O debate educacional quanto aos impactos das mídias carece de um referencial crítico, pois tanto uma concepção fatalista como a utópica afastam a análise das tecnologias educativas de seu contexto sociocultural. Um novo projeto tecnológico necessita atender à realidade na qual estamos inseridos, não apenas canalizar esforços em inovações pedagógicas que, muitas vezes, traduzem-se na mera incorporação de “arranjos tecnológicos”.
As diversas e, muitas vezes, superficiais discussões sobre o uso das tecnologias no âmbito educacional, sem dúvida, acontecem na tentativa de superar salas de aula cada vez menos atrativas e alunos cada vez mais desinteressados de seu modelo clássico tradicional, baseado na homogeneização: tudo para todos ao mesmo tempo – mesma aula, mesma data da prova, mesmo conteúdo cobrado – parece evidente que a escola como lugar “fechado” e exclusivo de aprendizagem tem seus dias contados.
Até alguns anos atrás, estudar diariamente a milhares de quilômetros da escola, mantendo contato permanente com professores e colegas, parecia uma tarefa impossível de ser executada. Hoje, em um mundo conectado, a educação a distância (EAD) passou a fazer parte da vida das pessoas, aliando novas teorias sobre como se aprende por meio de equipamentos que permitem reduzir distâncias.
Renovada pelas novas tecnologias da informação e das comunicações, a EAD, além de ampliar e democratizar o acesso aos diferentes níveis de ensino, enriquece a educação presencial, oferece às empresas e aos profissionais meios de atualizar o conhecimento e estende os espaços educacionais, proporcionando autonomia ao cidadão para aprender continuamente, já que o ambiente virtual proporciona espaço para interagir, questionar e discutir.
Entretanto, esse novo cenário desperta uma série de questionamentos. Pode-se falar de fato em educação a distância ou apenas em ensino a distância? A metodologia utilizada para ensinar via internet está sendo adequada a esse novo meio? O ensino a distância poderá substituir a escola tal como a conhecemos hoje? Entre as diversas indagações, encontramos duas questões que certamente despertam muitas discussões: o papel do professor e o processo avaliativo.
Os educadores precisam apropriar-se dos recursos digitais e explorar suas potencialidades. Se conseguirem libertar-se do receio de criar e admitirem suas limitações, essa apropriação pode ser rápida e facilitada, já que os alunos serão os melhores parceiros e colaboradores de todo esse processo de mudança. Na EAD, a ruptura consiste em que sejam alcançados processos cognitivos múltiplos e diferenciados para facilitar os entendimentos complexos.
A grande aventura que se vive nas salas de aula é dotar a informação de sentido, reconhecer sua importância, transferir modos de pensar de um campo a outro, visando a expandir os conhecimentos e permitir atuar de forma cada vez mais inteligente. E com base neste referencial que a avaliação precisa ser elaborada.
A avaliação no contexto tradicional é restrita ao final do processo, caracterizando-se por ser massificadora, excludente, instrumento de pressão e controle para o professor. Dentro da EAD, existem alternativas para essa tensão e angústia causadas pelo procedimento avaliativo: a avaliação ocorre ao longo dos processos; é diversificada, já que há muitos ambientes de interação; é mais centrada na pessoa e na prática de autoavaliação.
Essa maior “liberdade” nos processos de avaliação também resulta em inquietações. A legitimidade da EAD deverá ser conquistada por meio de estratégias inteligentes, que envolverão atividades online, acompanhamento personalizado e diferentes objetivos a serem alcançados, que não mais a assimilação e memorização de conteúdos. Com a EAD, são vencidos muitos fatores de exclusão educacional.
No entanto, é inegável que, mesmo vencidas as distâncias que nos afastam do conhecimento, ainda existem alguns obstáculos lançados pelas novas mídias, como o risco de ampliarmos o abismo entre as classes sociais. Precisamos, portanto, no futuro, de uma EAD pensada como parte das políticas instauradas a fim de equilibrar as desigualdades, e não como um instrumento para aprofundá-las. Eis o desafio.
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