A moeda estrangeira como forma de acelerar empresas brasileiras

                    

No imaginário coletivo, dólar costuma ser associado a férias e viagens internacionais. Não é o caso da vida corporativa, onde o universo do câmbio pouco tem a ver com o do cartão postal. Nas empresas, a moeda americana tem ido além de um indicador para a aquisição de insumos, máquinas, softwares, formação de preços e expansão de fronteiras. Vender em dólar, abrindo ou não um escritório fora do Brasil – tornou-se, para algumas organizações, a única forma de garantir sua sobrevivência.

Na esteira desse movimento, houve companhia brasileira que encontrou no mercado externo a última chance de manter seu negócio viável durante a pandemia, a partir da exportação de serviços. Conheço um empreendedor de startup que constrói projetos de tecnologia para empresas do Brasil e dos EUA que viu seu negócio sobreviver somente devido à receita que obtinha no exterior. Caso contrário, teria quebrado.

E ele com certeza não foi o único. Em 2021, o volume de exportação de serviços em tecnologia e desenvolvimento cresceu 72%, comparado a 2020. O salto é explicado pela depreciação do real, mas também pela tendência de internacionalização da mão de obra do país e de atuação das empresas brasileiras com foco em outras regiões do globo.

O setor de Tecnologia da Informação apresenta um crescimento vigoroso. Somente em relação à América Latina, o Brasil detém 40% do volume total aportado para TI registrado em 2021. E está em décimo lugar na lista mundial dos países que mais recebem investimentos nesse mercado, tendo crescido 11% durante o ano, acima da média dos cinco continentes, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes).

A abertura a novas fronteiras, porém, não acontece apenas em tecnologia. Nas mais diversas indústrias e no comércio, um levantamento da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) aponta que os holofotes direcionados ao e-commerce nos últimos anos também estimularam as vendas externas, ao aumentar a exposição do portfólio nacional ao consumidor estrangeiro e reforçar que distância nunca foi empecilho para gerar negócios.

No Brasil, o número de empresas exportadoras estreantes que mantém embarques contínuos para o exterior saltou 26% entre 2019, antes da pandemia, e 2021. Além do câmbio, especialistas do Funcex acreditam que o aperfeiçoamento da estrutura logística forçada pela própria crise sanitária também contribuiu para impulsionar as estatísticas.

Todo esse cenário, aliado à conjuntura econômica, cria uma oportunidade para as empresas cuidarem com maior atenção da sua estratégia de câmbio, seja qual for o porte da companhia. Assim como eficiência logística reduz o custo final de um produto, a “eficiência do câmbio” é capaz de garantir competitividade à empresa, diferencial de preço diante da concorrência e ser decisiva na hora de escolher investir ou não lá fora.

Para quem deseja vender para outros países, uma estratégia de câmbio segura envolve alguns cuidados. Por exemplo, estruturar um modelo tributário mais adequado para receber em dólar. Com ele, a organização realiza um planejamento preciso sobre os custos da operação, prevê taxas e impostos. Também evita despesas desnecessárias e o risco de ser autuada pela Receita Federal. No mais, podem ser necessários ajustes para que a empresa esteja preparada, conforme as exigências da legislação, para realizar transações internacionais.

Outro ponto é escolher a instituição que vai dar suporte nos serviços de câmbio. Nesse contexto, há pouco mais de dois anos, operar com moeda estrangeira se tornou inclusive mais democrático. Uma atualização nas regras do Banco Central (BC) permitiu que as corretoras de câmbio trabalhassem com um limite maior para as transferências de dólar comercial, que subiu de US$ 100 mil para US$ 300 mil. Essa medida diversificou as opções à disposição dos clientes que realizam essas transações.

Se por um lado os bancos possuem uma variedade maior de serviços de câmbio, como financiamento à importação e exportação ou adiantamento sobre contratos, por outro, as corretoras oferecem maior flexibilidade de negociação dos valores e de condições de pagamento. Além disso, não raro a cotação do banco pode até estar mais baixa mas, na soma final das taxas, acabar superior à oferecida pela corretora – que costuma ser mais ágil e deve estar autorizada pelo BC para operar.

Nessas situações, o câmbio se transforma em uma das principais referências que uma empresa tem para alavancar a estratégia de expansão, acelerar sua performance e, em diversos casos, sustentar seu modelo de negócios. É quando ele pode fazer a diferença entre vencer ou perecer no mercado.

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Fonte: Tulio Portella - diretor comercial do Grupo B&T