Empreendedores também choram


Para alcançar o desejado sucesso nos negócios e ganhar dinheiro, de acordo com a recente “euforia motivacional” das redes sociais, você deve cultivar a positividade, o otimismo e o pensamento de que existimos apenas para o sucesso. 

A aversão ao fracasso e suas respectivas emoções “negativas” tornou-se pré-requisito para quem deseja empreender e ser bem-sucedido.

Mas, se você é um empreendedor, mesmo praticando a filosofia da positividade, com certeza já vivenciou algumas experiências não muito boas, como várias “portas na cara” ao tentar apresentar uma proposta; inúmeros e-mails elaborados com todo cuidado e que tiveram respostas extremamente mal educadas (ou nenhuma resposta); projetos que não tiveram êxito; os períodos sem remuneração; os inúmeros conflitos com clientes, colaboradores ou fornecedores; parceiros ou sócios que traíram a sua confiança e por aí vai.

Situações que, inevitavelmente, provocam raiva, tristeza, insegurança, medo e outros sentimentos considerados ruins. E, muito possivelmente, você se questionou:- “mas, por que estes acontecimentos e sentimentos, se eu pratiquei a positividade? O universo não deveria me devolver coisas boas? Onde foi que eu errei?” Bom, que o pensamento positivo e as boas vibrações são importantes, é indiscutível! Mas, “romantismos” à parte, é preciso colocar os “pés no chão”, principalmente quando o assunto é empreendedorismo.

No livro “Fama, fortuna e ambição”, Osho, com o seu radicalismo de sempre, traz um exemplo pertinente. Ele diz que Henry Ford apareceu no lançamento do livro de Napoleon Hill, “Quem pensa enriquece”, olhou para a capa e perguntou para Hill como ele havia chegado até ali. E Hill respondeu: “ônibus”. Neste momento, Ford devolveu o livro e disse para ele: -“quando você tiver pensado bastante em um belo carro e ele aparecer na sua garagem, traga este livro pra mim”. 

E a história não para por aí. Parece que Ford telefonava para Hill, de vez em quando, e dizia que se o carro não havia aparecido, ele deveria tirar o livro do mercado.

Se este encontro realmente aconteceu, eu não sei dizer, mas a provocação do autor faz todo o sentido. Então, você deve ignorar totalmente a filosofia positiva? Claro que não, o importante é não fantasiar e ter plena consciência de que a vida vai bater, e forte! E com a prática da positividade não estaremos imunes aos problemas, não seremos sempre corajosos e não estaremos livres de emoções negativas!

Reconhecer as experiências ruins e suas consequentes emoções é o primeiro passo para uma experiência positiva. Monja Coen, famosa pelos ensinamentos para autoconsciência e melhoria da qualidade de vida, faz reflexões bastante interessantes neste sentido, quando diz que devemos aceitar e observar os sentimentos de medo, ansiedade, raiva e tristeza que existem em nós. 

Pois, somente assim, conseguiremos transmutá-los. E ainda alerta:- “quando você esconde e finge que eles não existem, é que é problemático! Reconheça que são aspectos da mente humana. É através do lodo, da lama, do lixo que surge o lírio, que surgem as flores, que surgem as árvores. Eles são necessários.”.

Em outras palavras, os milhares de problemas e fracassos, acompanhados de suas respectivas emoções negativas que vivenciamos diariamente em nossos negócios, integram o processo para a conquista do sucesso. E ter esta consciência é fundamental para saber lidar com as dificuldades e não criar frustrações e problemas emocionais sérios no futuro. 

Por isso, se ficar triste e sentir vontade de chorar, chore! E sem vitimizações, utilize as lágrimas para regar o lírio e a positividade para levantar a cabeça e recomeçar.

Fonte: Rodrigo Mancini - economista, mestre e doutor em geografia econômica, empreendedor e empresário.