Desafios e oportunidades da descarbonização no Brasil




A busca por alternativas mais sustentáveis na matriz energética do Brasil ganha destaque em meio à crescente preocupação com as mudanças climáticas. Nesse contexto, a descarbonização surge como um desafio multifacetado que envolve não apenas a transformação da matriz energética, mas também implica em impactos socioeconômicos profundos. O caminho para os próximos anos é incentivar a descarbonização do carvão por meio de tecnologias de captura de CO2, de acordo com especialistas.

Destaco a importância de uma abordagem responsável e equilibrada nesse processo de transição. Precisamos respeitar o meio ambiente e utilizar de tecnologias que gerem o menor impacto ou impacto zero.

Atualmente, o Brasil mantém oito usinas termelétricas a carvão, totalizando cerca de 30 geradores. O impacto socioeconômico dessas usinas é significativo, já que elas empregam muitos trabalhadores e são essenciais para o fornecimento de energia em diversas regiões do país. Enfatizo que a descarbonização não é apenas a geração de energia sem emissão de gases de efeito estufa (ou com mitigação desta emissão), mas uma transformação que afeta diretamente a vida das pessoas.

Um dos desafios dessa transição é a diversidade das usinas termelétricas a carvão no país. Algumas delas estão localizadas no Nordeste e dependem de importações para operar. Fechar essas usinas pode ser mais fácil em comparação com aquelas que estão integradas localmente.

De acordo com especialistas, a energia nuclear surge como uma alternativa promissora. Ela tem características ímpares por apresentar como vantagem ambiental a não utilização de combustíveis fósseis sem captura de gases (que provocam o aquecimento global e prejudicam o meio ambiente), gerar energia de forma contínua, sem dependência das condições ambientais, e ter grande densidade energética, ocupando espaços mínimos em relação à energia total gerada. A energia nuclear é uma fonte de energia confiável e estável, que pode fornecer eletricidade 24 horas por dia, 7 dias por semana, independentemente das condições climáticas. Isso é especialmente importante em um cenário de alta demanda por eletricidade, como o aumento do uso de veículos elétricos.

Destaco uma tendência internacional relevante para o Brasil: os "small reactors" ou pequenos reatores nucleares. O Brasil precisa estudar sua viabilidade econômica e ambiental. Um projeto piloto nesse sentido já está em andamento em Santa Catarina, com a empresa Diamante Energia. A ideia é utilizar a energia nuclear para a descarbonização e aproveitar o calor gerado para as indústrias, como a siderúrgica, tornando a produção de energia mais limpa e estável. O Complexo Termelétrico Jorge Lacerda é uma importante fonte de energia elétrica para Santa Catarina. É o maior movido a carvão da América Latina.

- Missão em Santa Catarina discutiu a descarbonização:

A ABDAN organizou recentemente uma missão estratégica à Diamante Energia, gestora do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo, Santa Catarina para discutir o projeto de descarbonização. A iniciativa visou aprofundar o conhecimento sobre tecnologias sustentáveis e promover a troca de experiências entre as principais empresas do setor, com foco especial na área de energia nuclear de pequeno porte (SMR - Small Modular Reactors). Hoje a empresa, com capacidade total instalada de 740MW, gera mais de 21 mil empregos diretos e indiretos e injeta cerca de 6BI na economia do sul do estado todo ano.

A missão teve a participação de renomadas empresas do setor, incluindo Andrade & Gutierrez, OEC Engenharia, Grupo MPE Engenharia, Tractebel Engie, EDF Brasil, Amazul, Holtec, Westinghouse, Atech e Rosatom. Os representantes dessas empresas tiveram a oportunidade de conhecer de perto as instalações da Diamante Energia em Capivari de Baixo,assim como o Parque Diamante +Energia, com cerca de 50 hectares de área verde disponível para comunidade, bem como seus projetos sociais e gratuitos.

- Transição suave e sustentável:

Em um país com uma matriz energética historicamente dependente de fontes renováveis, a transição para uma economia de baixo carbono é um desafio complexo. O Brasil precisa equilibrar a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa com a manutenção de empregos e o suprimento de energia confiável. A perspectiva dos pequenos reatores nucleares abre uma nova frente de discussão sobre como atingir esse equilíbrio. A energia nuclear tem desempenhado um papel crucial na descarbonização do setor elétrico em países como França, Canadá, Suécia e Suíça, fornecendo um quarto da eletricidade de baixo carbono.

A descarbonização no Brasil vai além da simples mudança na matriz energética. Envolve decisões complexas com impactos significativos na vida das pessoas e na economia do país. O Brasil precisa explorar cuidadosamente as oportunidades apresentadas pelos pequenos reatores nucleares, como um possível caminho para uma transição mais suave e sustentável rumo a uma economia de baixo carbono. É um desafio que exige responsabilidade, estudo aprofundado e diálogo aberto com a sociedade para garantir um futuro mais limpo e próspero.


Fonte: Celso Cunha - presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento Nuclear (ABDAN)