Economia de baixo carbono pode agregar R$ 2,8 trilhões ao PIB




O estudo “Nova Economia para o Brasil”, desenvolvido pelo instituto de pesquisa WRI Brasil e pelo projeto The New Climate Economy, juntamente com pesquisadores da COPPE/UFRJ, PUC/RJ e outras instituições, destaca que uma mudança rápida para a economia de baixo carbono poderia agregar R$ 2,8 trilhões ao PIB brasileiro até 2030.

A adoção de medidas sustentáveis, em comparação com as práticas habituais da economia, seria capaz de gerar 2 milhões de empregos, proporcionar receitas fiscais adicionais de R$ 742 milhões e R$ 19 bilhões em produtividade agrícola, caso fossem adotadas desde 2020. Além disso, a redução nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 2025, em relação aos níveis de 2005, seria de 42%.

O conceito de economia de baixo carbono leva em consideração a redução das emissões de GEE e o uso racional dos recursos naturais. Possui quatro pilares: transição energética, mercado de carbono, conservação florestal e promoção da economia circular.

No estudo, considera-se a adoção de medidas como utilização de veículos híbridos e elétricos, maior uso de carvão vegetal no segmento de ferro, redução da perda e desperdício de alimentos e aumento de produtividade agrícola com a ampliação de áreas de vegetação nativa. Esse cenário também leva em conta uma menor pressão por desmatamento.

O Brasil talvez seja o país com o maior potencial para se beneficiar dessa nova ordem global, focada no desenvolvimento sustentável. O país detém a maior floresta tropical contínua do mundo, além de outros biomas de alta relevância para o equilíbrio climático e a biodiversidade. Uma das principais fontes energéticas são as usinas hidrelétricas, que geram energia de forma renovável e de relativa baixa emissão, além da utilização de outras fontes sustentáveis.

O desafio é como o Brasil trata essa posição de destaque no cenário mundial. Higuchi alerta para o problema do desmatamento, que continua ocorrendo ano após ano, e a necessidade de se promover mais avanços, considerando que algumas iniciativas já estão sendo desenvolvidas.

Precisamos investir mais e melhor para fazer o uso sustentável dos nossos espaços e aproveitar todo o potencial disponível. De qualquer forma, é preciso reconhecer os esforços dos setores energético e do agronegócio, este último com emissões relativamente estáveis mesmo com o aumento de produtividade.

Sobre o pilar mercado de carbono, o especialista defende que ainda há muitas questões em que serão necessários progressos, desde a regulamentação do mercado até os métodos de quantificação e verificação de carbono. A respeito dos inventários de emissões dos mais diversos setores, ele afirma que é importante instituir princípios a serem seguidos.

Precisamos estabelecer padrões de mensuração, em especial a quantificação do carbono em si. É necessário mensurar de forma verificável. Apenas estimativas "vazias" não servem para alcançar o real objetivo, que é conter o aquecimento global e a mudança do clima.

Outro pilar relacionado à economia de baixo carbono sobre o qual o especialista chama a atenção é a conservação de florestas. Inicialmente, ele ressalta que é preciso distinguir “preservação florestal” de “conservação florestal”, pois o primeiro significa “manter intacto” e o segundo diz respeito à “explorar sustentavelmente.

Dentro das opções de projetos de conservação das florestas, destaca-se o manejo sustentável de produtos madeireiros e não madeireiros, este último de menor impacto. Quanto ao manejo florestal madeireiro, é preciso observar um melhor aproveitamento da madeira e a possibilidade de agregar valor ao produto, com o investimento em silvicultura e enriquecimento florestal.

Mais um ponto importante para a transição a uma economia de baixo carbono refere-se às medidas a serem adotadas pelo setor industrial. Um estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), chamado “Oportunidades e riscos da descarbonização da indústria brasileira – roteiro para uma estratégia nacional”, indica que serão necessários investimentos de aproximadamente R$ 40 bilhões até 2050 para o processo de descarbonização do setor.

É essencial otimizar processos, introduzir tecnologia de alto rendimento e investir em manejo de resíduos, medidas essas que tendem a maximizar lucros, ampliar fatias de mercado, obter diferenciação da marca e viabilizar acessos a nichos de mercado específicos.

Por fim, é necessária a ampliação do debate público sobre a transição a uma economia de baixo carbono, ou ainda de baixa emissão, termo que o especialista considera mais adequado. É preciso incluir todos os setores da sociedade nesse debate, em especial o acadêmico, de modo sério, sereno, isento de ideologias e centrado no embasamento técnico-científico. Também é necessário investir em educação e na formação de pessoas capazes de implementar a nova cultura, além de atuar na conscientização da sociedade como um todo.


Fonte: Francisco Higuchi - CEO da certificadora de créditos de carbono Tero Carbon. Doutor em Ecologia e Manejo de Florestas Tropicais (UFPR/INPA/ FFPRI Japão) e que possui mais de 15 anos de experiência em projetos florestais e de estimativa de carbono na Amazônia.