ESG: Environmental, Social and Corporate Governance




Nos últimos tempos, estamos presenciando a divulgação de muitas notícias sobre os investimentos ESG na mídia especializada. Isso é muito bom. Parece que o Brasil decidiu, finalmente, abraçar essa causa. Entretanto, esse assunto não é novo. 

Em 2005, quando eu morava em Toronto no Canadá, e trabalhava em uma grande empresa de consultoria de investimentos, realizamos um trabalho para o Banco Mundial, com o objetivo de determinar o quanto os princípios ESG estavam inclusos nas decisões de investimentos dos grandes participantes de mercado, fundos de pensão e gestores de fundos. Vários países foram incluídos no estudo. O Brasil foi um dos países participantes da pesquisa.

Naquela época, identificamos que estes padrões estavam mais adiantados em algumas regiões, como por exemplo, na Europa, e engatinhando em outras, como o Brasil. De uma forma geral, a educação, a preocupação com o meio ambiente e um sistema judiciário eficiente e rápido, ajudam no processo de adoção destes princípios.

Olhando o Brasil hoje e o interesse gerado por esse tema, podemos afirmar, com segurança, que a nossa situação está mudando.

Mas afinal, o que são os padrões ESG? A sigla inglesa significa “ambiental, social e governança” – environmental, social, governance. São os três pilares que toda e qualquer empresa responsável deve adotar e observar em seus negócios. Investidores que buscam maior responsabilidade e transparência em seus investimentos também devem buscar empresas que se norteiam por estes princípios.

A letra “E” de ambiental, significa que a empresa deve ter responsabilidade com o meio ambiente e natureza. Aqui, ser responsável é pensar, constantemente, em formas de reduzir os impactos negativos que a dinâmica desse empreendimento pode causar ao planeta. Cuidar de todo o lixo gerado, tratar os seus esgotos para evitar a poluição de rios e mananciais, e estar, realmente, comprometida com o desenvolvimento de tecnologias que reduzam o impacto de suas atividades na natureza.

A letra “S” de social, indica que a empresa respeita todos os direitos de seus colaboradores, não discrimina ninguém e promove uma cultura de respeito às diferenças, minorias e a individualidade de todos. O “S” vai além de seus funcionários. Normalmente, atividades industriais interferem na vida de comunidades. A empresa que observa os fatores sociais, sempre avalia, mede e busca reduzir os impactos negativos que a sua atividade pode trazer à vida de todos que com ela se relacionam.

Finalmente, a legra “G” indica que a empresa busca incansavelmente adotar boas práticas na gestão de seus negócios. Ela se compromete a ser transparente, respeitando leis, normas e regulamentos. Esse termo foi agregado ao nosso vocabulário como governança corporativa e está relacionado a um conjunto de regras, processos, políticas internas, costumes e regulamentos que dão o norte a administração da empresa e definem como deve ser o seu relacionamento com todos: funcionários, acionistas, fornecedores, controladas, controladoras e governos. Ou seja, todas as partes envolvidas na “vida” da empresa. É uma cultura que se preocupa com o respeito às leis, bons costumes, ética e transparência.

Entretanto, adotar qualquer um destes padrões não é um desafio simples ou barato. Tudo tem um custo e ele pode ser alto.

Na parte ambiental, estabelecer padrões que busquem um equilíbrio entre desenvolvimento econômico sustentável e meio ambiente é a chave. Ao avaliar projetos, a empresa deve definir, logo de início, o custo do impacto ambiental e de novas tecnologias que ajudem a reduzir a poluição. Em seus planos futuros, é necessário que ela procure aprimorar os seus processos para diminuir o impacto causado ao meio ambiente. Agora, toda e qualquer atividade tem um custo ambiental. Morar, vestir, alimentar-se também produz impacto sobre a natureza. Viver tem um custo ambiental.

