ESG não é só para escritórios grandes




A adoção de práticas de integridade social, ambiental e de governança, da sigla ESG, nas práticas empresariais e de investimentos não apenas gera ambientes mais justos e humanos, mas pode ter também efeitos financeiros, com redução parcial ou total dos custos adicionais da corrupção no Brasil, estimados em 20%.

A afirmação é da advogada Ligia Maura Costa, também professora titular na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), no Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos. Ela falou durante a 11ª Conferência Regional da Advocacia de 2023 (CRADV23) em Santos, reunindo as 12 subseções que compõem a segunda região administrativa da entidade paulista.

“É difícil falar de integridade e práticas de boa governança em um país que tradicionalmente tem problemas sistêmicos, mas é possível mudar. Basta querer”, disse Costa. A especialista trouxe três aspectos para provar os motivos pelos quais a promoção da integridade e da governança deve interessar a todos e todas. O primeiro aspecto é o financeiro, porque, segundo ela, quando se faz o que é certo, se evita perder mercado e tomar multas. O segundo aspecto é o reputacional: “Criar reputação demora milênios, destruir a reputação demora segundos”. Por fim, do aspecto comercial, seu ponto de vista é que as falhas na integridade elevam custos e diminuem a clientela.

Além disso, a promoção da integridade e governança corporativa também é importante, porque faz parte dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). “Os ODS compõem uma agenda mundial para a construção de políticas públicas que possam guiar a humanidade até 2030. O Brasil está muito longe ainda da implementação desses ODS, infelizmente”, lamentou a advogada.

Costa trouxe um histórico do ESG desde a época em que a sigla usada era a CRS, referente ao código de Conduta e Responsabilidade Social. Se antes o entendimento de CRS era muito ligado à filantropia, em 1987 um relatório criado em uma conferência da ONU em Estocolmo trouxe, pela primeira vez, a ideia de sustentabilidade como aquilo que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades.

Durante sua explanação na Conferência, Costa apresentou o manual de Direito, Governança e Integridade, criado pela Comissão de Governança e Integridade da OAB SP, da qual é presidente, para auxiliar a advocacia unipessoal, pequenos e médios escritórios com temas de governança e integridade. “ Nosso trabalho é facilitar a vida. Cada vez mais as empresas vão começar a exigir, e não só as empresas privadas, que os pequenos e médios tenham alguns padrões de governança e integridade. Essa é a razão de ser do material”, explicou.

"Com o decorrer do tempo, um escritório com uma postura íntegra promove um tipo de escudo, porque todo mundo sabe que trabalha com integridade e ninguém vai querer fazer uma proposta totalmente indecente”, afirmou a professora.

Costa concluiu que a cultura de integridade vai além do cumprimento de normas e regras, é uma mudança comportamental que gera lucros a longo prazo. “Esse é o caminho que nós podemos seguir para fazer do país um lugar melhor, se não for para a nossa geração, que pelo menos seja para os nossos filhos e netos”, finalizou.


Fonte: Laís Araujo