O papel das sementes no desenvolvimento sustentável




É praticamente impossível pensar em desenvolvimento sustentável sem falar de conservação e recuperação de ecossistemas, já que a biodiversidade só é garantida quando o princípio de toda a cadeia é preservado e as principais fontes de tal potencial são as sementes. 

Detentoras do futuro da produção e da vegetação diante das emergências climáticas e da intervenção antrópica, são essas pequenas "cápsulas" de DNA que viabilizam a geração saudável da agricultura e da natureza.

Não é à toa que existem cofres para protegê-las. O Svalbard Global Seed Vault, mais conhecido pelo nome Banco Mundial de Sementes ou pelo apelido Cofre do Apocalipse, fica em uma ilha da Noruega e há 15 anos mantém espécies de todo o globo em uma ação preventiva para cenários de alta gravidade do aquecimento global, por exemplo. Lá estão mais de 1,2 milhão de amostras.

A coordenadora adjunta da Câmara Especializada de Agronomia (CEA) do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), engenheira agrônoma Gisele Herbst Vazquez, explica por que isso acontece: “A riqueza de um país está em sua base genética. Essas sementes têm o poder de multiplicação, por isso a importância de protegê-las”.

No Brasil, os bancos de germoplasma desempenham esse papel de cuidado, estudo e armazenamento dos materiais genéticos das sementes. “Uma agricultura eficiente depende de um bom manejo, iniciado em cultivares modernas desenvolvidas por melhoramento genético”, relata o pesquisador curador do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) Arroz da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Dr. Eng. Agr. Flávio Breseghello.

De acordo com o engenheiro agrônomo, são 23 mil amostras de arroz e 17 mil de feijão no BAG. “O material é utilizado para o desenvolvimento de linhas-filhas (progênies), que, posteriormente, são selecionadas e encaminhadas ao setor de sementes para serem multiplicadas e destinadas para cultivo”, detalha. “É um sistema de sustentabilidade a longo prazo mantido pelo patrimônio nacional”, completa Breseghello.

Quem pensa que o trato com sementes é só para Agronomia se engana. Em relação às variedades para consumo, “o engenheiro de alimentos também trabalha junto ao melhorador genético de forma a agregar valor, selecionando maior teor de proteínas e menor teor de antinutricionais”, exemplifica a coordenadora da Câmara Especializada de Engenharia Química (CEEQ) do Crea-SP, engenheira de alimentos Cláudia Cristina Paschoaleti.

- Sementes que preservam:

O Eng. Agr. Mario Cavallari é inspetor do Crea-SP em Barra do Turvo e atua na conservação de ecossistemas naturais sob o viés genético. Em um de seus projetos, ele voltou-se para a Içara (também chamada Juçara), uma palmeira símbolo da Mata Atlântica que está em risco de extinção devido à exploração ilegal do palmito. Ao usar as sementes para recuperação de áreas originárias do Vale do Ribeira, o engenheiro, que é mestre em recursos florestais, encontrou a possibilidade de aproveitamento da polpa da planta para o açaí, um primo botânico da Juçara. “A nossa lógica foi de valorizar a palmeira em pé e a alma do projeto é a semente em seu ciclo completo: a espécie é aproveitada sem precisar ser desmatada e continua gerando novas cultivares para reflorestamento”, afirma.

O resultado é o resgate de áreas afetadas pelo desmatamento. “As ações de restauração de áreas degradadas têm demandado mais sementes e mudas. Esse é um mercado de trabalho promissor, principalmente levando-se em conta os compromissos internacionais em restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, com o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg)”, menciona o Prof. Dr. Eng. Ftal. Eleandro José Brun, do Curso de Engenharia Florestal e do Programa de Pós-graduação em Agroecossistemas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Dois Vizinhos, e membro da Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais (SBEF).



Fonte: Crea-SP - Instalada há 89 anos, a autarquia federal é responsável pela fiscalização, controle, orientação e aprimoramento do exercício e das atividades profissionais nas áreas da Engenharia, Agronomia e Geociências.