O tema sustentabilidade está cada vez mais presente na estratégia organizacional, sendo importante sua consideração nos Conselhos de Administração.
Nessa esteira, há um mês a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) publicou sua resolução 193 que estabelece a obrigatoriedade de elaboração e divulgação de relatórios de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade segundo padrões internacionais, no caso o ISSB (International Sustainability Standards Board). A resolução torna a publicação periódica voluntária para companhias abertas, fundos de investimento e companhias securitizadoras nos exercícios sociais a partir de 2024 e obrigatória após 1º de janeiro de 2026.
Pesquisa recente envolvendo 26.000 entrevistados, incluindo brasileiros, realizada pela Kantar, entidade internacional de coleta e análise de dados de Marketing, aponta o ceticismo do consumidor com as ações ESG divulgadas pelas empresas, sendo que 52% dos respondentes relataram ter visto ou ouvido informações falsas ou enganosas sobre as ações sustentáveis das marcas, que são os chamados greenwashing. O relatório ainda afirma que 50% do público tomou sua decisão pela compra ou não de produtos / serviços face ao seu impacto ambiental ou social.
No Brasil soma-se aos vários casos de Governance Washing publicados recentemente, tem motivado, ao menos momentaneamente, determinados stakeholders a rejeitarem determinadas marcas, quer sejam os compradores deixando de consumir por princípio ou investidores distanciando-se dos riscos de entidades que ferem os princípios de transparência e integridade.
Nesse sentido, as boas práticas de Governança Corporativa, segundo o IBGC, na 6ª Edição do seu código de melhores práticas, além dos dois princípios destacados acima (transparência e integridade), destacam a equidade, a responsabilização (accountability) e a sustentabilidade.
A Sustentabilidade, perspectiva inserida nessa última publicação, talvez seja resultado da relevância que o tema ESG vem tomando nas Organizações, consistindo em estratégia obrigatória para as empresas que querem prosperar no mercado ou obter acesso a investimentos com melhores taxas, uma vez que o mercado financeiro tem entendido como de menor risco as empresas que apresentam foco genuíno em sustentabilidade.
Segundo pesquisa da KPMG, há um crescimento percentual de Comitês de Sustentabilidade nas organizações brasileiras, ocupando uma honrosa 6ª colocação entre os tipos existentes em 2022. Contudo, mesmo com a sinalização de que a integração sustentabilidade e finanças já é uma realidade, verifica-se que o Conselho de Administração ainda carece de representantes do tema.
Essa assertiva é compreensível, visto ser a sustentabilidade um tema relativamente novo nos Conselhos, surgindo efetivamente nas pautas de governança corporativa em 2021 no Brasil e face à carência de profissionais na área, normalmente formados na prática.
Contudo, o estudo já aponta que há procura por especializações de conselheiros em ESG, assim como mostra o aumento da diversidade entre seus componentes, o que, além de ser por si uma pauta da sustentabilidade, certamente estimulará a discussão e especialização nessa área.
A sustentabilidade já é uma realidade como pauta estratégica das organizações, e sua importância vem tomando ano a ano mais relevância no mundo empresarial. Ter ou não ter um membro especialista no Conselho de Administração é uma opção de cada organização, visto ser um tema de responsabilidade de todos. Contudo, fica a reflexão sobre a necessidade do tema para os negócios.