Como deve se comportar o mercado nacional com as mudanças causadas pela pandemia


Marcelo Arone, 12 anos de mercado de capital humano, entende que não se deve romantizar a crise: - “só veremos daqui a alguns meses se essa preocupação social, seja dos indivíduos ou das empresas, continuará se refletindo aos que mais precisam de ajuda. Toda crise acelera os processos de transformação, mas não podemos passar a falsa sensação de que teremos meses fáceis pela frente”, explica.


Marcelo lembra que estamos nos adaptando ao novo normal: “estamos vivendo a história. A grande questão é a previsibilidade de quando sairemos do isolamento. Em crises passadas, que tratavam apenas da economia, o país saiu mais forte se comparado ao resto do mundo”, lembra ele, que segue:-“no entanto, estamos vivendo uma crise que se estende à saúde e ao social e que, obviamente, tem um impacto ainda maior no mercado de trabalho, exatamente por essas questões”, enfatiza.

Ele chama atenção ao custo duplo para as empresas, ou seja, demitir e contratar pessoas num espaço curto caso a economia volte antes do que se imagina: - “isso já ocorreu. Nessas horas, lealdade corporativa vale mais do que uma reestruturação, dependendo do segmento e porte da empresa”, explica Marcelo. Segundo ele, o mercado de trabalho cada vez mais irá exigir profissionais resilientes, dinâmicos e flexíveis: “se não estávamos preparados para essa pandemia, nas próximas será obrigação ter um plano de contingência e gerenciamento de crise”.

Marcelo Arone aponta os setores que seguem fortes mesmo em meio à crise: Tecnologia, Digital, Consumo Básico, Medicamentos, Agronegócio, Bancos, Laboratórios. Os que mais estão sofrendo, obviamente, são os da Aviação, do Turismo e da Cultura. Para ele, para a retomada, vão contar o bom relacionamento com empresas, a readequação de métodos de venda e fidelização, como a venda promocional de pontos em programa de milhagens visando utilização no segundo semestre do ano, o dimensionamento da malha aérea para promover turismo local, inclusive pela alta do dólar, o retorno de Cinemas ao ar livre, remetendo a movimentos da década de 40/50, os famosos “Drive in”.

Já é possível perceber que as mudanças na arquitetura dos escritórios também deverão ser perenes: algumas empresas já haviam aderido ao Home Office, mas poucas como política efetiva de RH. No entanto, o trabalho remoto já virou uma prática, até pelo ganho de produtividade que gera a empresa e maior qualidade de vida aos colaboradores. “Sem contar que em função do distanciamento, mesmo quando voltarmos a uma certa normalidade, o espaçamento entre as mesas, será maior” lembra ele, que segue: “certamente, haverá um rodízio de pessoas gradual nos escritórios. Alguns clientes já devolveram parte do andar por conta da economia e indicação que irão manter o home office como padrão. Já não será mais “diferencial” ou benefício adicional para as empresas e funcionários. Será usual”.

Outro ponto fundamental citado pelo especialista é a mentalidade empreendedora: “já vivíamos num país com 40mi de informais antes da pandemia e com taxa de desemprego em torno de 12%. Certamente ambos os números irão crescer e levar em torno de 2 a 3 anos para voltar a esse patamar. Com as chances de cargos mais elevados sofrerem cortes nessa pandemia, o empreendedorismo será um meio natural. Consultorias, franquias, Investidores são alguns exemplos do que esse nível de executivo busca quando é desligado do mercado de trabalho. Grandes negócios surgiram após crises dessa natureza econômica. Saber “se reinventar” será o termo da moda para empresas e pessoas.

O especialista lembra também que a forma como os governos estão conduzindo a crise é sempre fundamental, ainda mais em uma situação inédita, como é o caso da pandemia: “os conflitos políticos atrapalham a retomada. Estamos perdendo uma chance de talvez nos consolidarmos como um novo polo econômico de geração de empregos”. Segundo Marcelo, algumas empresas devem sair da China e buscarão países emergentes que transmitam um ambiente de segurança e estabilidade para os negócios, e, para estarmos no alvo dessas empresas, será preciso trocar conflito por solução.


                                                  

Fonte: Marcelo Arone - Headhunter, especialista em recolocação executiva e sócio da OPTME RH