimizando o impacto fiscal sobre a transferência de propriedade, prevendo diversificação de investimentos e proteção de ativos. Para que tudo flua de forma adequada, muitas vezes são utilizados consultores especializados, como advogados, contadores e consultores de sucessão.

Em resumo, a cultura de governança em empresas familiares facilita a transição geracional ao criar um ambiente estruturado e previsível. Ela fornece mecanismos para resolução de conflitos, preparação de sucessores e garantia de continuidade do negócio desenvolvido. Ao mesmo tempo, protege a identidade familiar e seus valores.


Fonte: Izabela Rücker Curi - advogada, sócia fundadora do Rücker Curi - Advocacia e Consultoria Jurídica e da Smart Law, startup focada em soluções jurídicas personalizadas para o cliente corporativo. Atuante como conselheira de administração, certificada pelo IBGC.