Uma nova crise do petróleo?


Estamos experimentando, desde fevereiro, preços internacionais de petróleo batendo a casa dos U$ 100 o barril, níveis estes não vistos desde meados de 2014.

Questões geopolíticas, principalmente guerras ou sansões, são os principais influenciadores dos preços. Desta vez não foi diferente, porém, a subida de preços começou um pouco antes, por um fator atípico que não estávamos acostumados a ver: uma pandemia.

Até o final de 2019, antes da pandemia, o petróleo oscilava na casa dos U$ 60. No meu ver, um preço equilibrado, que incentiva o desenvolvimento de energias alternativas e não criava uma pressão inflacionária nas economias.

A pandemia criou um desequilíbrio econômico mundial e com o petróleo não foi diferente. Inicialmente, com os lockdowns em praticamente todo o mundo, o consumo reduziu drasticamente. 

Como consequência, o preço despencou, chegando a operar no negativo (literalmente pagando pra vender) para evitar o desligamento (caríssimo) de processos de prospecção e refino. A redução estrutural da produção foi inevitável. Com a retomada da atividade, a produção não teve a mesma velocidade. 

A “onda verde” que tomou conta do planeta, colaborou com a não retomada. Grandes fundos fugiram de investimentos em fontes poluidoras. Saímos de um petróleo de U$ 60 pré pandemia para um petróleo de U$ 80 pós pandemia.

A guerra deu mais um gás nos preços. Não porque o país atacado é um grande exportador de petróleo e sua produção foi afetada, como ocorreu na guerra do Kuwait em 1990. Desta vez foi porque o país que atacou (Rússia) virou uma ameaça ao mundo. Cerca de 11% da produção mundial de petróleo é dela e os grandes líderes mundiais não querem financiar uma ameaça real, comprando o principal produto do inimigo. 

Porém, simplesmente trocar este fornecedor não é tarefa fácil. As principais opções seriam Venezuela e Irã, mas não é tarefa simples. A Venezuela está com seu parque produtivo arcaico. A retomada não é tão rápida. O Irã já avisou que não irá abrir mão de seus projetos atômicos para voltar a participar deste mercado.

Outras armas disponíveis já foram usadas, mas só conseguiram que os preços não subissem mais: a liberação das reservas estratégicas dos EUA e também da AEI (Agência Internacional de Energia). 

Com estas medidas, somados ao fato da entrada do verão no hemisfério norte, que reduz o consumo de diesel para aquecimento, tiraram um pouco a pressão, mas o problema é estrutural e não se tem uma solução a curto prazo, mesmo com o fim da guerra.

Infelizmente, poderemos experimentar níveis de preços recordes de petróleo nos próximos meses, podendo chegar a U$ 130 dólares o barril, reascendendo o fantasma da inflação com uma economia estagnada.


Fonte: Roberto Tonietto - Presidente da RodOil - Administrador de empresas, MBA em Gestão Empresarial pela FGV.