Atualmente, voluntários se dedicam a limpar também praças, parques, lagos, rios e represas, dentre outros espaços públicos. Mas ao criar este evento nos Estados Unidos, em 1986, a organização pioneira Ocean Conservancy tinha como objetivo promover uma “Limpeza Costeira Internacional”, focada nas praias. Dados sobre a poluição marinha por plásticos revelam que mais que nunca é necessário agir em defesa da saúde e restauração dos oceanos:
A cada minuto, dois caminhões de lixo plástico são despejados no oceano, globalmente.
Somente o Brasil polui o oceano, com pelo menos 325 milhões de quilos de lixo plástico todo ano.
Um em cada dez animais marinhos morrem por ingestão de plásticos no Brasil.
No Brasil, organizações ambientalistas autônomas iniciaram essas ações de mobilização no final dos anos de 1990 e começo de 2000. Algumas delas apontam que entre 70% e 90% do lixo coletado nas limpezas de praia no Brasil é de plástico descartável. “Os resíduos mais encontrados em áreas urbanas ou semi-urbanas são itens plásticos provenientes de embalagens de gêneros alimentícios, líquidos e sólidos. Muitos materiais são decorrentes do abandono intencional pelos frequentadores”, explica João Malavolta, fundador do Instituto Ecosurf – que irá promover, com outras organizações, dez monitoramentos de praia no município de Imbituba (SC) amanhã (16).
Já em áreas isoladas, como praias em unidades de conservação de proteção integral ou ilhas, “os resíduos mostram maior desgaste nas embalagens, indicando que estão no ambiente há mais tempo e que, possivelmente, foram transportados por longas distâncias, através de algum sistema de drenagem, córregos ou rios, até chegarem no mar. Esses resíduos têm origem terrestre”, complementa ele.
O Instituto Ecológico Aqualung há 15 anos realiza o “Projeto Tatuí de Educação Ambiental e Limpeza de Praias”. A edição de amanhã, que acontecerá na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, contará com o apoio de quinze parceiros – entre as organizações da sociedade civil, estão os Escoteiros do Brasil, o Instituto Mar Urbano e a Oceana. Escolas, empresas e órgãos públicos também participam da atividade que tem público estimado em 500 pessoas e a expectativa de recolher aproximadamente 400 quilos de lixo.
“Além da conscientização ambiental, do engajamento da comunidade local e da própria remoção do lixo, ali na região da Baía de Guanabara, também queremos chamar atenção para os diferentes tipos de resíduos e as marcas dos produtos mais encontradas”, afirma Bianca Amorim, diretora de Projetos Educacionais do Aqualung.
A partir da triagem dos resíduos coletados, uma equipe de estudantes universitários produz uma “auditoria das marcas”, que explicita que as grandes corporações seguem no topo do ranking dos maiores poluidores por anos seguidos. “Normalmente, sempre está em primeiro lugar a Coca-Cola, a Nestlé, a Braskem...”, revela Amorim.
É preciso fechar a torneira da produção
A poluição por plásticos é tão preocupante hoje que a Organização das Nações Unidas (ONU) já a considera a 2ª maior ameaça ambiental ao planeta, atrás apenas da emergência climática. Na avaliação de Natalie Gil, diretora executiva da Sea Sheperd, por ser um país continental, o Brasil tem muitos desafios ainda em relação a saneamento básico e gestão de resíduos, com um índice de reciclagem muito precário. “Temos que realmente fechar a torneira da produção do plástico. Tornar urgente isso, com metas claras, para fazer esta grande transição do plástico de uso único para outras alternativas. Precisamos da implementação de leis rápidas para causar grandes mudanças”, pontua. A Sea Sheperd promove ações de limpeza de praia desde 1999 no Brasil. Nos próximos finais de semana, serão 12 ações em sete estados, incluindo a limpeza de rios, no Amazonas e no Paraná, e da Represa de Guarapiranga, em São Paulo.
Preocupadas em buscar soluções concretas para o problema da poluição por plásticos, mais de 70 organizações estão à frente da Campanha Pare o Tsunami de Plástico, que tem como propósito engajar a sociedade brasileira para pressionar o Congresso Nacional a fazer avançar o Projeto de Lei 2524/2022. Apelidado de “PL do Oceano Sem Plástico”, ele já está em tramitação no Senado Federal e propõe a implementação da Economia Circular do Plástico.
Segundo avaliação de Lara Iwanicki, gerente de advocacy da Oceana, “esse PL atua na raiz do problema, com medidas para reduzir a produção e oferta de itens de plástico descartável desnecessários e problemáticos e garantir que os itens necessários sejam reutilizáveis, retornáveis, comprovadamente recicláveis ou compostáveis, de modo a serem mantidos dentro do sistema e não mais descartados no meio ambiente”.
A diretora executiva do Instituto Argonauta, Carla Beatriz Barbosa, reforça: “Essa regulamentação é fundamental para estabelecer as medidas necessárias para reduzir o uso de plásticos descartáveis, diretrizes claras e responsabilidades para os diferentes setores envolvidos”. Com atuação ano no Litoral Norte de São Paulo, o Argonauta realiza entre 20 e 30 ações de limpeza de praia por ano.
Na avaliação de João Malavolta, o PL 2524 tem condições de ressignificar a indústria petroquímica em relação à produção indiscriminada dos plásticos e sua conversão. “Além disso, traz elementos que apoiam o trabalho da reciclagem nas cooperativas, possibilitando que somente plásticos com reciclabilidade cheguem às esteiras, otimizando o tempo e ganhos dos cooperados”, conclui ele.
Fonte: Patricia Bonilha