Segundo um levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), uma pessoa consegue atender suas necessidades básicas com 110 litros de água por dia. Porém, no Brasil, o consumo médio é de cerca de 200 litros. Entretanto, além de gastarmos mais água do que realmente necessitamos, devemos estar atentos ao consumo de “água virtual”. Isso mesmo!
Esqueça um pouco da torneira aberta e pense sobre todos os outros produtos que você possui dentro de casa. Todos necessitam de água, seja na matéria-prima, na fabricação ou no transporte até o ponto de venda. Essa é a “água virtual”: uma água que nós não vemos, mas que foi usada em tudo que faz parte do nosso dia a dia.
Para cada litro de cerveja, consome-se 300 litros de água, que é usada não somente na matéria-prima, mas também na produção da cevada e do lúpulo, por exemplo. Os aparelhos eletrônicos, apesar de não levarem água na sua composição, chegam a gastar 15 mil litros para serem produzidos.
Mas a campeã é a agropecuária: para produzir 1 quilo de carne, consome-se 15,5 mil litros de água, considerando toda a cadeia de produção e fabricação de ração para os animais, fora a grande quantidade que é usada para a irrigação das lavouras.
No Brasil, de toda a água utilizada, 70% são consumidos pela atividade agropecuária, 20% no setor industrial e 10% são voltados para o uso doméstico. Devemos pensar também no consumo necessário para a exportação. Considerando que o País é uma das principais nações em termos de agronegócios, isso faz com que o Brasil seja visto como um dos maiores exportadores de água do mundo.
Os cálculos relativos à água virtual são importantes para a verificação do impacto ambiental em termos hídricos de empresas, setores da economia e até mesmo de países. Esse impacto é também chamado de “pegada hídrica”, que leva em conta o volume de água usado nos processos econômicos, o total de habitantes, a água usada nos produtos importados e a que serviu para o exportados.
Embora sejam importantes para a economia do País, essas atividades vêm gerando impactos significativos para o desenvolvimento regional. A quantidade cada vez maior de transposições de água de rios para cultivar grandes monoculturas causa, muitas vezes, déficit de água para comunidades que historicamente faziam uso daquela fonte.
O exemplo dado sobre as comodities brasileiras é uma questão complexa que envolve discussões econômicas e políticas, mas certamente entender esse cenário já é um grande passo. Já os dados de consumo de água em alimentos, como a carne, o arroz e a cerveja, nos faz refletir sobre o nosso cardápio diário, de maneira que ele seja mais “sustentável”, privilegiando produtos que exigem menos água para sua produção. E sobre outros produtos, realmente precisamos de todos eles? Computadores e smartphones, certamente. Mas as muitas outras coisas que consumimos? Pense nisso!
Calcular e discutir esses dados são formas de garantir o uso racional da água, possibilitando a redução do seu consumo. Se ficou curioso, uma calculadora disponível no site waterfootprint.org faz o cálculo da quantidade de água que você tem consumido indiretamente.
Fonte: Renato Atanazio - coordenador de Soluções baseadas na Natureza da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza