Preocupação fiscal causa volatilidade na bolsa




Depois de uma semana de fortes quedas na bolsa e juros futuros em alta, o Ibovespa começou a semana em ritmo de recuperação. O índice fechou em alta de 0,81% aos 109.748 pontos na última segunda (21/11) com um certo otimismo do mercado em relação a uma PEC alternativa com menos gastos do que a proposta anterior. Após dias de forte valorização do dólar, a moeda recuou 1,2% diante do real no Brasil, na contramão da valorização da moeda norte-americana no exterior.

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, acredita que o principal fator para a semana começar otimista é que o mercado começou a acreditar em uma PEC alternativa que possa representar menos gastos e, consequentemente, menos problemas para a questão fiscal. A proposta do senador Tasso Jereissati prevê a ampliação permanente do teto de gastos em R$ 80 bilhões e não em quase R$ 200 bilhões fora da regra do teto de gastos.

"Isso ajudou a retomar a confiança do investidor, que começa a ver que o 'furo do teto' pode ser menor que o esperado, o que gerou um sentimento positivo ao longo do dia, que ajudou a sustentar a bolsa brasileira. Após o susto do fiscal, o mercado volta a respirar com um olhar um pouco mais otimista", diz Idean.

Para Apolo Duarte, CFP®, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital, apesar de a semana começar com os investidores respirando um pouco mais aliviados com um movimento de correção, não dá para afirmar que o mercado está totalmente tranquilo com a bolsa.

"Tivemos o aumento de uma incerteza em relação ao teto de gastos. Com isso, o mercado pede um prêmio de risco maior para o investidor. Muitos investidores acabaram saindo de bolsa e indo para investimentos mais conservadores como a renda fixa. Até termos a resolução desses pontos, a volatilidade deve se manter. Dependendo do cenário fiscal, podemos ter taxas de juros mais altas e que demorem mais tempo para cair. Isso, na prática, significa menor potencial de alta para a bolsa e empresas tendo um aumento de gastos com juros de empréstimos altos e lucro menor", afirma Duarte.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, ressalta que a frase da vez é "responsabilidade fiscal". "O governo precisa mostrar de onde sairá o dinheiro para a PEC que está sendo discutida e como o teto será mantido. O principal é trazer dinheiro para o Brasil. Mostrar que o nosso país é estável e confiável. Já temos uma boa imagem internacional dentro dos BRICS. Precisamos de pessoas bem indicadas para um mercado mais calmo e um país que volte a crescer”, comenta Cohen.

Segundo Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, o que o mercado quer é uma sinalização de um equilíbrio entre o fiscal e o social: "Estamos vivendo uma preocupação com a inflação crescente em todo o mundo. O mercado é contra o Estado inchado. Se um país tem gastos excessivos, temos tanto inflação como juros altos. Nesse cenário de risco pior, o investidor estrangeiro não quer perder dinheiro e passa a exigir uma taxa mais alta para emprestar dinheiro, ou seja, comprar títulos. E o governo acaba sendo o maior prejudicado porque tem que arcar com o pagamento de juros com taxa mais alta".

De fato, o último Boletim Focus divulgado na última segunda (21/11) apontou para uma elevação da inflação em 2022. A expectativa para o IPCA deste ano passou de 5,82%, há uma semana, para 5,88%. Já para 2023, subiu de 4,94% para 5,01% e, para 2024, seguiu em 3,50%. Enquanto isso, a expectativa para a taxa Selic continuou mantida em 13,75% para este ano, mas para 2023, subiu de 11,25%, para 11,50%.

"Me parece que esse cenário de muitas incertezas, indefinições e embates políticos vai longe e quem mais perde é o Brasil, que vinha despontando como um dos países favoritos para novos investimentos. A falta da indicação do novo ministro da economia e sua equipe também colabora deixando o mercado ainda mais volátil", comenta Cassiano Konig, especialista em investimentos e sócio da GT CAPITAL.

Segundo Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador da Eu me banco, nesse momento atual de volatilidade alta, o ideal é o investidor fazer a diversificação de seus investimentos. “Não é momento de entrar em ações de estatais agora. Saiba ler o cenário econômico. Diversifique sua carteira. Tenha parte da carteira dolarizada para fugir dessas oscilações”, diz.

Para o especialista, o mercado passa por um momento tenso até a escolha do ministro que irá tocar a economia: “Após o anúncio, o mercado pode dar uma acalmada ou piorar, dependendo do nome do ministro e qual a posição dele em relação ao teto de gastos”.


Fonte: Adriane Schultz