Países precisam reduzir emissões em 7,6% ao ano para viabilizar meta de Paris



Os compromissos atuais dos países sob o Acordo de Paris são insuficientes para conter o aquecimento global em 1,5oC, aponta novo relatório da ONU; para que isso aconteça, o mundo precisaria reduzir suas emissões em 7,6% anuais ao longo da próxima década

Na véspera de um ano em que as nações deverão reforçar seus compromissos climáticos sob o Acordo de Paris, um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) adverte que, se as emissões globais de gases de efeito estufa não caírem 7,6% ao ano entre 2020 e 2030, o mundo perderá a oportunidade de limitar o aquecimento global neste século em, no máximo, 1,5oC.

De acordo com Emissions Gap Report 2019 do PNUMA, mesmo se os compromissos atuais forem implementados, a temperatura média global deverá crescer até 3,2oC com relação aos níveis pré-industriais, o que acarretará em impactos climáticos ainda mais destrutivos nas próximas décadas. A ambição coletiva dos países precisa quintuplicar em comparação com os níveis atuais para viabilizar os cortes de emissões ao longo da próxima década necessários para limitar o aquecimento em 1,5oC.

O ano de 2020 será crítico para a ação climática, com a Conferência da ONU sobre Clima de Glasgow (COP 26) buscando determinar o curso futuro das ações para evitar a crise climática. Nela, espera-se que os países elevem o grau de ambição de seus compromissos e anunciem novas ações de redução de emissão.

"Nosso fracasso coletivo em agir antes e de maneira efetiva contra a mudança do clima significa agora que precisamos fazer cortes profundos em nossas emissões - mais de 7% por ano ao longo da próxima década", afirma Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA. "Isto mostra que os países não podem simplesmente esperar até o final de 2020, quando os novos compromissos climáticos são esperados, para intensificar a ação. Eles - e cada cidade, região, empresa e indivíduo - precisam agir agora".

"Precisamos de ganhos rápidos para reduzir emissões tanto quanto possível em 2020, e depois, de contribuições nacionais mais fortes para impulsionar transformações importantes nas economias e nas sociedades. Temos que recuperar o tempo que desperdiçamos no passado", acrescentou. "Se não o fizermos, a meta de 1,5°C estará fora de alcance antes de 2030".

O Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (IPCC, sigla em inglês) advertiu que, se a temperatura média do planeta crescer acima de 1,5°C neste século, a frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos aumentará, como as ondas de calor e tempestades observados em todo o mundo nos últimos anos. As nações do G20 respondem coletivamente por 78% de todas as emissões, mas apenas cinco membros desse grupo se comprometeram até agora com uma meta de longo prazo de emissões zero.

No curto prazo, os países desenvolvidos terão que reduzir suas emissões mais rapidamente do que os países em desenvolvimento, por razões de justiça e equidade. No entanto, todos os países terão que contribuir mais para os efeitos coletivos. Os países em desenvolvimento podem aprender com os esforços bem-sucedidos dos países desenvolvidos; podem até mesmo ultrapassá-los e adotar tecnologias mais limpas a um ritmo mais rápido.

De modo crucial, o relatório aponta que todas as nações devem aumentar substancialmente a ambição de suas contribuições nacionalmente determinadas (NDC) para o Acordo de Paris em 2020 e acompanhá-la com políticas e estratégias para sua implementação. As soluções estão disponíveis para tornar possível o cumprimento dos objetivos do Acordo, mas não estão sendo implementadas com rapidez suficiente ou em uma escala suficientemente grande.

Todos os anos, o Emissions Gap Report avalia a diferença entre as emissões previstas para 2030 e os níveis compatíveis com as metas de 1,5oC e 2oC do Acordo de Paris. O relatório conclui que as emissões de gases de efeito estufa aumentaram 1,5% ao ano na última década. As emissões em 2018, incluindo as resultantes de mudança no uso do solo (como desmatamento), atingiram um novo pico de 55,3 gigatoneladas de CO2 equivalente.

Para limitar o crescimento da temperatura média em 2oC, as emissões anuais em 2030 têm que ser 15 gigatoneladas de CO2 equivalente menores que às que teríamos se as atuais NDC fossem implementadas; para a meta de 1,5oC, as emissões precisam ser 32 gigatoneladas menores que as estimadas pelos compromissos atuais. Numa base anual, isso significa cortes de emissões de 7,6% ao ano de 2020 a 2030 para atingir a meta de 1,5oC e de 2,7% ao ano para a de 2oC.

Para concretizar esses cortes, os níveis de ambição das NDC devem aumentar pelo menos cinco vezes para a meta de 1,5oC e três vezes para a de 2oC. O relatório ressalta que a mudança do clima ainda pode ser limitada a 1,5oC. Há uma maior compreensão dos benefícios adicionais da ação climática - como ar mais limpo e incentivo para a concretização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Governos, cidades, empresas e investidores estão se empenhando cada vez mais em elevar a ambição da ação global contra a crise climática. Existe soluções, pressão e vontade abundantes. Falta ação.

Tal como acontece todos os anos, o relatório centra-se no potencial dos setores selecionados para reduzir as emissões. Este ano, ele analisa a transição energética e o potencial de eficiência na utilização de materiais, que pode contribuir significativamente para fechar a lacuna das emissões.

O relatório está disponível no link abaixo: