Brasil é competitivo na produção de hidrogênio de baixo carbono




Uma boa notícia para o governo brasileiro que colocou as questões ambientais e climáticas no centro da sua agenda: o nosso país é competitivo na produção de hidrogênio. Esta é a conclusão de uma nota técnica elaborada pelo WWF-Brasil, que analisou da aptidão do Brasil para produzir hidrogênio a partir de energias renováveis abundantes no país: a solar, a eólica e o etanol, observando as mais conhecidas formas de produção: a eletrólise da água com energia solar e eólica e a reforma a vapor do etanol.

O hidrogênio é uma promissora alternativa para a matriz energética limpa que o mundo precisa alcançar até 2050 para manter a temperatura do planeta em níveis seguros, como determina o Acordo de Paris do qual o Brasil é signatário. Vários países estão investindo em seu uso, especialmente por sua versatilidade. Pode ser usado em setores diversos, da geração de energia e transportes até a produção de alimentos, contribuindo de forma expressiva para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

A nota aponta que quando comparada a preços praticados no mercado internacional, observa-se que a produção brasileira pode competir em vários mercados, especialmente quando se considera a baixa pegada de carbono do hidrogênio. “O Brasil tem uma grande oportunidade de aproveitar suas fontes renováveis e fornecer hidrogênio de baixo carbono, seja para o consumo interno ou externo, com preços competitivos”, afirma Ricardo Fujii, especialista de Conservação do WWF-Brasil.

A avaliação mostra que do ponto de vista econômico, o hidrogênio com menor custo é o produzido por meio da eletrólise da energia eólica (5,93 US$/ kgH 2), seguido do obtido com a reforma de etanol (7,39 US$/ kgH 2) e da eletrólise da energia solar (9,52 US$/kgH 2). 

O cálculo do custo de produção de hidrogênio nas opções avaliadas considerou investimentos, custos fixos e variáveis, despesas com a aquisição de combustível (no caso da reforma do etanol) e a margem de lucro, para os quais foram utilizados valores típicos do mercado brasileiro.

Para avaliar o benefício de cada opção, os estudiosos utilizaram a Análise do ciclo de vida (ACV), considerando não apenas a sua operação, mas todo o seu ciclo, o que compreende processos desde a extração de recursos necessários para a produção do hidrogênio até a sua entrega em postos de abastecimento. 

“A produção de hidrogênio deve considerar seus impactos socioambientais como por exemplo, no consumo da água, na demanda por materiais críticos e a competição pelo uso da área. Todas as formas avaliadas têm um impacto diferente, seja no uso do solo ou nos processos associados aos materiais que compõem o sistema de geração”, ressalta Fujii.

Foi avaliada também, a quantidade de emissões de cada uma das formas de produção. Pela primeira vez, sabe-se que as emissões de carbono do hidrogênio produzido no Brasil são de 1,8 kg CO2 por kg de hidrogênio produzido por meio de eletrólise com energia eólica, 2,3 kg CO2 por kg de hidrogênio produzido por meio da reforma a vapor do etanol e 3,3 kg CO2 por kg de hidrogênio produzido por meio da eletrólise com energia solar.

Por fim, o WWF-Brasil aponta algumas recomendações sobre a produção sustentável do hidrogênio, tais como:

- Fomentar a pesquisa e desenvolvimento das tecnologias para produção e uso de hidrogênio sustentável no Brasil, focando nas alternativas de baixo impacto socioambiental e baixa pegada de carbono;

- Estimular a oferta de hidrogênio produzido a partir de fontes renováveis, para uso no Brasil e para exportação, considerando as vocações nacionais e a necessidade de uma transição energética justa e inclusiva;

- Classificar o hidrogênio pela sua intensidade de carbono e não pelas cores, pois as rotas de produção indicadas por estas não indicam as emissões incorridas nelas;

- Incorporar os custos das emissões de gases de efeito estufa nos setores que utilizam hidrogênio, seja como combustível ou matéria-prima;

- Implantar projetos piloto para utilização de veículos a hidrogênio no Brasil, notadamente no transporte público em grandes cidades.


Fonte: WWF-Brasil