Dólar em alta: é interessante investir em fundos cambiais?



Na quinta-feira, dia 2 de janeiro de 2020, o dólar americano, estava cotado a R$4,17 no câmbio turismo. No auge da crise causada pela pandemia, ele chegou a ser negociado a R$6,07. No dia das eleições americanas, 3 de novembro de 2020, ele estava sendo negociado a R$5,90. No momento em que estava escrevendo esse artigo, ele está sendo negociado abaixo de R$5,60.

Como você pode perceber, o valor do dólar oscila muito. Note que só neste ano, a alta da moeda pela cotação do câmbio turismo, foi superior a 30%.

Outro ponto importante a se considerar é o de que o preço da maioria dos produtos e serviços que consumimos está ligado ao valor do dólar. Não pense que só o valor dos produtos importados sobe com a alta da moeda. O preço da maioria dos alimentos, como o milho, arroz e soja – importante insumo na ração animal –, também está diretamente relacionado ao valor do dólar.

Um produtor de soja tem a opção de vender a sua mercadora no Brasil ou exportá-la. Quando ele vende para a China e recebe o pagamento em dólares, o valor correspondente em reais é muito maior do que a quantia que ele receberia se vendesse para empresas nacionais. Resultado, a soja vai embora... Para que não haja desabastecimento em nosso país, o preço do produto em reais precisa subir. Isso já aconteceu com a gasolina, arroz, milho e aço, só para citar alguns.

Resultado, quando o dólar se valoriza, o preço de muitos dos produtos agrícolas`, que são largamente produzidos aqui no Brasil, também sobe.

Tendo isso em mente, uma parte da nossa reserva de longo prazo –aquele dinheiro que guardamos para a aposentadoria, por exemplo –deve ser aplicada em dólares. Essa aplicação nos protegerá um pouco da alta dos preços de vários produtos que consumimos e que estão ligados ao dólar.

No passado, a única forma que tínhamos para fazer essa proteção era comprando o dólar papel moeda e guardando em casa. Hoje temos muitas opções para fazê-la. Uma delas é o fundo cambial, já antigo conhecido nosso, mas que vem se popularizando pelo baixo valor inicial de aplicação. Em alguns desses fundos é possível iniciar com aplicações em torno de R$500.

Eles são chamados de cambiais, pois cerca de 80% de todo o dinheiro de seus cotistas ou o patrimônio dos mesmos) precisa estar investido em ativos atrelados a uma moeda estrangeira, normalmente, o dólar ou euro. Este valor também pode ser investido em ativos atrelados ao real. Nesse caso, o gestor do fundo deverá se valer de instrumentos derivativos para fazer a troca da rentabilidade do real para a moeda estrangeria.

O importante é você saber que, independentemente, de como o dinheiro esteja investido, a rentabilidade do fundo sempre estará ligada à variação da taxa de câmbio. Os bons gestores conseguem, inclusive, gerar um ganho sobre a variação cambial.

Ao escolher um desses fundos, o investidor precisa se atentar a alguns fatores. O mais importante é entender a qual taxa de câmbio ele está atrelado. Pode ser o dólar, euro ou até mesmo a mais de uma ou várias moedas. Os mais comuns estão atrelados ao dólar dos Estados Unidos.

Depois, o investidor deve se lembrar que o rendimento desse fundo é tributado. Para os fundos classificados como de curto prazo, o imposto é de 22,5%. Para o dinheiro que ficar aplicado por mais de 180 dias, o imposto é de 20%. Quando o fundo for classificado como de longo prazo, as alíquotas do IR variam de 22,5% até 15%, para aplicações acima de 720 dias.

Outro ponto a se considerar é a taxa de administração. Praticamente, todos os fundos cobram taxa de administração. É ela que remunera o administrador e gestor do fundo. Nos grandes bancos, essa taxa pode ser muito alta, reduzindo a rentabilidade do fundo. Atenção, recomendo que os investidores não apliquem em fundos caros.

Agora, você deve estar se perguntando, quanto dinheiro deve ser investido nestes fundos. Essa resposta depende muito de quanto risco o investidor está disposto acorrer e qual a sua idade. De uma forma geral, para um brasileiro de classe média, algo em torno de 10% do seu patrimônio pode estar investido nestes fundos. Se ele for mais agressivo, tiver dinheiro aplicado em ações e ainda for jovem, esse montante pode subir para 20 ou 25%.

Mas lembre-se, para uma carteira de longo prazo o ideal é ir aos poucos. Grandes mudanças repentinas podem custar caro. Imagine o investidor que aplicou todo o seu dinheiro em março, quando o dólar estava a R$6. Possivelmente, as suas perdas foram grandes. Portanto, é preciso ir aos poucos.

Então, se uma pessoa deseja destinar 10% do seu dinheiro para fundos cambiais, ela não deve colocar tudo de uma só vez. É importante que as aplicações ocorram aos poucos. Todos os meses, o investidor pode aplicar no fundo até chegar no valor desejado. Eu costumo recomendar a meus clientes que querem fazer novas aplicações de risco, destinar a maior parte de suas economias mensais, mas não toda, para o novo investimento. Assim, o investidor conseguirá ampliar as suas aplicações aos poucos. Isso reduz o risco.

Gostou? Tem mais. Não são só os fundos cambiais que podem proteger o investidor da variação cambial. Se uma pessoa tem mais dinheiro para investir e se enquadra como investidor qualificado, o leque de opções aumenta muito. São os fundos de investimentos no exterior. Aqui, o cardápio é longo e diversificado. Tem fundos de ações internacionais, fundo de renda fixa global e fundos regionais, como nos Estados Unidos ou Europa.

Quando uma pessoa aplica nesses fundos, o seu dinheiro é transformado em moeda estrangeria e vai para o exterior para ser investido lá fora. Com a queda recente nas taxas de juros brasileiras, muitos clientes estão optando por destinar uma parte dessa reserva para esses fundos. Eles trazem uma real diversificação para os investimentos.

Entretanto, temos que ter atenção. Alguns desses fundos fazem operações de proteção contra a variação cambial, as chamadas hedge. Fundos com hedge, não protegem o investidor de uma desvalorização do real. Assim, se uma pessoa quer diversificar os seus investimentos e ao mesmo tempo, aplicar em uma moeda forte, os fundos internacionais com hedge não servem. Ela deve buscar por fundos sem hedge cambial.

Conclusão: Destinar uma parcela dos investimentos de longo prazo para uma aplicação que protege o dinheiro da desvalorização do real é uma boa ideia. Lembre-se, essas aplicações têm risco e se uma pessoa precisar sacar o dinheiro inesperadamente, pode ter que realizar um prejuízo. 

Bons fundos cambiais são, sem dúvida, uma boa forma de aplicar em dólar, mas não é a única. Os fundos de investimentos no exterior estão se tornando cada vez mais populares. As pessoas só precisam avaliar suas opções e fazer um investimento consciente.


Fonte: Lauro Araújo, assessor de investimentos na Atrio Investimentos