História do vidro revela avanços para a cadeia de reciclagem




O vidro pode ser um dos resíduos de maior eficiência dentro da cadeia de reciclagem quando realizado o descarte seguro e adequado, além de proporcionar renda e oportunidades profissionais aos envolvidos nas ações que englobam a economia circular. Fabricado há mais de 5 mil anos pela humanidade, os romanos foram os responsáveis por utilizar carbonato de sódio para transformar areia em vidro transparente, que ao longo dos séculos também foi um material fundamental ao avanço científico em áreas como a química, a física e a biologia. Por ser composto de matérias-primas naturais, em sua maioria, como areia e calcário, o vidro pode ser reciclado infinitas vezes.

Um dos principais fatos relativos ao vidro é o baixo valor comercial atrelado a uma operação logística bastante complexa, devido à falta de centros de triagem adequados pelo país. Por esse motivo, a eureciclo operacionaliza, além dos créditos de reciclagem, a viabilização da cadeia de reciclagem de vidro por meio da criação de hubs locais para absorver corretamente as cargas dos operadores para depois realizar a triagem realizar o envio de quantidades maiores para as indústrias recicladoras.

No Brasil, a concentração das vidrarias está localizada no Sul e Sudeste. Diante desse cenário em que há baixa capilarização das regiões do país com possibilidades de reciclar o vidro, existe um entrave logístico em razão das grandes distâncias para ser reinserido no ciclo de produção da indústria vidreira. Uma carga de Manaus, por exemplo, teria que percorrer mais de 3,8 mil quilômetros para chegar em São Paulo ou mais de 4,6 mil quilômetros até Sergipe.

Por esse motivo, o valor do frete ultrapassa a remuneração que uma cooperativa de reciclagem receberia comercializando o vidro, o que torna o processo economicamente inviável. Por isso, os incentivos financeiros e projetos personalizados se tornam grandes aliados na estruturação da cadeia de reciclagem, considerando a realidade de cada local.

Outro enorme desafio que envolve a reciclagem do material é a questão da periculosidade para catadores, cooperados e profissionais ambientais que manuseiam o vidro. Quando mal embalados e quebrados, fatos que acontecem com recorrência, os vidros pós-consumo podem provocar graves ferimentos em que os manuseia.

Por esse motivo é tão importante o fornecimento e utilização dos equipamentos de proteção individual (EPIs) para manusear as embalagens como garrafas, potes e demais materiais feitos de vidro, além da conscientização coletiva por meio de campanhas informativas e parcerias com as prefeituras para fomentar a coleta seletiva.

Estruturação da cadeia do vidro no Brasil:

No contexto nacional, a eureciclo tem realizado projetos importantes de estruturação da cadeia do vidro em diversos estados, cujo início foi em Mato Grosso do Sul (2021) e que vem sendo progressivamente ampliado para outros estados como Maranhão, Piauí, Bahia, Amazonas, Mato Grosso e Goiás e Pernambuco; este último com uma importante ação realizada em parceria com a prefeitura de Caruaru, na tradicional festa de São João, onde estima-se ter reciclado 600 toneladas de vidro por coletados nos PEVs (pontos de entrega voluntária) instalados pela eureciclo.

Já o caso do Amazonas demonstrou-se especial pelos desafios envolvidos e mais ainda pelos excelentes resultados alcançados com a estruturação da cadeia realizada pela eureciclo com o poder público local. Quando foi realizado o primeiro diagnóstico, ainda havia a pandemia da covid-19 e vidro que era coletado pela prefeitura de Manaus era destinado para a cooperativa, mas depois da separação o material permanecia parado até a prefeitura recolhê-lo de volta e mandá-lo para o aterro. Após a atuação da eureciclo, onde a reciclagem do material passou de 0 em 2021 para 1.000 toneladas/mês em 2023 no estado.

Considerando os sete estados que já receberam o projeto, são 18 cooperativas e operadores privados que participam com a triagem do material e o espaço de armazenamento (hub). Desde 2021, foram recicladas e reintegradas à cadeia produtiva cerca de 8.400 toneladas de vidro, e a expectativa é que esse volume atinja 6.000 toneladas em 2023. A capacidade de triagem e aproveitamento dos resíduos aumentou mais de 440%.

Há planos de expansão para o Espírito Santo, Paraíba, Rio Grande do Norte e Rondônia. Conheça o case de reciclagem no Amazonas que tornou–se um parâmetro de qualidade na estruturação da cadeia do vidro e o desenvolvimento de uma cadeia produtiva sustentável no país por meio da inclusão socioambiental e do incremento de renda obtido pelas famílias envolvidas.

Dicas para um descarte seguro e algumas curiosidades:

O vidro tem o desafio de chegar intacto até a cooperativa para a triagem e de ser compactado para facilitar a logística na venda do material. Outro ponto que complica muito a reciclagem do vidro pelo Brasil é o fato de os recicladores estarem concentrados na região Sudeste do país.

No caso do vidro quebrado, o ideal é colocá-lo numa embalagem usada, numa garrafa pet cortada ao meio ou num material vedado e identificado, para evitar acidentes para quem estiver coletando o material.

Procure nos pontos comerciais, como supermercados, e também oferecidos por centrais de triagem e prefeituras os PEVs (pontos de entrega voluntária), que consistem em áreas adaptadas e escolhidas estrategicamente para receber os resíduos, que podem demorar até cinco mil anos para se decompor.

O vidro tem a vantagem sobre os demais resíduos em poder ser reciclado 100%, sem prejuízo de sua qualidade original.

A reciclagem do vidro não resulta em nenhuma perda de volume, permitindo a sua reutilização contínua, garantindo um excelente desempenho em todos os ciclos de reciclagem.

- Como funciona a compensação ambiental e os créditos de reciclagem?

A eureciclo foi pioneira no Brasil ao trazer, em 2016, o conceito de compensação ambiental para o país, inspirado no modelo europeu que existe há quase 30 anos, e emitir os créditos de reciclagem. Os créditos de reciclagem funcionam como os créditos de carbono e foram regulamentados com a publicação do Decreto Federal no 11.044/22, atualizado e substituído, a partir de 14 de abril de 2023, pelo Decreto Federal no 11.413/23.

Dado que as embalagens após o uso pelo consumidor têm um destino difuso, ainda mais em um país de dimensões continentais, a compensação ambiental é considerada uma forma mais viável técnica e economicamente para cumprir com a logística reversa desses resíduos. Atuamos por Estado, compensando o volume de resíduos equivalentes no estado em que foi comercializado.

Ao direcionar para reciclagem resíduos equivalentes aos seus, em peso e material, as empresas de bens de consumo, remuneram as centrais de triagem (cooperativas e operadores) pelo serviço ambiental prestado e recebem os Certificados de Reciclagem como forma de comprovação legal. É um mecanismo financeiro que ajuda a equilibrar os impactos dos resíduos sólidos na natureza, incentiva a cadeia de reciclagem de materiais complexos e oferece sustentabilidade financeira para o setor.

Ao longo de sua trajetória, a eureciclo compensou mais de 828 mil toneladas de resíduos e distribuiu mais de R$50 milhões às mais de 420 centrais de triagem parceiras, levando renda para mais de 14 mil famílias.


Fonte: Karoliny Gouveia Sabino