Participação feminina no setor imobiliário cresce 144% na última década




Nos últimos anos, a presença feminina no setor imobiliário tem aumentado de forma expressiva, refletindo uma tendência global de empoderamento e protagonismo feminino. As profissionais vêm assumindo papéis de destaque como gestoras de fundos, engenheiras, corretoras e empreendedoras, reformulando o departamento com uma abordagem mais inclusiva e sustentável, fundamentada em princípios de equidade e diversidade. No entanto, essa realidade é relativamente recente.

Com o tempo, o setor passou por transformações significativas, e hoje as mulheres representam cerca de 30% das credenciais emitidas pelo Conselho Federal de Corretores de Imóveis (Cofeci). Esse crescimento expressivo de 144% na última década demonstra o crescente interesse feminino pelo mercado imobiliário e impacta na mudança cultural em direção à equidade de gênero no ambiente de trabalho.

Historicamente, o mercado imobiliário era dominado pelos homens. Até 1958, as mulheres sequer tinham permissão legal para atuar como corretoras de imóveis. A profissão permaneceu majoritariamente masculina, e em 1990, elas ocupavam apenas 8% das posições na área. O mercado imobiliário é machista, masculino e masculinizado, e falar dessa realidade é essencial para inovar. Minhas palavras podem parecer duras, mas revelam uma realidade incontestável para quem presta atenção ao panorama. Acredito que reconhecer essas questões é o primeiro passo para construirmos um ambiente mais inclusivo e justo.

A ascensão feminina no setor não se limita apenas à corretagem. Elas também representam uma parcela significativa nos processos de decisão de compra, sendo as principais responsáveis por 70% das aquisições de imóveis, conforme levantamento do Portal Zap.

Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) indicam que empresas lideradas por mulheres podem ter até 20% melhores resultados, especialmente por conta de suas habilidades de comunicação e visão estratégica. Para a Elisa, as profissionais também se destacam pela escuta ativa e atenção aos detalhes, competências essenciais em um setor que demanda adaptabilidade e uma forte conexão com as necessidades dos clientes.

61% das mulheres neste mercado relatam assédio moral e sexual:

Apesar desses avanços, os desafios permanecem. Dados do Ministério da Fazenda indicam que quase todas as profissões de base na área – como supervisores de construção e ajudantes de obras civis – ainda são ocupadas, em sua maioria, por homens. Essa situação ilustra a resistência da indústria em incorporar a diversidade em todas as áreas, especialmente nas funções operacionais e técnicas, onde a presença feminina ainda é mínima.

Outros obstáculos persistem, como a desigualdade salarial e o assédio. Cerca de 61% das mulheres neste mercado relatam ter enfrentado situações constrangedoras no ambiente de trabalho, incluindo assédio moral e sexual.

Dados alarmantes do Índice Regional de Assimetrias (IRA) 2023, promovido pelo Instituto Mulheres do Imobiliário (IMI) com o Instituto de Pesquisa & Estudos do Feminino (Ipefem), revelam que 71% das colaboradoras já sofreram o bropriating — a prática de um homem se apropriar de uma ideia de uma mulher e levar os créditos por ela, e 35% delas passaram por essa situação mais de três vezes.

“Essa prática não só desvaloriza o trabalho e a criatividade das mulheres, mas também reforça a desigualdade de gênero ao perpetuar a ideia de que as contribuições masculinas são mais valiosas ou dignas de reconhecimento. O impacto psicológico e profissional é significativo, minando a confiança e as oportunidades de ascensão delas no ambiente corporativo. Além disso, esse tipo de comportamento contribui diretamente para o aumento dos níveis de estresse e burnout entre as profissionais”, pontua a psicanalista e Presidente do Ipefem (Instituto de Pesquisa e Estudos do Feminino), Ana Tomazelli.

Ainda assim, o setor imobiliário tem se tornado mais receptivo a mudanças, e a adoção de práticas ESG (Ambiental, Social e Governança) por empresas do ramo que vêm promovendo um ambiente de trabalho mais seguro e justo para todos.

38% delas pontuam a falta de apoio das empresas em ações que promovam políticas D&I:

De acordo com uma pesquisa da Women Leadership, a ausência de políticas de diversidade e equidade é o que mais incomoda as mulheres do ramo. Para 38% delas, falta apoio das empresas em ações que promovam essas políticas. Outras 20,7% destacam a necessidade de investimento em educação corporativa, e 20,5% sentem a falta de discussões construtivas sobre o tema.

A valorização da diversidade e a promoção da equidade de gênero não apenas fortalecem o mercado imobiliário, mas também impulsionam a inovação e a competitividade. À medida que mais profissionais ingressam neste universo, trazendo diferentes perspectivas e abordagens, o mercado se torna mais resiliente e adaptável às mudanças. Isso mostra que a inclusão feminina não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia de sucesso a longo prazo para o mercado.

O futuro do setor imobiliário dependerá, em grande parte, da capacidade de se abrir ainda mais para a diversidade. Iniciativas que promovam a capacitação em áreas técnicas e operacionais, além de programas de mentoria e liderança, são essenciais para que possam usufruir plenamente do potencial feminino. 

Acredito que a presença feminina continuará crescendo e, com isso, o mercado imobiliário terá a oportunidade de se reinventar, promovendo um ambiente mais inclusivo, justo e sustentável. A pergunta que fica é: como as empresas escolherão trilhar esse caminho evolutivo e aprender novos princípios e práticas.


Fonte: Elisa Rosenthal - fundadora do Instituto Mulheres do Imobiliário.