Pesca, poluição e expansão portuária ameaçam sobrevivência de espécie de golfinho




Endêmica do Atlântico Sul, uma espécie de golfinho, conhecida popularmente como toninha, está ameaçada de extinção. Esses mamíferos marinhos, que antes eram facilmente encontrados na costa brasileira, argentina e uruguaia, hoje encontram dificuldade para sobreviver. O problema se agrava ainda mais no litoral capixaba, na região da Foz do Rio Doce.

“Uma vez que as toninhas vivem próximas à costa, as atividades de pesca, em especial a pesca com rede de espera, sempre foram tidas como as principais ameaçadas. Mas, nas últimas décadas, o estabelecimento e a ampliação de portos e estaleiros acabaram destruindo os ambientes costeiros, impactando assim o habitat principal das toninhas e áreas de reprodução de inúmeras espécies marinhas que servem como seu alimento”, destaca o cientista da Associação Ambiental Voz da Natureza, Hudson Pinheiro.

O aumento da poluição e da sedimentação também vêm preocupando especialistas, principalmente no caso de espécies que são topo da teia alimentar, como a toninha. Animais de topo geralmente são de grande porte e influenciam no equilíbrio das populações de outros níveis da teia.

Outra preocupação são os desastres acontecidos em barragens, que estão intoxicando ambientes marinhos. “A lama de rejeitos da Samarco possui alta concentração de metais pesados e já existem evidências do impacto do desastre em populações naturais. 


O nível de metais pesados em peixes e camarões, principais alimentos da toninha – e dos capixabas que vivem na região costeira – aumentaram em até 100 vezes além do permitido. Esses metais pesados possuem efeitos cumulativos, que prejudicam a saúde, afetando o funcionamento e a produção de enzimas e proteínas dos organismos contaminados”, ressalta Pinheiro, que é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

- Como reverter a situação?

O projeto de pesquisa e conservação na Foz do Rio Doce, iniciativa da Associação Voz da Natureza, tem o objetivo de contribuir para a sustentabilidade dos recursos pesqueiros e espécies marinhas no litoral do Espírito Santo. As atividades de campo, já conduzidas, resultaram em conclusões que compuseram o Plano de Ação “Foz do Rio Doce: da Pesquisa à Conservação”, voltado ao manejo pesqueiro e à criação de uma Unidade de Conservação Marinha (UCs) na região.

Outra proposta é o zoneamento costeiro. “Atualmente existe um grande número de áreas de manejo e conservação propostas para serem criadas ao longo da costa capixaba. Essas propostas visam preservar ecossistemas costeiros, áreas que grande parte da pesca artesanal e da biodiversidade dependem. 

A pesca artesanal possui grande importância no estado e centenas de famílias também estão sendo prejudicadas pelos mesmos problemas ecológicos que as toninhas enfrentam. Assim, o avanço e aplicação de estratégias de zoneamento costeiro, já disponíveis, poderiam contribuir para a sustentabilidade de atividades econômicas e da proteção da biodiversidade na costa do Espírito Santo”, sugere Pinheiro.



Fonte:  Rede de Especialistas de Conservação da Natureza