Causando uma em cada nove mortes em todo o mundo, a poluição do ar é a maior ameaça ambiental à saúde humana. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a poluição do ar é responsável por cerca de sete milhões de mortes prematuras em todo o mundo todos os anos.
O recente Relatório Mundial sobre a Qualidade do Ar produzido pelo IQAir forneceu uma revisão global dos dados de qualidade do ar para o ano de 2023. O relatório usou dados da qualidade a partir da presença das partículas finas de poluição com menos de 2,5 milionésimos de metro, o PM 2,5 (material particulado 2,5), de 7.812 cidades em 134 países.
Em 2023 a orientação da OMS era de não haver mais de 5 microgramas por metro cúbico de PM 2,5 e somente 7 países cumpriram essa orientação. O Brasil ocupou a 83ª posição no ranking mundial, sendo Bangladesh o primeiro. Na América Latina, ficamos na 10ª posição, sendo o México o primeiro. No Brasil, durante 2023, o município de Xapuri no Acre foi o que mais emitiu o PM 2,5, seguido por Manaus e Osasco.
Dados de junho de 2024 apontam Camaçari, na Bahia, e as capitais Curitiba e São Paulo como os principais poluidores do país.
O Material Particulado PM 2,.5 (Particulate Matter, em inglês) são partículas finas de aerossol medindo até 2,5 mícrons de diâmetro com impactos significativos na saúde humana e ao meio ambiente. As fontes naturais incluem tempestades de poeira e incêndios florestais.
A exposição à poluição atmosférica do PM 2,5 provoca e agrava numerosos problemas de saúde, incluindo asma, câncer, acidente vascular cerebral, Alzheimer e doenças pulmonares. Além disso, a exposição a níveis elevados de partículas finas pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo das crianças, levar a problemas de saúde mental e complicar doenças existentes, incluindo a diabetes.
As mudanças climáticas, impulsionadas pelas emissões de gases do efeito de estufa, desempenham um papel fundamental na influência das concentrações de poluentes atmosféricos PM 2,5 através de várias vias, incluindo motores de combustão, processos industriais, geração de energia, queima de carvão e madeira, atividades agrícolas e de construção, além do impacto de fumaça dos incêndios florestais.
As mudanças climáticas podem alterar os padrões climáticos naturais, levando a mudanças no vento e na precipitação. Isto, por sua vez, pode afetar a dispersão e remoção do PM 2,5 da atmosfera.
As projeções indicam que as a mudanças climáticas irão agravar os problemas de qualidade do ar, com fenômenos de calor extremo a tornarem-se mais intensos e frequentes. Períodos prolongados de condições secas e quentes levam ao aumento da frequência e gravidade dos incêndios florestais. Os incêndios florestais emitem gases e partículas finas que representam ameaças à saúde humana, levando à mortalidade prematura.
Desafios para o Brasil
No norte do Brasil, os incêndios florestais e o desmatamento na Amazônia têm um forte impacto na qualidade do ar do país. O desmatamento está sendo impulsionado pela produção de gado, soja e cana-de-açúcar, pela especulação imobiliária e pela indústria de carvão vegetal. Embora o desmatamento anual tenha sido reduzido em 2023 e continue em queda em 2024 na Amazônia, 26% da região de 8 milhões de quilômetros quadrados já sofreu grave degradação da terra. A poluição atmosférica causada pelos incêndios florestais na região representa um risco significativo para a saúde do país. No Brasil, são mais de 80 mil mortes por ano devido à poluição do ar.
Em 2024 os incêndios florestais no bioma Pantanal começaram mais cedo e têm aumentado. Dados do programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram para o mês de junho que em 1998 foram detectados 12 focos ativos, em 2005 foram 435 e em 2020 foram 406. Já nos primeiros 17 dias de junho de 2024, foram detectados 1347 focos com o máximo de 124 no dia 7 do mês de junho.
O material particulado dos incêndios florestais pode viajar por centenas de quilômetros, impactando negativamente as populações distantes do fogo original. Os governos devem ter, colocar em prática e intensificar seus compromissos com políticas de sustentabilidade. Temos que zerar o desmatamento, a degradação florestal e os incêndios da vegetação em todos biomas brasileiros.
Fonte: Carlos Nobre