O que dizem os indicadores atuais do mercado de trabalho?

                     


Recentemente, o Ipea divulgou os números consolidados do mercado de trabalho, em sua Carta de Conjuntura número 57 - Nota 2. Nele, o órgão repercutiu dados de várias fontes sobre o desempenho do mercado de trabalho no mês de agosto/22. Hoje vamos esmiuçar alguns deles.

Segundo a nota, a taxa de desocupação em agosto de 2022 ficou em 8,7%, número 4,2 p.p. abaixo do registrado há um ano. O número veio bom, mas próximo da estabilidade, haja vista o valor de julho/22 ter ficado em 8,9%. O ímpeto de crescimento do mercado parece dar sinais de arrefecimento.

Em sua nota, o Ipea atribui a queda nos últimos dois meses na desocupação à retração da taxa de participação na margem, pois a população ocupada e o nível da ocupação não apresentaram crescimento nesse período. E o que seria taxa de participação?

Por meio de uma nota de rodapé, o Instituto define a taxa de participação como o total de pessoas ocupadas ou procurando ocupação (isto é, a população economicamente ativa ou força de trabalho) em relação à população em idade ativa. Pela afirmação, pode-se concluir que a queda nos últimos dois meses deu-se pela diminuição da população economicamente ativa (PEA). A PEA recuou 0,5%, passando de 109,8 milhões, em julho, para 109,2 milhões, em agosto. Portanto, a notícia positiva referente a mais uma queda na taxa de desocupação deve ser lida com cautela.

Além disso, a PNAD contínua mensal traz:

●Rendimentos: em agosto, os rendimentos médios reais, tanto os habituais (R$ 2.727,00) quanto os efetivos (R$ 2.760,00), avançaram na comparação interanual, com altas de 1,0% e 1,4%, respectivamente;

●Massa salarial: a expansão da ocupação e, recentemente, o desempenho mais favorável dos rendimentos vêm permitindo uma trajetória positiva para a massa salarial. Em agosto, na comparação interanual, houve alta de 8,2% na massa salarial real habitual e de 8,7% na massa salarial real efetiva.

O que dizem os dados do Caged?

Em agosto, criaram-se 278.639 postos com carteira de trabalho. Sobre os últimos 12 meses, pode-se afirmar:

● 3,7% dessas vagas foram geradas sob a forma de contratos de trabalho intermitente, 1,7% de trabalho parcial e 3,1% de jovem aprendiz;

● O comércio foi o setor com a maior criação de empregos (426,5 mil), seguidos pelos serviços administrativos (323,5 mil), a indústria de transformação (297,8 mil) e a construção civil (248,1 mil);

● Eletricidade e gás foi o único setor em que houve retração (- 0,1 mil);

● A análise por grau de instrução revela que a maioria dos empregos criados no período se destinou a trabalhadores com o ensino médio completo (1,9 milhão), o que corresponde a 76% do total gerado;

● A criação de vagas para os profissionais com superior completo representou 7,5%, ou 184 mil vagas;

● O corte por faixa etária mostra que mais de 1,4 milhão de novas vagas de trabalho criadas foram ocupadas por jovens de 18 a 24 anos. Em contrapartida, houve uma destruição de 65,1 mil vagas para o segmento de trabalhadores com mais de 50 anos;

● O salário médio real de admissão foi de R$ 1.927, enquanto o de demissão foi de R$ 1.988, o que, mais uma vez, representou uma redução do salário médio dos profissionais contratados em relação aos demitidos.

Pelos números do Caged, pode-se concluir que a tendência de contratação de profissionais com salários menores do que os demitidos é perene. De janeiro de 2020 até agora, o salário dos contratados foi superior ao dos desligados em apenas 2 meses. Como o índice de preços ao consumidor amplo (IPCA) no período foi de 18%, um salário 3% menor é um desafio extra.

Seria melhor se a produtividade do trabalhador no período também crescesse, pois permitiria uma correção salarial sem a geração de pressões inflacionárias. Entretanto, concentrar 76% das vagas criadas em profissionais com apenas o ensino médio pode não ser a melhor estratégia à priori.

Por fim, pode-se cravar o contínuo fechamento de vagas para pessoas com mais de 50 anos. Isso, aliado ao aumento no custo de vida e às mudanças nas regras de aposentadoria, poderão gerar graves consequências mais tarde. Uma população idosa empobrecida terá sua qualidade de vida deteriorada. Aperfeiçoamento profissional é a chave para esse paradoxo.




Fonte: Virgilio Marques dos Santos - um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp.