Agricultura familiar impacta o consumo de alimentos e o dia a dia dos consumidores.



A tomada de decisão dos consumidores na hora da compra de alimentos tem mudado ao longo dos anos. Segundo o estudo "Estilo de Vida 2019" realizado pela Nielsen, provedora global de informações e insights, os brasileiros estão mais sustentáveis e conscientes, sendo que 42% dos entrevistados disseram que estão mudando seus hábitos para reduzir seu impacto no meio ambiente.

Outro dado interessante levantado pela pesquisa é que 30% dos respondentes estão atentos aos ingredientes que compõem os produtos, 38% têm evitado industrializados e 35% estão optando por alimentos orgânicos. Uma mudança e tanto para uma sociedade que nos últimos anos viu a taxa de obesidade passar de 11,8% para 19,8%.

Isso mostra que a população está buscando em suas refeições características que vão além do melhor preço, levando em conta fatores como sabor, frescor, procedência, praticidade e qualidade nutricional. Tais aspectos têm modificado também as relações entre produtores e consumidores e é nesta "nova onda" de consumo que a agricultura familiar ganha força.

Este tipo de agricultura, que se baseia essencialmente no trabalho de famílias e de pequenos proprietários, é responsável por 85% dos alimentos orgânicos no Brasil. Isso impacta positivamente a saúde dos consumidores, uma vez que são alimentos livres de agrotóxicos.

Além da adoção de práticas ambientalmente mais sustentáveis do que plantações em larga escala, como a utilização de policultivos, em que vários tipos de plantas são cultivadas no mesmo terreno, a agricultura familiar também tem um peso importante para a economia brasileira, representando um faturamento anual de US$ 55,2 bilhões e 38% do PIB (Produto Interno Bruto).

Base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, é responsável ainda pela renda de 40% da população economicamente ativa do País e por mais de 70% dos brasileiros ocupados no campo. Tem larga participação na produção dos principais produtos consumidos pelos brasileiros, como o feijão (70%), mandioca (87%), leite (60%), rebanho suíno (59%), dentre outros. Esses números expõem a importância desse tipo de agricultura para o País, que dispõe de mais de 4 milhões de estabelecimentos familiares rurais.

Por meio da comercialização local e da cadeia produtiva mais enxuta, a agricultura familiar permite ainda que o produto desejado, com as características esperadas, chegue às mãos de quem o consome através de uma relação direta, o que tem impacto positivo também na experiência de compra desse cliente.

Por todas essas razões, é imprescindível investir massivamente neste tipo de produção. Uma forma de potencializar e contribuir com essa prática é apoiar políticas públicas, especialmente aquelas que estimulem incentivos fiscais para a produção em pequena escala e bonificações pelo uso sustentável da terra. Além disso, a liberação de crédito para a tecnificação do produtor e fomentos a pesquisas são pontos que devem ser avaliados, uma vez que proporcionariam melhorias e novos métodos produtivos ambientalmente mais corretos, economicamente mais viáveis e socialmente mais justos.

Por parte das empresas, o esforço pode ser feito no sentido de valorizar os produtos advindos desse tipo de agricultura, além de tentar encurtar as cadeias produtivas, reduzindo o número de atravessadores e, consequentemente, garantindo o pagamento de um preço justo ao produtor. Enquanto isso, as marcas de insumos também podem fazer sua parte, desenvolvendo uma política de preços e pagamentos diferenciada na venda de produtos para esses agricultores, oferecendo assistência técnica e disponibilizando conhecimento de forma mais ativa.

Ao consumidor, cabe exigir informações sobre a procedência dos seus alimentos, para conhecer o que se come e quem o produz. A partir daí, será possível diminuir a distância entre o "campo e a cidade" ao dar preferência a produtos locais, que preservam o meio ambiente e beneficiam diversas famílias, incluindo aquelas que consomem um produto de qualidade dentro de suas casas.



Fonte: Leila Bonfanti - Analista de Planejamento de Plantio Orgânico da Liv Up.