Geração ESG: a energia que o mercado busca está nas novas gerações




A juventude pode realmente mudar o mundo? Acredito que a resposta positiva é óbvia, porém o questionamento que fica é: "Por quais caminhos?" Não há como só cobrar aqueles que estão chegando ao mercado de trabalho sem, ao menos, oferecer uma estrutura consistente, inclusiva e que faça sentido para as novas gerações.

Atualmente, a sociedade e órgãos de representatividade (como Business Round Table, Davos ou Nasdaq) cobram um alto preço em questões sociais, de sustentabilidade e de governança, e é assim que conceitos como o ESG (Environmental, Social and Corporate Governance, que se traduz em ambiental, social e governança corporativa) surgem, mostrando que uma empresa vai muito além do lucro.

Estar atento ao ESG não é realizar apenas ações pontuais, é implementar os conceitos e práticas na cultura e entrega de valor da empresa. O ESG não é uma campanha que tem início, meio e fim delimitados, na realidade é uma estratégia diretamente ligada ao core business (foco de atuação), comunicá-la e estudá-la faz parte do processo de amadurecimento da temática.

O olhar minucioso ao desenho dessa pauta e a observação de como as organizações vêm se portando desde a criação de um produto ou serviço até a forma com que entrega na ponta - entendendo que as particularidades da cadeia de valor se tornam tão importantes quanto, faz com que o mundo não se contente mais com organizações que “se bastam”, que acreditam que as suas externalidades negativas não estão sob a sua responsabilidade.

Os jovens já compreenderam que dá para se fazer dinheiro e não abrir mão de resolver problemas reais e relevantes do mundo. É possível ser uma empresa líder de mercado e também melhorar a vida da população, gerar empregos, olhar com cuidado a comunidade ao redor e ser transparente.

No âmbito social, a diversidade & inclusão se faz protagonista. O papel fundamental é reduzir as barreiras de entrada ao mercado, oferecendo um projeto estruturado de educação e desenvolvimento, com a oportunidade de abraçar a diversidade e também de ser competitivo no mercado de trabalho.

Como podemos atualizar o "arquétipo de talento" baseado na prontidão desses jovens (ter feito uma faculdade famosa, intercâmbio, fluência em várias línguas) para um talento "delta" (pessoas que partiram de realidades com muito menos oportunidades e, mesmo assim, persistiram e trazem competências socioemocionais difíceis de desenvolver)?

Acredito que só fazer a nossa parte, em um Brasil repleto de desigualdades, já é uma obrigação moral mínima. O que nos é requisitado é olhar além, e se você ocupa um papel de liderança, tem essa responsabilidade e capacidade de abrir esses caminhos. E sei o quanto isso pode ser desafiador, nos provocar a empatia sob realidades que não vemos tanto na nossa empresa e até mesmo no nosso círculo social. Entretanto, eu acredito no seu potencial em começar. Mesmo tímido, começar.

Partindo desse princípio, quem são os nossos líderes hoje e quais características precisamos encontrar nos líderes do futuro? Projetar o jovem, que está cheio de energia e que tem uma visão totalmente diferente, pode ser um ponto fundamental dessa transformação. Quando projetamos o futuro, é bastante importante reconhecer e respeitar o legado até aqui, entendendo quais são as outras competências, perfis e valores que vão construir a empresa com uma estratégia sólida de transformação real quando falamos sobre ESG.

Além de transformar, a palavra do momento é guiar. De qual forma isso está sendo feito e quais são as expectativas da empresa e do mundo? As empresas podem e devem investir em uma agenda voltada para a temática, construindo uma relação de conhecimento e proximidade com os seus colaboradores, seja através de palestras sobre a temática, roda de conversas ou mentorias guiadas. E não só sobre ESG, mas sobre temáticas que as novas gerações se interessem e defendam, como diversidade, saúde mental, suas causas e muito mais.

Vale lembrar que os movimentos são cíclicos e a sociedade exige energia para mover padrões consolidados. Levar a modernização, novos processos e estabelecer um processo de sensibilização é fortalecer uma cultura regenerativa, que acontece através de planos práticos e que entende sua influência no bem-estar coletivo.

Retomando a pergunta com a qual abrimos este artigo, SIM, os jovens podem e vão mudar o mundo, e é um trabalho minucioso e de responsabilidade de todos. Construir um mundo melhor não é algo que irá acontecer de hoje para amanhã, mas são as lideranças de negócio, conscientes da sua influência, que poderão fortalecer essa agenda em seus trabalhos.

Então, um dia vamos abrir o jornal e ver que grandes pandemias, crises e desigualdades não aparecem de uma escolha antes paradoxal de: "ganhar dinheiro ou mudar o mundo?". Porém sim, celebrar um sistema desenhado para que quanto mais mudamos o mundo, mais somos retribuídos por isso (e em diversos tipos de capitais). E que essa nova geração construa esta realidade desejada.


Fonte: Carolina Utimura - CEO da Eureca