Pandemia: nada é totalmente ruim



Um dito popular afirma que nada é totalmente bom ou totalmente ruim. A pandemia é péssima, mas tem um lado positivo: está em queda a poluição do ar.

A pandemia reduz fortemente a atividade industrial e o tráfego em praticamente todo o mundo e isso, segundo dados coletados por satélite pela European Space Agency (ESA, Agência Espacial Europeia), tem feito os níveis do gás dióxido de nitrogênio (NO2), nas últimas seis semanas, serem muito menores que no mesmo período do ano passado. Esse gás agrava problemas respiratórios, dentre esses, a asma.

O NO2 não é um dos geradores do efeito estufa, mas origina-se das mesmas atividades que geram as emissões de carbono responsáveis pelo aquecimento global, o que levou Paul Monks, professor da Universidade de Leicester, na Inglaterra, a afirmar que, sem querer, estamos conduzindo uma experiência em larga escala jamais vista, que pode nos levar à adoção de novas posturas e, quem sabe, ajudar na luta contra a poluição do ar.

Um nível elevado de poluição do ar, além de outros problemas mais conhecidos, baixa a imunidade das pessoas, tornando-as mais vulneráveis e também reduz a produtividade agrícola ao prejudicar o desenvolvimento das culturas.
Neste momento, a Organização Mundial da Saúde conduz pesquisas no sentido de confirmar se partículas de poluentes do ar podem ser um vetor que ajuda a espalhar o Covid-19.

Um dos locais onde a queda da poluição do ar foi mais acentuada foi na região de Wuhan, onde a pandemia teve origem -- com cerca de 11 milhões de habitantes, a cidade é um grande centro logístico e industrial -- essas atividades foram todas praticamente paralisadas enquanto o Covid-19 esteve particularmente agressivo na área.

No norte da Itália, onde a pandemia tem se manifestado de forma extremamente grave, a poluição do ar caiu cerca de 40%. A área, extremamente industrializada e poluída, tem um problema adicional: os Alpes acabam retendo a poluição, o que pode ter sido um dos fatores de agravamento da situação na região.

Talvez a pandemia acabe conscientizando-nos de que realmente devemos mudar nossa forma de viver e de trabalhar, o que poderá nos levar a concluir, no futuro, de que ela trouxe boas lições.


Fonte: Vivaldo José Breternitz - Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.