Princípio de vida islâmico se harmoniza com as práticas ESG

             


Dato' Wan Latiff Wan Musa, CEO da Malaysia External Trade Development Corporation, afirma que, "no cerne das diretrizes halal, há forte ênfase no cuidado ambiental, no bem-estar dos seres vivos, nas práticas de negócio justas, na ética. Isso é o que faz do elo entre halal e sustentabilidade a união para fortalecer a proposta de valor no comércio global, ao mesmo tempo em que protege o planeta e a sociedade".

O conceito cunhado por Dato' Wan Latiff Wan Musa demonstra a convergência entre halal e as práticas de sustentabilidade contidas na sigla ESG (de preocupações ambientais, sociais e de governança). Ele foi lembrado por Marcos Vaz, sócio-gerente na O.N.E. Sustentabilidade, na abertura do painel "ESG, sustentabilidade e halal - Complementaridade", do qual foi moderador, no terceiro dia do Global Halal Brazil Business Forum, evento promovido pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) e a Fambras Halal, em São Paulo.

"As práticas de sustentabilidade e os princípios halal trazem benefícios mútuos", afirmou Vaz. Para ele, sustentabilidade e halal são indissociáveis. "O halal está totalmente em sinergia com os conceitos de sustentabilidade, pois visa a construção da sociedade humana e a preservação da vida. É um atalho perfeito para os objetivos ESG. Ser halal significa fazer as coisas de modo a promover o bem-estar da humanidade", reforçou Ali Hussein El Zoghbi, vice-presidente da Fambras Halal.

De acordo com Zoghbi, há fundos de investimentos que exigem das empresas que pleiteiam seus recursos que cumpram preceitos ESG. "E, para ser halal, é preciso respeitar os mesmos pilares preconizados pelo ESG, inclusive as relações de trabalho."

Azuddin Rahman, diretor da consultoria Inno Bioceutical, da Malásia, e do Vietnam Halal Center Company Limited, destacou que as complementaridades entre ESG e halal precisam ser documentadas pelas companhias, fazer parte de suas diretrizes e comunicadas de forma transparente aos acionistas e às partes interessadas, sobretudo aos jovens.

"A população mundial islâmica é de 2 bilhões de pessoas. E o poder aquisitivo desse contingente está concentrado nos millenials e na geração Z (que nasceram depois de 1980), independentemente de serem muçulmanos", explicou Rahman. 

"De 70% a 80% dos jovens muçulmanos têm acesso às redes sociais, uma forma simples de fazer essa comunicação. Outra são os QR Codes, uma excelente plataforma para informar as iniciativas de ESG feitas pelas companhias, mesmo não sendo halal."

Mariana Modesto, diretora de Sustentabilidade, Meio Ambiente e Bem-estar Animal da BRF, disse que o mercado halal tem papel estratégico no plano de crescimento da empresa, que é endereçado pela sustentabilidade e será muito importante para atender à esperada expansão da demanda de alimentos para suprir o crescimento previsto da população mundial dos atuais 7,7 bilhões para 10 bilhões de pessoas até 2050.

"O propósito da BRF está atrelado à transformação de uma vida melhor para a sociedade, por meio de gestão de uma cadeia sustentável, não só com produtos de origem e qualidade rastreáveis, seguindo procedimentos normatizados, mas com inovação, no consumo consciente de recursos, na gestão sustentável e ética da cadeia de produção", afirmou Mariana.

Segundo a executiva, a BRF assumiu 22 compromissos públicos, conectados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Eles estão atrelados às metas de remuneração variável dos executivos da companhia e acompanhados por mecanismos de avaliação externos à empresa.

Entre esses compromissos, constam zerar a emissão de gases do efeito estufa e descarbonizar as operações até 2040, rastrear 100% dos fornecedores até 2025, aumentar 50% o uso de energia de fontes limpas até 2030, reduzir 13% o indicador do consumo de água até 2025, investir R﹩ 400 milhões em ações sociais até 2030 e promover o bem-estar dos animais.

Ali Hussein El Zoghbi, da Fambras Halal, lembrou ainda que o conceito de sustentabilidade deve ser estendido às nações menos favorecidas, a fim de que possam ter condições de se equilibrar e oferecer dignidade ao ser humano que vive nesses países. "Os conceitos mencionados aqui têm de ser extrapolados para uma visão política mais global acerca desses problemas", propôs Zoghbi.


Fonte: Câmara de Comércio Árabe-Brasileira / Daniel Medeiros