A evolução da consciência ambiental


A humanidade acreditava que a natureza era infinita e que ela sempre se recomporia automaticamente da devastação. Entretanto, ao assistirmos às primeiras catástrofes mundiais e a ameaça de escassez dos recursos naturais, principalmente após a Revolução Industrial, começou a se formar aos poucos uma nova consciência ambiental mundial preocupada com a degradação e a sustentabilidade da vida no planeta.

Foi graças ao desenvolvimento acelerado das comunicações, após a Segunda Guerra Mundial, que as catástrofes ambientais que se sucediam em vários cantos do planeta ficaram conhecidas.

Outro contribuinte à consciência ambiental diz respeito à própria evolução do conhecimento sobre o meio ambiente e sua interrelação com os demais organismos, ou seja, à ciência da Ecologia, com suas novas teorias e conceitos, a exemplo da inicialmente Hipótese de Gaia, hoje Teoria de Gaia, à compreensão da natureza ativa, às limitações do homem em se adaptar às alterações provocadas na natureza e limitações da natureza em se recuperar das devastações ambientais (processos de adaptação); ao desenvolvimento da Biocenose e Biogenose (Terra e vida funcionando juntas); comunidade e ambiente não-vivo funcionando juntos como um sistema ecológico ou ecossistema (Teansley, 1935), a numerosas interações entre natureza, organismos e meio ambiente; o fluxo de energia no interior dos ecossistemas (Lindermann, 1942); o equilíbrio auto-ajustador (steady state). A lista de evolução do conhecimento nesta área é grande e não faltam referências.

- James Lovelock errou em suas previsões catastróficas? 

Antes de mais nada , informo que farei um texto esclarecedor, mas que não deixa de ser opinativo.

James Lovelock é químico, matemático e phD em Medicina e um dos mais geniais e rebeldes cientistas da atualidade, considerado entre os 100 maiores intelectuais vivos, nos seus 102 anos de vida.

Lovelock inventou um detector de captura de elétrons em 1950 que possibilitou medir pela primeira vez os níveis de CFC (clorofluorcarbonetos) na atmosfera e constatar e quantificar, em 1973, resíduos de pesticidas em alimentos e no ambiente, o que mais tarde levou à descoberta do buraco da camada de ozônio. Com isso, podemos dizer que despertou a consciência ambiental sobre a poluição que estamos causando ao planeta.

Ganhou prêmios científicos de muitas organizações, a exemplo da Organização Mundial de Meteorologia, a Academia de Ciências da Holanda, a Sociedade Norte-Americana de Química e o Laboratório Marinho de Plymouth.

Foi consultor da Agência Espacial dos Estados Unidos, a NASA, na década de 60, em pesquisa lunar e planetária. Dizem que Lovelock era o responsável por responder se havia vida inteligente em outros planetas durante as missões espaciais.

James Lovelock foi o cientista que desvendou como funciona e se desenvolve cada um dos ecossistemas: os mares, as nuvens, as correntes marítimas, o sol, a atmosfera etc. dos quais hoje se baseiam a ciência da climatologia e, consequentemente, o descobrimento do aquecimento global.

E o mais importante, Lovelock criou, no início da década de 70, a Hipótese de Gaia, hoje Teoria de Gaia (já reconhecida), de fundamental importância para quem quer estudar e compreender o meio ambiente. Ao esboçar sua hipótese, Lovelock definiu Gaia como “uma entidade complexa que inclui a biosfera, atmosfera, oceanos e terra, constituindo na sua totalidade um sistema retroalimentado que busca um entorno físico e químico propício para a vida no Planeta”. Gaia para Lovelock é um imenso organismo, praticamente vivo, que tende sempre a autorregulação.

Naquele momento, a Hipótese de Gaia gerou intensos debates na comunidade científica e filosófica pelas suas implicações sociais e até metafísicas e também foi rechaçada pela comunidade científica, como foram agora as suas previsões não efetivadas ainda com precisão numérica e de datas, mas que paulatinamente estão sendo evidenciadas mundo afora.

Lovelock, por suas contribuições, é considerado o pai da Ecologia moderna e efetivamente não acertou com precisão temporal e numérica sobre os desastres ambientais causados pelas mudanças climáticas porque fez suas previsões apenas baseadas em seu vasto conhecimento científico sobre o assunto e não em dados inseridos em computadores, como os provenientes de modelagens matemáticas que deram origem às várias projeções de impactos ambientais das mudanças climáticas dos relatórios divulgados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas-IPCC, da ONU.

Também não podemos imputar a este brilhante cientista o descrédito mundial quanto ao aquecimento global pelo fato de suas previsões não terem se confirmado totalmente à época (a partir de 2006), visto que desde 1990 o IPCC já publicava esses relatórios esclarecendo a todos sobre os impactos das mudanças climáticas. Os países não tomaram as devidas providências por motivos econômicos. Não queriam ou não podiam de fato mudar a sua matriz energética, fundamentalmente apoiada no petróleo.
Lovelock é autor de muitos livros interesses: "A vingança de Gaia", onde faz suas previsões catastróficas; Gaia: cura para um planeta doente; Gaia: alerta final; Gaia: um novo olhar sobre a vida na Terra; e o mais recente, Novaceno: o advento da era da hiperinteligência.

É para se pensar muito ao ler a Teoria de Gaia. Lovelock, em esta sua genial teoria, afirma que o planeta, na sua tentativa de autorregulação, vai sempre expulsar tudo aquilo que o agredir. Pois bem: então podemos concluir que seriam os eventos extremos ou a Covid-19 uma resposta de Gaia para nos banir da Terra?

Juro que não sei e, pelo vasto conhecer de Lovelock, tenho medo até de ler Novaceno.

Fonte: Carmen Olivieri - jornalista