Não bastasse a pandemia de covid-19 já ter causado tantas dores e dificuldades para a humanidade, agora temos a guerra entre Rússia e Ucrânia em curso. Além do abalo humanitário, o mercado mundial também é fortemente influenciado por essas situações. Tudo isso, nos faz refletir sobre o futuro e as mudanças que estão ocorrendo, incluindo no nosso agronegócio, que depende muito do mercado internacional.
Até ontem, o mercado trabalhava com as seguintes estratégias: a primeira era direcionada para organizações cujo foco deveria ser naquilo que é forte, ou seja, com produtos de qualidade e foco voltado para aumentar a eficiência com o objetivo de conseguir mais mercados, maiores resultados e o pleno desenvolvimento. Na segunda, as organizações sabiam aquilo que não tinham condições de obter a qualidade e os bons resultados esperados e, por isso, buscavam adquirir fora, especialmente no mercado mundial, inclusive onde poderiam comprar o que não era possível de se obter internamente até com preços muito mais atraentes.
Ocorre que um mundo essencialmente globalizado, que por tantos anos se buscou e foi defendido (e que contribuiu para o desenvolvimento dos países), agora foi fortemente afetado. Essas mudanças nos levam a repensar em um novo mercado, com menos dependência externa e mais esforços para se ter internamente aquilo que é essencial para um negócio e para o Brasil. A dependência externa de produtos/insumos essenciais para determinada empresa/País não se mostrou eficaz como se imaginava, e isso foi percebido claramente na questão dos fertilizantes para o agronegócio, do refino do petróleo e até mesmo na necessidade de containers para o escoamento dos produtos, o que causou grandes embaraços logísticos.
Desta forma, não só os países, mas sobretudo as empresas, precisam rever seus planos estratégicos para definirem aquilo que é essencial para o desenvolvimento de sua atividade e entender os meios para que não sejam afetadas por acontecimentos adversos. Portanto, as organizações devem analisar se possuem condições de ampliar o número de fornecedores, inclusive de localidades bem diferentes e, além disso, verificar se há também a possibilidade de produzir o insumo necessário para sua atividade, fator este que se tornou fundamental. Aqui podemos exemplificar a força que o cooperativismo possui para buscar essas novas formas. As cooperativas contribuem para o desenvolvimento de produtos estratégicos não só para elas, mas também para todo o mercado.
O desenvolvimento tecnológico há tempos é a tônica das cooperativas, principalmente no segmento agropecuário. Desde a produção de sementes, elas agregam alta tecnologia, passando pela agricultura de precisão com equipamentos digitais até o aperfeiçoamento da logística para a chegada dos alimentos à mesa da população. Isso demonstra a importância que elas possuem no seu meio de atuação.
A reserva de recursos para tal finalidade contribuiu e muito para o crescimento das próprias cooperativas. Entretanto, diante do atual cenário, elas precisam ainda mais de disponibilidade financeira para que esses investimentos sejam maiores, visando proteger a si e também o mercado nacional da dependência externa por produtos que podem se tornar escassos do dia para noite. Além, é claro, da oscilação de preços que, em casos de guerra, por exemplo, podem ficar muito mais altos e trazer impactos nos valores no mercado interno.
É estratégico ao Brasil que as cooperativas contribuam para o desenvolvimento e implementação de novos sistemas de produção de alimentos, evitando a dependência externa. Mesmo que para isso também seja necessário investir tempo e recursos em pontos que somos fracos, pois assim contribuiremos de forma ativa para colocar comida na mesa da população, preservando a Paz.
Fonte: Ricardo Costa Bruno - sócio da área de Agronegócios e Cooperativas do Martinelli Advogados.