O Brasil é um grande exportador de produtos agrícolas e minerais. Para produzir alimentos, temos que substituir matas nativas por plantações e área de pastagem. Para produzir metais, temos que retirar e processar a terra. Encontrar uma forma de equilibrar desenvolvimento, sustentabilidade e respeito ao meio ambiente é o princípio no qual o “E” se sustenta.

Portanto, o meu objetivo não é dizer que o desenvolvimento da atividade econômica deve ser desacelerado, mas expor que é fundamental incentivar as empresas a buscarem sempre novas tecnologias para aumentar a produtividade e diminuir os seus impactos em nosso planeta.

No lado social, o bom senso é o mais importante. As empresas devem buscar tratar as pessoas da mesma forma, dar as mesmas oportunidades e não explorar os menos protegidos. O foco é o estabelecimento de uma cultura de respeito e tolerância ao próximo, ou melhor ainda, de valorização das diferenças. Direitos individuais devem ser protegidos. As empresas são feitas de pessoas, por pessoas e para pessoas.

No extremo, a empresa pode ser levada a substituir o estado como o principal provedor do bem-estar da população. No Brasil, diferente de outros países, uma organização pode chegar a assumir uma parte das responsabilidades inerentes ao poder público. Transporte, saúde e educação são obrigações dos estados, não das empresas.

Com o isolamento social, estamos aprendendo a trabalhar de uma forma diferente. Sem dúvida, essa experiência trará mais responsabilidade social, tanto do lado do empregador quanto do empregado. Horas trabalhadas serão substituídas por produtividade. Bons avanços nesse campo devem ser esperados.

Na governança, o importante é o jogo limpo, aberto e transparente, tratando todas as partes que interagem com a empresa – acionistas, funcionários, fornecedores, clientes e governos – de forma ética, justa e transparente.

As empresas devem implementar padrões contábeis transparentes e objetivos. Implementar processos que monitorem situações que podem favorecer a corrupção e a lavagem de dinheiro.

Como você pode ter notado, adotar os padrões ESG não é simples, tanto em termos de cultura quanto em termos econômicos. Mudar a cultura para abraçar estes padrões, traz desafios e tem um custo, que dependendo do ramo de atividade, pode ser grande.

Pensando de uma forma imediatista, um analista ou investidor, pode acreditar que a adoção desses padrões reduzirá o lucro do próximo trimestre, pois demanda mais trabalho, investimentos e maiores custos.

Será? A experiência nos mostra que empresas ambientalmente corretas possuem uma imagem mais favorável perante os seus clientes. Produtos “limpos” têm um real valor agregado, que é percebido pelo consumidor, que está disposto a pagar mais pelo selo de qualidade.

Adotar esses padrões também reduz, no longo prazo, o risco de processos jurídicos caros e morosos. A Operação Lava Jato mostrou que a falta de governança pode levar uma empresa a falência!

Além disso, empresas com altos padrões de governança, encontram mais facilidade para estabelecer contratos e parcerias de longo prazo. Seus acionistas entendem e valorizam a sua cultura, podem se tornar investidores de longo prazo e não buscam uma especulação rápida.

Pelo o que vejo, a adoção de padrões ESG é inevitável. A sociedade e os investidores, já perceberam o valor destes princípios. Observar com rigor esses padrões, diminui riscos e potenciais custos futuros com processos judiciais.

Para a nossa sorte, uma boa parte das empresas brasileiras já abraçou essa causa. Fora do Brasil, já é possível perceber grandes corporações, demandando de seus fornecedores a adoção destes padrões. Já temos em nosso país, fundos que só investem em empresas que, efetivamente, adotaram os padrões ESG.

Quero acreditar que esse movimento está ligado diretamente à evolução da nossa consciência enquanto sociedade e da nossa responsabilidade para com o planeta e as gerações futuras. Se não fizermos algo por agora, nossos netos herdarão qual ambiente?

Ser limpo, justo e transparente não é mais moda, é o futuro. Todos nós agradecemos!


Fonte: Lauro Araújo - assessor de investimentos na Atrio Investimentos