Como está o mercado de trabalho?


Segundo a carta de conjuntura 56, nota 31, do 3º trimestre de 2022, o mercado de trabalho brasileiro consolidou sua trajetória de crescimento, combinando a expansão da população ocupada e a queda significativa da taxa de desocupação. Em julho de 2022, o dado mensal do Ipea revela que a taxa de desocupação recuou pelo 14º mês consecutivo, chegando a 8,9%, menor patamar desde julho de 2015.

A queda reflete o expressivo crescimento da população ocupada, cujo contingente avançou 7,5% em julho, na comparação com 2021/22. Os dados desagregados revelam que este aumento da ocupação vem ocorrendo de modo generalizado.

Até agora, a maior parte da recuperação do mercado de trabalho estava no segmento informal da economia. Porém, a alta do emprego formal se intensificou – nos dois últimos meses, a taxa de crescimento do emprego formal superou a do informal. Tal fato suscita a importância da capacitação para o aproveitamento das oportunidades de emprego formal que estão surgindo.

Outra notícia boa é que os últimos resultados da PNAD Contínua indicam que este aumento do mercado de trabalho, inicialmente restrito à ocupação, começa a se estender aos rendimentos, ainda que em proporção menos significativa. Em comparação com julho de 2021, o crescimento dos rendimentos efetivamente recebidos foi de 0,2%

- Por que há a sensação de alívio?

É interessante notar que, apesar do crescimento do mercado de trabalho em julho, ainda há 8,9% da população desempregada. Entretanto, se retornarmos para julho de 2020, o número era de 15,2%. Em números absolutos, havia 95,3 milhões de pessoas ocupadas em julho de 2019, caiu para 82,3 milhões em julho de 2020 e alcançou 100,2 milhões em julho de 22. A gangorra de emoções pela qual o trabalhador passou não é trivial.

Em termos de saldo, observou-se 13 milhões de postos destruídos de 2019 para 2020, e 17,7 milhões criados de 2020 para 2022. Sem a pandemia, o crescimento do período estaria de 95,3 milhões para 100,2, 5,1% em 4 anos. Criar 4,9 milhões de empregos em 4 anos não é um número digno de nota. Para fins de comparação, o presidente Michel Temer pegou o país com 89 milhões de empregos e entregou 93 milhões, crescimento de 4,5% em três anos.

Agora, o sentimento provocado na população pela destruição de 13 milhões é aterrorizante, pois muita gente perdeu sua fonte de renda numa mesma família. Tal situação é desesperadora, pois simplesmente o dinheiro desse contingente de pessoas desapareceu. Porém, a situação que se sucedeu foi diametralmente oposta, pois 17,7 milhões de empregos foram criados. E, ao ver as pessoas do seu círculo familiar conseguindo a recolocação, a sensação de alívio e esperança voltam a ficar em evidência. Essa montanha russa de sentimentos, na minha percepção, pode ser uma das explicações para o otimismo que está no ar.

Reforço que o crescimento dos empregos é algo para se comemorar, pois a taxa de desocupação está no mesmo patamar de janeiro de 2016. Todavia, a criação de 17,7 milhões de empregos não foi de empregos novos. Sem a pandemia, a sensação de alegria teria sido diluída, pois o desespero chamado 2020 não estaria presente.

- O que esperar para 2023?

As perspectivas de crescimento mantêm-se promissoras, pois o Banco Central retomou o controle da inflação e espera-se uma redução na taxa de juros. Com isso, há a perspectiva de aquecimento da economia - e, consequentemente, a melhora no mercado de trabalho. Entretanto, há de se pontuar que o cenário, apesar de promissor, é incerto. A recessão mundial já está contratada e seu contágio no Brasil pode ser grande.

Agora, a sensação dos últimos anos causada pela “criação” de 17 milhões de empregos não irá se repetir tão cedo. Assim como o sentimento de terra arrasada, da destruição de 13 milhões de vagas pela pandemia. Ao que parece, o desemprego tende a se reduzir até alcançar os gargalos do Brasil - que, em sua maioria, estão ligados à formação dos profissionais.

Portanto, para fechar com uma dica, invista em seu currículo. Nunca algumas habilidades foram tão valorizadas, principalmente aquelas ligadas aos resultados e à produtividade. É digno de nota a diferença da desocupação na faixa etária de 18 a 24 anos, justamente pela falta de preparação para o novo perfil de vaga no Brasil.


Fonte: Virgilio Marques dos Santos - um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade.